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“Podridão cerebral” é o nome técnico da burrice que pegamos nas redes sociais

Enquanto você acompanha cada passo de “influenciadores” e “produtores de conteúdos”, seu cérebro definha por falta de desafios

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 21 de dezembro de 2024 às 08:00

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Qualquer pessoa que tenha a cognição minimamente preservada, já percebeu que o nível das discussões – sobre todos os temas - fica cada vez mais baixo. Isso acontece dos bares ao congresso nacional, passando pelas caixas de comentários que são excelentes amostras dessa degradação.

A predominância dos raciocínios binários, do horror ao contraditório, da agressividade gratuita e do uso de argumentos ad hominen (falácia lógica que consiste em atacar a pessoa que faz um argumento, em vez de discutir o argumento em si) estão aí pra provar a nossa crescente deterioração intelectual, em todas as camadas sociais.

Pois acabei de descobrir que esse tipo de burrice tem nome. Nesta semana, o dicionário Oxford divulgou que a expressão do ano é “brain rot”, que significa “podridão cerebral”, em inglês. Em 2024, foram 130.000 buscas (um aumento de 230%, em relação a 2023) pelo verbete que nomeia o “apodrecimento” mental causado pelo consumo excessivo de conteúdos superficiais. Principalmente, claro, a vida dos outros nas redes sociais.

Isso quer dizer que, enquanto você acompanha cada passo de “influenciadores” e “produtores de conteúdos”, seu cérebro definha por falta de desafios. Também que ficar discutindo se a pessoa tá magra ou gorda, se é feia ou bonita e se ocupar da vida pessoal de desconhecidos lhe torna cada vez mais doente. E essa não é apenas a minha opinião.

Esse termo foi usado pela primeira vez em 1854 por Henry David Thoreau, no livro "Walden". Nele, o autor critica a desvalorização de ideias complexas e usa "brain rot" como uma metáfora, comparando o empobrecimento de cérebros pouco desafiados ao apodrecimento das batatas na Inglaterra.

De acordo com os pesquisadores do Dicionário Oxford, a expressão voltou a ser usada agora, provavelmente, pela preocupação com o impacto psíquico trazido por conteúdos de baixa qualidade online. Negócio tão sério que um órgão de saúde dos Estados Unidos chegou até a publicar orientações para detectar casos de "podridão cerebral".

A “doença” ainda não tem CID, ou seja, não é um diagnóstico médico oficial. Porém, de acordo com especialistas, a quantidade e qualidade prejudiciais de tempo de tela podem levar a uma grande variedade de problemas cognitivos e emocionais. A “síndrome” chamada “podridão cerebral” pode incluir dificuldade de concentração, desorientação, dificuldades na memória e problemas para cuidar de si mesmo. Também mudanças no humor, raciocínio e capacidade de decidir.

Além de todos esses sintomas, transtornos na personalidade e sociabilidade fazem parte. O que, pra mim, arremata a elucidação dos motivos de termos mergulhado nesse pandemônio que virou a convivência em espaços coletivos. Sejam eles presenciais ou virtuais. Tá todo mundo meio “sem noção”, confundindo o que é privado com o que é público, sem limites, sem cerimônia e sem educação.

Enquanto isso, nos EUA, aspiradores de pó automáticos passaram a xingar os donos das casas e perseguir animais de estimação. Eu ri, mas com respeito. Também com a certeza de que esse verão que começa hoje, pra mim, será de desintoxicação. Quem quiser que role o feed. De cá, pretendo continuar dona e proprietária do meu tempo. Sobretudo, sentindo prazeres físicos e capaz de pensar com lucidez. Feliz Natal, amizade. E até a semana que vem.