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Bruno Wendel
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 11:15
Quando alguém ergue os dois dedos, acreditando que está fazendo o símbolo de “paz e amor”, lema dos hippies, a depender onde estiver, o gesto pode ser encarado como o sinal de “2”, condição de pertencimento ao Comando Vermelho (CV). A facção é a segunda maior organização criminosa do país, que, desde 2020, acirra a guerra do tráfico do estado.
Já quem faz pose levantando os três dedos, como os roqueiros de costume, pode ser associado ao Bonde do Maluco (BDM), arquirrival do CV.
Na hora de cortar o cabelo e alinhar a sobrancelha, muita gente desistiu de fazer dois ou três riscos. Até outro dia, isso não era problema. Agora, no mundo do crime, quem adere à moda está se autodeclarando integrante do CV ou do BDM.
Sair com a camisa de um time ou de uma seleção também pode custar a vida. Isso porque os uniformes da Argentina, Israel, França, Colômbia, Jamaica e Portugal têm sido usados em “bondes” (ataques) por homens armados do BDM, enquanto a camisa do Flamengo tem sido vestida por traficantes do CV.
Apesar de a versão de 1928 do rato mais famoso do mundo ter entrado em domínio público em janeiro do passado, o Mickey Mouse já tinha sido “apropriado” pela facção A Tropa.
Apesar de o protagonismo da guerra estar hoje entre o CV e o BDM, outras facções têm suas simbologias. A Katiara, por exemplo, faz o uso do pentagrama em tatuagens para membros. No caso de membros do CV, é comum ver escorpiões tatuados.
“A generalização dessas apropriações simbólicas está impactando de tal forma a vida social de determinadas comunidades que as pessoas estão evitando até mesmo tirar fotos com tipos de imagens que não estão associadas aos grupos criminosos dominantes em determinados locais. Infelizmente, isso denota o fracasso de uma sociedade, fracasso de um Estado que perdeu a capacidade de controlar efetivamente a violência e a criminalidade”, declara o especialista em segurança pública, o coronel Antônio Jorge, professor de Direito da Cento Universitário Estácio Fib da Bahia.