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Flavia Azevedo
Publicado em 26 de fevereiro de 2025 às 12:37
Pelo visto nas festas do Verão, no Furdunço e nos engarrafamentos que já tomam a cidade, neste ano, todo mundo já chegou pro nosso Carnaval. O que é ótimo e compreensível na maior festa profana do planeta que, ainda por cima, fica cada vez melhor e mais democrática. Mas veja: circular nos principais circuitos abarrotados não é, exatamente, uma missão fácil. A não ser que a sua opção seja assistir da varandinha, passar todos os dias em camarotes ou andar por áreas de menor aglomeração, há um “código de conduta” que pode evitar problemas em diversas situações. >
Esse “código de conduta” é transmitido, de forma oral, há muitas gerações de soteropolitanos. A gente cresce ouvindo o jeito certo de se movimentar no Carnaval. Os mais velhos nos ensinaram que saber direitinho o que vestir, o que comer, o que beber e – principalmente - como se comportar, ajuda a entrar e sair intacto de qualquer multidão. Muito além do “hidrate-se e use roupas confortáveis”, aqui estão dez dicas que compõem o Manual de Ouro do Folião Pipoca de Salvador. Se você é daqui, vai só relembrar. Se não é, se ligue que o Manual pode lhe salvar.>
1. Visita técnica>
Se você não conhece os circuitos da festa, é importante uma visita antes de começar o Carnaval. Saber onde estão os portais de acesso (com revista, tem que saber o que pode e não pode levar), postos da polícia, guarnições de bombeiros e ambulâncias é importante. Entender que há pontos de encontro sinalizados em postes, mapear os banheiros químicos e já marcar um lugar onde você – caso se perca - deve encontrar sua turma, no fim de tudo, garante certa segurança e tranquilidade.>
(ATENÇÃO: se não quer se perder dos amigos de jeito nenhum, vá renovando pontos de encontro conforme avança no percurso.)>
2. Como chegar e ir embora>
O melhor dos mundos é estar hospedado perto de um dos circuitos e poder ir e vir à pé. Se não for o caso, há esquemas de ônibus e metrô sobre os quais você pode se informar. Taxis e carros por aplicativo costumam gostar de levar para a festa, mas ficam escassos na volta porque não suportam transportar pessoas bêbadas e molhadas, muito menos com latas de cerveja nas mãos. Sempre há os mototaxistas para ir e voltar, mas aí é com emoção. Fácil, isso nunca será. Então escolha, previamente, o menor problema, em sua opinião. >
(ATENÇÃO: cuidado multiplicado com sua segurança nas vias de acesso. Convém andar em grupo e estar alerta a qualquer presença estranha ou movimentação.)>
3. Vigie seu humor>
Toda vez, antes de sair de casa, veja se está em um dia bom. Se não for o caso, troque o Carnaval por uma praia. Na rua, você vai encontrar pessoas de todos os tipos e comportamentos, então é preciso “deixar pra lá” se não quer se meter em confusão. Brigas acontecem, mas muitas delas podem ser evitadas respondendo a tudo com sorrisos, fingimento de demência e “sair de fininho”. A dica, então, é a seguinte: só encare a festa se for capaz de não aceitar provocações. >
(ATENÇÃO: estou falando de “provocações” e não de crimes que devem ser denunciados às autoridades. Há postos de polícia espalhados por todo o circuito.)>
4. Como se vestir>
Cada pessoa tem o direito de usar as roupas e adereços que quiser, claro. Porém, na “escola” da qual faço parte, observamos alguns critérios. Evite usar qualquer coisa que possa “enganchar” em outras pessoas (brincos grandes, colares enormes etc), evitar óculos (sou míope e vou de lentes) ou adereços pelos quais alguém possa lhe segurar. Cabelos longos e soltos podem atrapalhar, então é útil levar uma borrachinha pra prender nos momentos em que a densidade populacional aumentar. Outra coisa: tenha, pelo menos, dois sapatos pra ir variando porque, se a maratona for intensa, cada um vai doer em um lugar.>
(ATENÇÃO: usar sandálias não é aconselhável.)>
5. Sobre celulares, dinheiros e afins>
Dificilmente você será assaltado dentro de um dos circuitos, mas os “batedores de carteiras” na versão “ladrões de celulares (e outros pertences)” são abundantes. Então, o papo é reto: doleira (por baixo do short) com celular (se quiser levar), cartão e cópia de documento. À vista, fica a “bolsa do ladrão” com pouco dinheiro e outros objetos aos quais você quer ter sempre acesso e são de baixo valor. Agora, o pulo do gato: dentro do tênis (velho, de nenhuma marca famosa), você guarda uma nota mais alta e sua chave. Isso porque, se der tudo errado, está resolvido como pagar um taxi e voltar pra casa.>
(ATENÇÃO: a cada vez que você expõe o celular, abre a possibilidade de um dos “profissionais do furto” começar a lhe marcar. Então, evite fotografar e trocar mensagens em aglomerações.)>
6. O que e como beber>
Aí é pessoal. Tem muita gente que vai comprando cerveja nos ambulantes por todo o percurso. Às vezes, é essa a minha opção. Em outras, prefiro levar (em uma garrafa térmica ou cantil) a quantidade e qualidade de bebida que vou consumir até a volta pra casa. Assim, tenho controle do meu nível de lucidez (e quantidade de xixi) e, no percurso, compro apenas água. >
(ATENÇÃO: sei que parece contraditório, mas nunca é uma boa escolha ficar completamente embriagado e, portanto, vulnerável no Carnaval.)>
7. O que e como comer>
Forre a barriga antes de sair de casa. Gosto de comer aquele pratão de feijoada, tirar uma soneca e, depois, partir pro ataque. No durante, se for o caso, amendoim, castanha e afins batem um bolão. Leve uns pacotinhos. Quem tem o organismo mais forte pode encarar a comida de rua. Pessoalmente, adoro e nunca tive sequer uma dor de barriga, nem com os “dogões” mais castigados pelo sol. Mas aí é de cada um.>
(ATENÇÃO: as baianas de acarajé não estão dentro das aglomerações, mas – um pouco mais afastadas por causa do azeite quente – continuam sendo excelente opção.)>
8. Xixi >
Muita gente faz na rua, esse é o fato. Mas há banheiros químicos nos circuitos. Caso não lhe atendam, há muitos outros, pagos, nas ruas paralelas e transversais aos circuitos. Também há a possibilidades de usar os dos bares e restaurantes, bastando que, para isso, você consuma algo. Gosto dessas saidinhas para respirar, comer um tira-gosto, beber alguma coisa, lavar o rosto, retocar o batom e recobrar a dignidade.
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(ATENÇÃO: nessa hora, dá pra aproveitar e usar o celular, sem correr perigo.) >
9. Como escolher por onde circular>
Todo mundo sabe que, mesmo sem cordas, cada trio arrasta uma galera diferente e é com essas pessoas que você vai interagir, se for atrás. O público que segue com o Baiana System não é o mesmo de Daniela Mercury, por exemplo. O de Kannário não é igual ao de Bell Marques nem ao de Margareth. Sob pena de parecer preconceituosa, não vou detalhar o tipo de gente que forma o público de cada artista, mas é muito importante (e fácil) se informar sobre isso. Estar inserido no ambiente que lhe deixa confortável ajuda na segurança e aumenta suas possibilidades de matches de Carnaval, se for o caso.>
(ATENÇÃO: se apertar muito, não se desespere. A multidão tem fluxo e ritmo. Apenas se mantenha em pé, solte o corpo e deixe que ela lhe leve.)>
10. No mais, o básico...>
Protetor solar, hidratação constante, nunca deixar sua bebida sozinha (“Boa noite Cinderela” é uma realidade), não levar estranhos pra casa, usar camisinha, estar com a vacinação em dia e – se tiver um parceiro ou parceira – combinar tudo direitinho e cumprir o combinado.
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(ATENÇÃO: se for sair todos os dias, escolha um - pra mim, costuma ser o domingo - pra ficar em casa. É importante, no meio dessa maratona, ter um tempo pra beber mais água, dormir direito e comer saudável. A pausa pode ser o que seu corpo precisa para voltar, na segunda-feira, ainda mais animado.)>