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Kátia Najara
Publicado em 29 de outubro de 2023 às 11:59
Eu venho circulando muito entre o sem-fim de ofertas para se comer nas cidades e o que tem pra hoje de vilas remotas.>
Nas cidades, mais supermercados, bibocas, lanchonetes e restaurantes do que gente. Nos supermercados, um corredor inteiro só de biscoitos, todos transgênicos e à base da mizera do trigo. >
Refrigeradores repletos de iogurtes dulcíssimos, que se reparar direito boa parte na real são "bebidas lácteas". Medo. E por falar em leite, aquelas centenas de caixas de leite aguado e reprocessado que pode esquecer fora da geladeira por dias que não estraga de tanto conservante. Embutidos sebosos, queijos de amido e margarinas bizarras que persistem. >
Penosas travadas de hormônio, carnes tingidas de nitrito, vinhos chapados de sulfito. Tudo veneno.>
Feijões pálidos que não aguentam ficar de molho nem por duas horas que é mesmo para inchar é no bucho da gente. E até os vegetais envenenados, estão cada vez mais ensacados como se não bastasse todo o lixo gerado por tanto industralizado do capeta. >
Os mais abastados terão acesso aos melhores cafés, vinhos, pães de fermentação natural, queijos mineiros premiados, menus e experiências gastronômicas de enlouquecer os sentidos e o juízo com tanta propaganda e concorrência.>
E ainda assim, com tanta oferta, a gente enjoa. De repente é tudo igual, mais do mesmo. Já experimentamos tudo, queremos novidade, queremos mais!>
MAS AFINAL, AONDE ESTÁ A RIQUEZA?>
Enquanto isso aqui na Chapada Diamantina não tem negócio de escolha, mas do que é possível e tem pra hoje.>
Só vai ter algumas frutas em Drica na quinta; se quiser verdura e folhosos, ou você tem um canal com Martin (e seja feliz com o que ele entregar) ou seu Pilac quarta-feira cedo na praça. Ah! E tem Luizinho da motinha, se ele aparecer. >
Se quiser ovo de quintal e quem sabe leite de gado, se jogue sábado 7h logo defronte ao Maria Bonita, primeira parada de Gaúcho, porque quando chegar na praça a oferta já tá reduzida. >
Se quiser pão caseiro se apegue com a fornada matinal de Maiza; se quiser uma focaccia pra variar, encomendar com Mayra e Luquinhas. Se quiser um peixinho, que é raro aqui, é bom ver se Bi saiu pra pescar, porque proteína animal tem, mas nem sempre fresca, e taí a grande oportunidade de evoluir para uma pessoa vegetariana.>
Café bom, vinho, um queijinho marromeno', umas massas e tal, Gera salva. O cuscuz, a tapioca, os mantimentos básicos, beiju, um bolachão e essas coisas, é pesquisar preço entre Drica e Gera. >
Feijão, vamos combinar que só aquele roxinho do Bar de Seu Guina. Tem mel bom lá também. E cana, lógico!>
Eu só sei que tô aqui feliz da vida fazendo tomatinho cereja confitado, salada de batata branca da serra e pesto de rúcula com o que consegui hoje. Tem também manteiga de sálvia, banana do pé pra fazer bolo integral; abóbora da roça pra sopa, chá de tudo, café de Piatã. Comida sã à beça e eu te pergunto: Onde está a riqueza? Porque isso de tanta oferta urbana, na real me empobrece. Real.>
Vou comer vegetariano e delicioso com o muito que consegui dando "graças a Deus enquanto tantos não tem nada" - que nem mainha candinha ensinou.>
Aí mistura com tanta guerra e desgraceira nesse mundo - onde todo mundo é meu vizinho, meu próximo - que eu fico pensando e achando que TEM QUE ser assim, e acho muito certo e lindo e bom "catar e caçar o que comer". >
Amém e fim.>