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Nelson Cadena
Publicado em 2 de janeiro de 2025 às 02:00
Em 04 de janeiro de 1875, um século e meio transcorrido, São Paulo, então com modestos 30.000 habitantes, viu circular um novo jornal diário, progressista, com o título A Provincia de São Paulo; a partir de 01 de janeiro de 1890, denominado de O Estado de São Paulo. A mudança de nome era coerente com a proposta federativa do jornal, arauto na mídia impressa do regime Republicano. Nada mais apropriado de que fortalecer o conceito de Estado.
A Provincia de São Paulo nasceu progressista, tornou-se um jornal conservador no transcurso do tempo, sina de todos os jornais centenários; marcou, contudo, sua trajetória na resistência ao arbítrio das ditaduras Vargas e Militar. Em 1940 a polícia, de o Estado Novo, sequestrou suas instalações, passou a ser administrado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP. Em 1964, rompeu com o regime após a edição do AI2 e em 1968 teve aprendida a edição cujo editorial intitulado “Instituições em frangalhos”, publicado após a instituição do AI5, fazia severas críticas ao presidente Costa e Silva.
A Provincia de São Paulo pertencia a uma sociedade integrada na sua maioria por bacharéis e intelectuais originários de Campinas e outros municípios do Oeste. Tinha vínculos com fazendeiros de café e com a maçonaria, pregava contra os valores aristocráticos e as práticas do regime monárquico. Eram os maiores acionistas deste núcleo Franscisco Rangel Pestana e Américo Basílio de Campos, ambos com bagagem jornalística; o primeiro atuou em jornais do Rio de Janeiro surgidos a partir do Manifesto Republicando de 1870, Américo Basilio foi redator-chefe do Correio Paulistano, o mais importante jornal de São Paulo, doravante concorrente.
No seu editorial de estreia se declarou imparcial e independente, mantra da maioria dos jornais diários que surgiram nos séculos XIX e XX, a despeito de sua bandeira republicana. E engajamento ostensivo. Entre seus colaboradores contou com as penas de Campos Salles_ futuro presidente da República__ Júlio Mesquita, militante republicano, cuja família se tornaria proprietária do jornal e, no fim do século, já ostentando o nome de O Estado de São Paulo, com Euclides da Cunha, convidado por Mesquita.
A estreia do Jornal, em 1875, se deu com uma moderna impressora Alauzet, manual, movida por quatro negros fortes libertos, popularizada no Brasil na década de 1870. Na terrinha, O Horizonte, O Monitor, A Cachoeira e a Tipografia dos Salesianos adquiriram o equipamento, cujo representante em Salvador era Oliveira Mendes, administrador do Correio da Bahia e um dos fundadores do Jornal de Notícias.
Personagem icônico, de carne e osso, na trajetória de o Estadão, foi o francês Bernard Gregoire, ex-jornaleiro do Petit Journal, em Paris e do Diário de Notícias, no Rio, que em janeiro de 1876 promoveu a venda avulsa, montado num pangaré, ostentando no peito uma coleção de medalhas. Chamava a atenção nas ruas, soprando uma corneta. Personagem imortalizado no desenho a bico de pena de J. Wasth Rodrigues, o Ex-Libris do jornal, mais tarde estilizado, ainda hoje compondo o logotipo do jornal.
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras