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A vida se renova todos os dias à revelia desse bando de homem feio e donzelo que acha que controla o mundo

Leia a coluna de Mariana Paiva

  • M
  • Mariana Paiva

Publicado em 2 de fevereiro de 2025 às 08:55

Pensar no futuro dá agonia mesmo. O planeta aí se acabando, os bilionários fazendo galerinha pra destruir tudo mais rápido; qualquer dia desses a gente tá vivendo em Mad Max correndo atrás de água ou de outra coisa. Haja fé pra se segurar apesar das notícias de jornal, pra lembrar de sorrir quando parece que tá tudo ao contrário no mundo. Meu poema preferido começa com os versos "defender a alegria como uma trincheira”, e agora ele parece mais real e necessário do que nunca. Resistir na alegria, esse negócio boca de lascar de difícil. Sem romantizar sofrimento que a gente não é disso, que não é de dar graças por tudo e nem Pollyanna pra ficar feliz de ganhar muleta quando esperava boneca. Aqui não. Mas porque a gente sabe que se tá ruim como tá, muito pior sem alegria. É ela a última instância de tudo que se tem.

Sobre ela tanta gente já escreveu, e também nosso conterrâneo Waly Salomão, dizendo que a alegria dele era “um diamante gerado pela combustão, como rescaldo final de um incêndio". O que sobra depois da devastação toda, ali erguida, teimosa de existir só porque quer. Porque não consegue ser de outro jeito.

Eu sei que as notícias não tão fáceis. O mundo não tá. Vivemos agora um daqueles tempos que vimos nos livros de história da escola, deprimentes, em que o ser humano parece ter falhado completamente. É alto o custo de viver momentos históricos. Se a gente preferia estar vivendo só mais um dia normal da humanidade? Com certeza. E claro que está mais difícil para umas pessoas que para outras, ainda mais se a gente ainda tem casa, se a gente ainda tem o que comer, se a gente ainda tem qualquer coisa. Olhar para o mundo cru, como ele anda, é pura dor. Se deixar a gente esmorece junto. E se a gente tem privilégio, que seja pra usar por quem não tem.

Por isso a tal da chama. Que parece que apaga junto com tudo que é tão dolorido mas se mantém ali, porque é preciso estar de pé quando tudo mudar. Porque muda. Isso os livros de história também nos ensinaram: os movimentos são cíclicos, e passam. Todo mundo que tá aí atravancando o caminho do ser humano passará, e nós passarinharemos, a la Mario Quintana.

A vida se renova todos os dias à revelia desse bando de homem feio e donzelo que acha que controla o mundo. Pegue aí sua fé, seja ela qual for, e pense se ela não te lembra da alegria, e que é exatamente o oposto de se alienar e não querer saber. A gente quer saber sim, com os dois pés no chão dessa crueza toda que anda sendo o mundo, mas não o suficiente para paralisar e deixar de lutar com o que tem. A alegria, esse combustível, essa trincheira, esse diamante que vem de repente mesmo, quando não tem mais nada.

Tudo isso sem falar a palavra verde, começada em E, já tão gasta e clichê. Palavra cansada. Mas apostando na alegria, uma bem raivosa, que se segura mesmo na dor, na vontade de resistir, na gana de pagar pra ver tudo melhor, só de teimosia. Não é alegria bobinha não, de pular amarelinha na rua e ficar com a cara pra cima olhando os fogos do mundo cão estourarem. Essa não interessa. A boa alegria é a outra, com sangue nas ventas, que guarda o melhor riso pro dia de celebrar porque sabe que - inevitavelmente - vai. Porque o dia seguinte sempre vem.

Mariana Paiva é escritora, jornalista, head de DE&I no RS Advogados, colunista do Correio* e idealizadora da consultoria Awá Cultura & Gente