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Flavia Azevedo
Publicado em 26 de março de 2025 às 13:36
Nesta semana, o Esporte Clube Bahia ganhou o campeonato baiano e - enquanto meu filho e meu namorado assistiam à cerimônia de premiação pela tevê – vi que o estádio estava vazio. Sim, porque o campeonato foi decidido com o tal “jogo de volta”, no estádio do Esporte Clube Vitória, adversário do Bahia. Evidentemente, os torcedores dos donos da casa se retiraram de fininho, pra não dar ousadia ao campeão. O que já acho imaturidade, mas isso não é o mais grave, ainda. >
O estádio ficou vazio porque, naquele dia, só torcedores do Vitória tinham autorização para assistir à partida presencialmente. Por sua vez, o “jogo de ida”, na Fonte Nova, só recebeu torcedores do Bahia. É que, como sabemos, há quase dez anos, ficou institucionalizado que homens são estúpidos ao ponto de não conseguirem dividir - com pessoas cuja única divergência posta é torcerem por outro time - espaços de 120.257 metros quadrados (área da Fonte Nova) ou até bem maiores. Caso se encontrem, se esmurram e se matam. Foi assim que nasceu a“torcida única”, em jogos de futebol. Venha cá, Binho: você não tem vergonha não?>
No Brasil, o atestado de estupidez chegou primeiro em São Paulo, quando a “torcida única” foi adotada, em 2016, por causa de brigas envolvendo torcidas organizadas. Na Bahia, foi em 2017 e a medida também ocorre em países como Alemanha e Inglaterra. O que não significa que é “uma medida ótima, de primeiro mundo, estamos avançados”, mas apenas que a estupidez masculina é um fenômeno de amplitude mundial. Pelo menos é essa a minha interpretação do fato que me assusta com profundidade.>
Porque veja, se uma pessoa não tem maturidade para encarar derrotas e vitórias NO FUTEBOL, o que podemos esperar dela? E se MILHÕES de homens não conseguem lidar com derrotas e vitórias NEM NO FUTEBOL, como podem dirigir carros, votar, fazer filhos e até operar cérebros em hospitais? Mais do que isso, como vou conseguir ficar tranquila se posso encontrar qualquer um deles – como advogado ou até juiz - numa audiência judicial? Ou dirigindo um Uber? Ou até pilotando o avião no qual vou viajar? >
“Mas não é todo homem”, você diz. Sim, eu sei. Claro. Conheço alguns bem saudáveis. Mas se uma medida pretende controlar a violência de MILHÕES de representantes de um gênero específico (que é maioria absoluta nos estádios), só com muita dificuldade cognitiva não daria pra concluir que esse defeito é generalizado. Talvez, de fábrica. Não sei e seria até menos da minha conta se, nesses mesmos “dias de jogo”, eles não procurassem ainda mais confusão, com mulheres, em casa.>
Não estou inventando nada. A informação vem de instituições como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Instituto Avon. Pesquisas revelam que há um aumento de 26% nos registros de violência doméstica - incluindo agressões e ameaças contra mulheres - quando tem time de futebol em campo. Nesses dias, lesão corporal e ameaça são as principais notificações e os autores são, em maioria, companheiros ou ex-companheiros das vítimas. Quer dizer, quanto mais examinamos a relação entre homens e esse esporte, pior a coisa fica. Podemos concluir, portanto, que estádios, jogos, times e tudo que compõe esse universo reforça a violência e o lado negativo do pacto masculino. Então, minha última pergunta é: no meio de tanta coisa que já assumimos, vai ser responsabilidade de mulheres também resolver isso ou será que eles conseguem se virar sozinhos?>