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Sobre Crônico, Sobre Anacrônico

A dicotomia crônica da polarização nada mais é do que o anacronismo político da falta de diálogo em vista de um consenso social

  • Foto do(a) author(a) Matheus Oliva
  • Matheus Oliva

Publicado em 4 de novembro de 2023 às 14:00

O Tempo… esse devorador de criancinhas. Cronos, Deus do Tempo, matou seu pai Uranus, que profetizou moribundo: “Você me matou pelo trono, um dos seus filhos irá lhe matar, crime gera crime.” Cronos, o Tempo, para não ser morto, devoraria todos os filhos que teve com sua irmã Rhea, Deusa da Terra. Três filhas, inclusive Héstia, a Deusa do Fogo, e dois filhos, inclusive Poseidon, o Deus do Mar. Mãe desesperada, Rhea escondeu e entregou o sexto filho, Zeus, a um casal de camponeses. Zeus cresceu forte e bonito. Rhea o trouxe para o palácio disfarçado de servidor. Cronos gostou do rapaz. Rhea e Zeus prepararam um drinque. Cronos bebeu. Vomitou todos os filhos ainda vivos, Deuses imortais. Gratos, elegeram Zeus líder e batalharam contra o Tempo. Cronos perdeu. Não se sabe o paradeiro dele, desconfia-se que esteja no centro da Terra. Erupções vulcânicas e terremotos seriam expressões de sua ira. Mitologia grega. Talvez a explicação do desígnio da vida. Humanos nascem crianças e o tempo trata de devorá-las, tão natural quanto crônico.

A cronologia humana é tema para muitas revelações ainda. Tanto mais longevos passado e futuro, mais incertos são. Há três certezas hoje. Primeira, o cronômetro de cada ser vivo deixará de contar o tempo em algum momento. Finito. Segunda, a cronologia do universo ainda não é definitivamente explicada, nem por Einstein, nem por Hawkings, nem por ninguém. Infinito. Terceira, não existe, na natureza, nada anacrônico. Tudo tem seu tempo.

O anacrônico é sempre uma obra humana. Rótulos de vieses políticos “direita” ou “esquerda” são exemplos de anacronismo. Concepção de 234 anos. 1789, Assembleia Nacional Francesa, deputados a favor da manutenção do status quo à direita do presidente da Assembleia, deputados a favor de mudanças sociais e políticas, à esquerda. Dessa disposição sucederam mortes e caos. Os radicais da esquerda, liderados pelo tirânico Robespierre, assassinaram rivais e companheiros, confiscaram propriedades privadas, fixaram preços e salários, fecharam igrejas e estabeleceram um Estado de rígido controle social. O “Reino do Terror”, tamanha violência, privação de liberdades e insensatez estabelecidas por uma minoria, durou menos de um ano. Robespierre, após meses de terror, foi decapitado. Delírios despóticos sangrentos. A moderação, ainda na esquerda, se restabeleceu, reabriram igrejas, reabilitaram políticos cassados, anistiaram presos políticos e cidadãos emigrados retornaram. Conseguiram incutir na sociedade o direito universal à educação pública e acabar com privilégios feudais. Porém, a corrupção vicejou, a inflação disparou, a moeda colapsou e a fome se alastrou. No final das contas revolucionárias, não deu nem esquerda, nem direita, deu no irascível militar absolutista, Napoleão Bonaparte, esquerda e direita só existiriam na marcha dos seus soldados. Império efêmero que deixou um legado sustentável com reformas inspiradoras e exemplares no Estado, o código civil, a laicidade, o sistema métrico, a modernização e controle da administração das finanças públicas, o investimento em infraestrutura e… milhões de mortos em guerras com os vizinhos e adjacências. Delírios imperiais sanguinários.

A dicotomia crônica da polarização nada mais é do que o anacronismo político da falta de diálogo em vista de um consenso social. Há 234 anos, o império Otomano ainda existia, a Alemanha não existia, Angola e Brasil eram colônias portuguesas de origem e destino do bizarro tráfego transatlântico escravagista, os EUA estavam em formação e a India era a joia da coroa inglesa. Na geopolítica, tudo já mudou. Mas, Cronos ainda não foi capaz de devorar a teimosia virulenta dos polos ideológicos anacrônicos. Tal qual o panteão grego, o populismo dos extremos é mitológico. Incapazes de racionalizar, creem em mitos e em comedores de criancinhas. Os tempos atuais são muito mais complexos para o maniqueísmo disputar um único poder. O mundo gira no tempo, a história é incerta e problemas crônicos não serão resolvidos com soluções anacrônicas.

Matheus Oliva

Criador da MO - Movimento

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