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Cobrar 'responsabilidade emocional' de mulheres é muita cara de pau

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 30 de julho de 2019 às 15:30

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Eu era super responsável. Inclusive, não deixava nada sem ser explicado. Uma ausência, qualquer distância era claramente sinalizada. Se eu desistisse, era educadamente, tudo dito com honestidade. Como podem perceber, cafonérrima, tolinha, profundamente enganada. Explico: é claro que tive lindos romances com ótimos caras. No entanto, na maioria dos passantes, mais do mesmo: o silêncio inusitado, a inconsistência, a disparidade imensa entre o que era dito e os atos. Sim, esperei por telefonemas e coerências que nunca chegaram. Por pouquíssimo tempo porque sempre fui um tipo de mulher selvagem, mas essas experiências - inesquecíveis - também me forjaram. Entendi que devia encarar essa etiqueta deselegante como coisa normal ou ganharia fama de "carente" e "dramática". Coisa que não fui, não sou, nem serei jamais.

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O tempo passa e, quando vi, já estava falando a mesma lingua. Acostumei, amizades. De repente, era eu quem estava cagando para o que sentissem ou pensassem, os caras. Não tô falando de amores (sim, eu creio), continuo no conjunto "pessoal que surge nas entressafras". Para esses, virei um tipo de "cafajesta", sem paciência pra DR, explicações nem muitos cuidados. Foi tanto disso que aprendi, achei prático e passei a aplicar. Bloquear, inclusive, é um recurso massa que eu uso sem dó quando sou, sem estar a fim, procurada. Antes disso, mando mensagens telepáticas, pequenas dicas e, se não entenderem, o problema não é meu. Não mais. Só me relaciono com maiores de idade.

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Todos se recuperam, garanto. Ninguém vai morrer por minha causa. Estou aqui vivinha e esperta depois de digerir vácuos inesperados. Essa é a melhor forma de agir? Não, mas eu nunca disse que sou santa e, pra zerar qualquer peso na consciência, lembro que a minha proposta era bem outra, lá no passado. "Nossa, ela é traumatizada"... sou, nesse caso. Eu e uma penca de mulheres do meu convívio que aprenderam, na porrada, que na pista há pouca ou nenhuma civilidade. É pra se divertir, como der. Sem enredo, sem draminha, sem saudades.

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(Não esqueço do motorista de táxi que me disse, às gargalhadas: "Carnaval é bom pra sair de galera e iludir mulher")

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("Iludir mulher", esse "esporte" contra o qual nunca vi nenhum homem falar nem escrever nem nada)

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Agora tá na moda cobrar "responsabilidade emocional". Beleza, acho massa. Mas, pra mim, chegou tarde. Aprendi a me virar e agora quem não quer sou eu ficar cheia de dedos pra dispensar alguém que perdeu a graça. Depois de cinco mensagens que não respondi, escrevi "velho, tá chato" pra um e foi crise existencial. Dele, que ainda acredita que a própria disponibilidade é suficiente para que a mulher do outro lado deseje. Porque, né, "é difícil achar homem legal". Ah, tá. O outro disse que eu sou mal educada por parar de conversar quando o meu Whatsapp virou consultório psiquiátrico e espaço de autoajuda, tudo junto ao mesmo tempo. Ele dizia que precisava emagrecer, se equilibrar, voltar ao Pilates e eu era o "maior incentivo". Oi? Desculpa, não tenho essa disponibilidade. Sumo, sumi e sumirei quantas vezes forem necessárias. 

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(Sem tempo, irmão, namoral)

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"Nossa, mas e o amor?". Esse é o sentimento mais lindo do mundo e a primeira coisa que traz é reciprocidade. Tudo, naturalmente, se encaixa. Não tem essa de "amar sozinho(a)" a não ser quando uma pessoa desconsidera a outra pessoa e se relaciona apenas com a própria fantasia ou vaidade. Amor é - e sempre foi - outro papo e não rola em cada esquina. Tão especial quanto raro. O que vivemos, na grande maioria das vezes, é puro fogo no rabo. Com as carências controladas, dá pra sacar de cara.

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Fato é que salvo especialíssimos encontros, é cada um por si. Entendi e vivo assim. Ficou raro mulher que não tem planos B, C, D... exatamente como sempre foi no lado masculino do mercado. Tá tudo lindo e não enchemos mais seus sacos, só que tem um detalhe: depois de nos pós-graduarem na matéria, "sejem" machos. Sem mimimi, refletindo e sabendo que, diante das nossas "cafajestices", é melhor que façam mea culpa e fiquem calados. Francamente, rapazes, se enxerguem e assumam que cobrar "responsabilidade emocional" de mulheres é muita cara de pau. Não sejam hipócritas. Nem carentes. Nem dramáticos.

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("Mas nem todo homem"... Claro! Então que se mobilizem e consertem os estragos da tradicional "masculinidade". Esse não é o meu trabalho).