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Casamento não é adoção e marido não é filho

Lembro, sem saudade alguma, do namorado que, sem tirar os olhos da tevê, me estendeu o copo dizendo "falta açúcar" assim, como se fosse minha obrigação adequar o suco ao paladar dele

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 15 de abril de 2025 às 08:00

Casamento
Casamento Crédito: Shutterstock

(Este texto foi originalmente publicado por mim em 2017, aqui no CORREIO. De lá pra cá, você acha que evoluímos?)

Não que eu tenha alguma coisa a ver com a vida de Mozão e Mozinha ou queira me meter no café que Buzunguinha faz pra Buzungão, todo dia de manhã. Cada casal tem seus códigos, hábitos, carinhos, infernos e costumes particulares. Tenho nada com isso não. Mas o que mais se lê nos grupos de mulheres (que abundam nas redes sociais), é "esposa" reclamando que não aguenta mais cuidar de marido como se fosse filho. Isso dito de diversas maneiras. Muitas vezes, em posts anônimos. Outras, explicitamente, com um misto de saco cheio e culpa. Fato é que a figura do "marido meninão" não faz mais sucesso como antigamente. Claro, felizmente.

O mundo mudou e não somos mais obrigadas. Eu mesma, se for pra conviver com um cara que não consiga escolher as próprias roupas, cozinhar a própria comida, lavar os próprios pratos, cuidar dos próprios filhos e limpar a própria casa, sendo um parceiro adulto em todas as questões cotidianas, tô fora. É bem mais lucro ficar sozinha. Porque a outra coisa boa é que não precisamos mais casar e entendemos isso cada vez mais profundamente, todos os dias.

Lembro, sem saudade alguma, do namorado que, sem tirar os olhos da tevê, me estendeu o copo dizendo "falta açúcar" assim, como se fosse minha obrigação adequar o suco ao paladar dele. Se ele mesmo não tomasse uma atitude, estaria mumificado, naquela posição, até hoje. Eu só olhei, nem precisei dizer nada. Recado dado e entendido. É que o rapaz chegou (e foi dispensado) na minha vida depois que descobri que não vim ao mundo para ser mãe de quem devia ser parceiro.

Antes, no entanto, lavei umas cuecas. Já achei que fosse minha obrigação. Mais do que isso, escolhi roupas para homens que se diziam incapazes de decidir o que vestir. Fiz faxinas em casas de namorados porque "homem não sabe limpar casa" e aceitei roupas sujas jogadas pela sala que eu havia acabado de arrumar porque "homem é assim". O ponto alto dessa fase louca, foi ser aconselhada a aceitar comportamentos estranhos do pai do meu filho, quando nosso bebê nasceu. Segundo a pessoa que me aconselhou, ele devia estar com ciúmes, incomodado com o fato de ter que dividir atenção com o filho dele! E eu, em plena depressão pós parto, exausta dos cuidados com um recém nascido, é que deveria compreender. Ah, tá. Porém, não compreendi de forma alguma. Pelo contrário, me separei.

Já me perdoei pelo tempo investido em relações que não se parecem em nada com a parceria que eu mereço. Não faço questão de dividir minha vida com quem se aproveita de mim. Ou com quem é babaca ao ponto de, depois de adulto, não conseguir reverter hábitos da família de origem. Foi educado assim? Cure-se. Reeduque-se. Reaja. Sempre é tempo. Eu nunca tinha feito uma faxina até decidir ir morar sozinha, aprendi a cozinhar pesquisando em sites de culinária e sei como cuidar do meu filho porque leio, me informo e procuro saber. Compreender, aceitar, cuidar, acolher, perdoar são verbos lindos, cheios de poesia e necessários à boa convivência entre humanos. Mas não são exclusivamente femininos. Gostosa é a troca. Homens não são naturalmente infantis até a morte, mas ainda são condicionados a viver assim. Mulheres não são geneticamente subservientes ou programadas para cuidar dos outros. Nem maduras por natureza. Vamos colocar os pingos nos is: casamento não é adoção e marido não é filho. Não mais. Por mais que ainda, muitas vezes, pareça ser assim.