Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Kátia Najara
Publicado em 9 de fevereiro de 2025 às 08:21
Já reparou como a gente vive reclamando do preço das coisas mas sem muito tempo ou interesse para os porquês? E por que é que não trepa no coqueiro? Já tentou? >
Primeiro que são dez a vinte metros de altura sem galhos para apoiar. É necessário técnica, condicionamento físico, e um mínimo de equipamento, tanto para subir quanto para descer, sem falar nos riscos de uma queda, que pode ser fatal.>
E essa é só a primeira etapa, que nem sempre é feita pelo vendedor, o que significa que junto com o coco ele já pagou também por esse serviço que a gente não faz, e pelo>
transporte até o ponto de venda. Além disso, para refrescar a nossa existência nesse calor do cão a gente quer que ele esteja bem geladinho, confere? Para tanto, o vendedor precisou investir num refrigerador e paga, além do ponto, a conta de luz.>
E tem mais. Abrir o coco, tu sabes? Tens facão amolado e traquejo? Não tens. Bebes direto do coco ou precisas de canudo? Porque o seu ecológico nunca te lembras de trazê-lo à bolsa.>
Então pare, pague os cinco conto' e deixe de perturbação.>
Mesma coisa são os peixes e frutos do mar.>
- Mas com essa imensidão de mar, como pode um quilo de peixe a cinquenta reais?>
Bom, depois do singelo exercício do coco acho que já dá para se ter uma idéia de que o buraco do anzol é bem mais embaixo da serena superfície desse mundão azul de meu Deus.>
FAÇA AS CONTAS>
FINITUDE>
O mar é grande mas é finito, assim como a oferta de seus frutos. E por mais gentil que seja a natureza, o que ela oferece nunca é suficiente para a demanda do nosso consumo inconsciente. E quanto mais escasso, você sabe, mais caro, porque o lucro precisa ser garantido a qualquer custo.>
NÃO TEM TECNOLOGIA CERTA>
O serviço de pesca marítima no Brasil ainda é muito artesanal. Requer barco, combustível e tempo (são quilômetros e quilômetros da costa para capturar algumas espécies); instrumentos manuais como as redes, e claro, mão-de-obra. Tudo isso é muito caro.>
A DISTRIBUIÇÃO>
Também o acondicionamento e transporte dos pescados até os pontos de venda engorda a conta. Caixas térmicas, gelo, veículos, combustível e mais mão-de-obra.>
O VENDEDOR E O PRODUTO FINAL>
De maneira que o produto já chega caro no ponto de venda, que talvez seja o ponto da cadeia produtiva onde o preço mais dispara, considerando os custos que contemplam minimamente aluguel, impostos e taxas, água, luz, funcionários e embalagens.>
E se o preço já está impraticável aqui fica mais fácil para entender os praticados pelos restaurantes, concordam?>
POR QUE A POLACA CONGELADA DO GRINGO E NÃO A NOSSA PESCADA BRANCA FRESCA?>
O alto custo dessa extensa cadeia produtiva explica o fato de sair mais barato para uma rede de supermercados, por exemplo, importar polaca do Pacífico processada na>
China (!) ou panga da Ásia, do que comprar a nossa pescada branca fresquinha, nos levando a consumir peixes congelados e duvidosos muito inferiores aos do nosso entorno, que acabam sendo exportados - porque para explorar e exportar há grandes empresas sempre muito bem preparadas e amparadas pelo governo.>
E é por essas e outras que apesar dos nossos 11 mil quilômetros de litoral e centenas de rios e lagos (quase 14% da água doce do mundo) de espantosa biodiversidade aquática e potencial pesqueiro, a gente importe e pague em dólar coisa de 60% dos pescados que a gente consome no país, como é o caso do salmão chileno (porque achamos chique), o bacalhau português (por causa da herança cultural) e os já mencionados duvidosos acima pelo fator preço (e porque a gente prefere filezinho sem espinha congelado e processado na China).>
Não é de lenhar?>
É isso ou lançar a nossa própria jangada ao mar para, se Deus quiser, quando voltar do mar, um peixe bom trazer - ainda que cheio de microplásticos e metais barra pesadíssima.>
[ A FOTO QUE ILUSTRA A COLUNA DE HOJE ME FOI GENTILMENTE CEDIDA POR UMA FOTÓGRAFA ABSURDA QUE TODO MUNDO PRECISA CONHECER CHAMADA @AMANDATROPICANA]>