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Kátia Najara
Publicado em 12 de novembro de 2023 às 07:00
Em muitos países, sobretudo europeus, restaurantes, cozinheiras e cozinheiros, assim como diversas outras categorias autônomas, cultivam o hábito salutar de trabalhar para viver e não o contrário do que praticamos aqui, que é viver para trabalhar.
De restaurantes que só funcionam na alta estação ou em estações alternadas - para que seus donos possam viajar e descansar na outra metade do ano - a cozinheiras e garçonetes livres com o mesmo compromisso com a vida (que é viver), o trabalho e o prazer convivem rentes na balança.
Também as miniférias são recursos de rara sabedoria para prevenirem o cansaço ao invés de curá-lo. Ou seja, a pessoa descansa antes da exaustão e do estresse. Uma escapulida de uma semana que seja a cada três meses, de repente.
Porque veja bem, é muito provável que depois de um ano inteiro de extrema atividade física e mental o corpo como um todo esteja tão exaurido que não haverá ali disposição suficiente para o prazer de viver. Porque para ser feliz é preciso ter energia. E quando a gente subtrai desses poucos dias de férias anuais o desgaste e o tempo consumido pelas questões práticas de uma viagem - como passagens, hospedagem, deslocamentos - pode faltar corpo para subir até o mirante e contemplar a mais deslumbrante das vistas; para a trilha até poços encantados; para a patuscada que só em Cuba; para todos os mercados de comidas malucas na China; para as duas horas de trem pra comer barreado em Morretes; para arrastar as sandálias nos mercados de pulgas de Marrocos ou charpar o coco com a paisagem suíça pela vitrine do trem.
De que adiantará fazer uma selfie na vila ou da sacada do hotel só pra constar quando não se viveu cada experiência guardada para o deleite da alma?
O SISTEMA É BRUTO
O problema é esse modelo cafona e escroto de relação trabalhista, que subordina as necessidades e desejos, já tão desbotados da gente, primeiro aos interesses da empresa, do estado, da clientela, da mídia, e são tantas as camadas que no caminho pifamos e esquecemos de nós, de quem somos, do nosso de-se-jo.
Um modelo que nos prende às prestações da casa própria (fixa) e do carro (fixo), ao trabalho (fixo), ao salário (fixo), às férias (fixas), décimo terceiro, PIS, FGTS. É muita prisão, regra e condicionamento para pouco tesão e questionamento.
Para quem se vê presa nesse modelo e não respira bem (muitos vivem plenos de felicidade) talvez convenha mudar, mover-se, experimentar, arriscar-se, rebelar-se. Em nome da liberdade de apenas ser e viver, antes de colocar o CPF na nota.
É fácil? Não. Dá medo? Dá. Mas credo, que delícia! Faz como?
IDÉIAS PARA VIVER MAIS E TRABALHAR MENOS NA COZINHA
Lembrando que esse chamado é para as inquietas, desobedientes, corajosas e principalmente, de almas livres. São condições sine qua non:
Ser boa, capaz e acreditar no que faz, com aquele bom e velho amor no coração. E mais do que isso: fazer dinheiro, que já estamos numa etapa posterior.
Ser autônoma. Mas autônoma responsável, com seu CNPJ e impostos em dia, e uma bela assessoria contábil. Funcionária padrão só tem férias uma vez por ano, quando não as vende. É fechar a cara para as empresas de outrem e só se relacionar com elas em caráter de prestação de serviços, sem esse papo de vestir camisa (de força) que isso é palhaçada, lobotomia.
Ser muito organizada e planejada, e se não for convém investir em ajuda profissional.
Economizar e investir, com ajuda profissional.
Evitar estruturas muito fixas, endereços fixos, funcionários fixos - mas iguais em modelo de liberdade. Restaurantes podem ser itinerantes, temporários, ambulantes, domésticos, pequeninos, balcões, portinholas. Importante é sentir-se livre para ir e vir, dona de suas escolhas, decisões e própria vida.
No mais, é baixar a porta ao fim da estação e pregar aquele bilhete de milhões:
TÔ DE FÉRIAS, BEIJO!
Kátia Najara é cozinheira e
empreendedora criativa do
@piteu_katianajara