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Será que é mesmo, como disse Daniela Mercury, “um absurdo tirarem o Carnaval da Barra”?

A maior festa profana do planeta é mutante e vai se adaptando aos desejos e necessidades do povo, dos artistas, da cidade e também dos patrocinadores, claro

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 13 de fevereiro de 2025 às 13:05

Multidão participa do encerramento do Carnaval na Barra
Multidão no Carnaval da Barra Crédito: Marina Silva/CORREio

Você sabe que, há algum tempo, rola a proposta de se transferir (pelo menos parte das atrações) o circuito Barra/Ondina para outro lugar de Salvador. Pois anda circulando um vídeo no qual Daniela Mercury fala, de forma apaixonada, contra essa intervenção. “Acho um absurdo tirarem o Carnaval da Barra. Se quiserem estender para outro lugar deveriam estender para a avenida mesmo (Sete). Se por acaso não for, deveria ser uma coisa que a própria cidade vá se estendendo e fazendo e criando essa relação de afeto. Você não vai tirar. Vai matar o Carnaval, vai matar a alma da gente”, disse a cantora. Entendo, mas fiquei aqui pensando com meus botões.

Primeiro, o Carnaval de Salvador acontecia, principalmente, nos clubes. Essa era a tradição. Em seguida, quebramos a tradição quando saímos dos clubes e ocupamos o centro da cidade. Em pouco tempo, essa passou a ser a tradição. Anos depois, inauguramos o circuito Barra/Ondina, que hoje já pode ser chamado de tradicional. Todo esse movimento aconteceu nos últimos 70 anos. Ou seja, nada é muito novo, mas também não podemos dizer que é cultura intocável ancestral. A maior festa profana do planeta é mutante e vai se adaptando aos desejos e necessidades do povo, dos artistas, da cidade e também dos patrocinadores, claro.

Nesse percurso, abandonamos as tradicionais mortalhas e “mamães sacodes”. O tradicional lança-perfume caiu na ilegalidade. As tradicionais “arminhas” do bloco As Muquiranas (felizmente!) foram proibidas. Montamos estruturas imensas para camarotes e, entre outras coisas, passamos a atrair uma multidão inacreditável. Além disso, os trios elétricos se multiplicaram, muitos deles ficaram gigantescos. Por tudo isso, estamos em outro ponto de virada e é óbvio que precisamos discutir o Carnaval da Barra.

Precisamente, porque não cabe mais. Quem, como eu, frequenta há décadas, já sabe disso há um tempo, aliás. Não cabe mais gente, não cabem mais os trios que parecem prédios em movimento, não cabem mais os decibéis infinitamente multiplicados em um bairro que, sim, é residencial. No início, não era essa a proposta. O crescimento exponencial já colocou a festa, inclusive, em certa ilegalidade. É que por maiores que sejam os parênteses abertos naqueles dias, por mais que haja flexibilidade, você sabe que a Lei do Silêncio não é suspensa durante o Carnaval. E essa é só uma parte.

Sim, porque há muitos interesses envolvidos em qualquer decisão, campanha ou opinião a respeito da nossa maior festa, nossa mina de ouro, meio de vida de milhares de profissionais. Que – com toda a complexidade - também é das minhas maiores paixões. Amo, adoro, idolatro, não vivo sem. Pra mim, é quase religião. Inclusive pela característica de que nada é "mais do mesmo" no nosso Carnaval. Cada edição é única e irreprodutível. Desde as coisas mais “comerciais” até a energia da multidão, nunca houve repetição e quem é da rua sabe disso. O povo, os artistas, a cidade - e, sim, os patrocinadores- protagonizam e são coadjuvantes, alternadamente, a cada ano, de um negócio totalmente original.

A mesma coisa será com essa decisão que não deve “matar a alma da gente”, como disse Daniela. Pelo contrário, deve nos expandir. Acho que povo vai se enamorar de outro circuito, os artistas vão topar, a cidade vai se abrir para acolher mais esse espaço de Carnaval e os patrocinadores, como sempre, vão atrás. Isso porque também é orgânico e natural que a Barra fique com o que cabe nela e expulse o que transborda e já está pronto pra existir em outro lugar. Aqui, na posição de foliã, estou animada com a possibilidade de um circuito exclusivo para os trios, por exemplo. Na Orla, de preferência, onde há mais espaço, acessos e distância de áreas residenciais. Entre tantas, mais uma possibilidade. Portanto, acalme seu coração, Daniela. Que Carnaval sempre foi fluxo e, conforme você sabe, também é imortal.