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Flavio Oliveira
Flavio Oliveira
Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 16:00
Em um país onde o direito de viver é constantemente desrespeitado, parece um despropósito falar no direito de escolher morrer. Mas o fato é que a sociedade brasileira precisa, no mínimo, começar a debater a legalização da eutanásia. Outros países já iniciaram e estão bem adiantados na discussão, seja para legalizar a prática ou para mantê-la criminalizada. A possibilidade de morte assistida (quando os médicos deixam propositalmente de reanimar/ prolongar artificialmente a vida do paciente, ou o sedam até a morte ou, ainda, entregam os medicamentos para o próprio paciente se sedar) se soma a outros temas que urgentemente necessitam de uma nova perspectiva para enfim ser solucionados, como o fim da política de guerra às drogas, aborto, jornada de trabalho de 44 horas/semanais.
* Alerta: se está passando por problemas, procure ajuda especializada, a exemplo do Centro de Valorização da Vida (CVV) por e-mail, pelo chat no site ou pelo tel. 188.
Se no Brasil o tema segue como tabu, a eutanásia já foi legalizada na Bélgica, Canadá, Colômbia, Equador, Espanha, Holanda, Luxemburgo, Nova Zelândia e Suíça. Alguns estados dos EUA também já permitem a prática, incluindo Califórnia, Montana, Oregon, Vermont e Washington.
Nessa semana, o tema ganhou novos contornos e voltou a pautar a mídia europeia. Na Holanda, o ex-primeiro ministro Dries van Agt e sua esposa Eugenie Krekelberg morreram por eutanásia. Ambos tinham 93 anos. A eutanásia dupla ou de casais foi legalizada no país em 2022, 20 anos depois da eutanásia individual. É pouco comum, mas tem crescido. O político e a esposa vinham apresentando saúde frágil.
De acordo com dados mais recentes dos Comitês Regionais de Revisão da Eutanásia da Holanda, citados pelo The Washington Post, ao menos 29 casais morreram juntos por meio de eutanásia dupla em 2022. No primeiro ano de legalização, 13 casais se submeteram à morte assistida. Em 20 anos de legalização, um total de 8.720 pacientes tiverem uma morte assistida.
Nem todos os países que descriminalizaram a prática seguem as mesmas regras. Em comum, exigem, além do desejo expresso pelo paciente, a comprovação médica de que ele tem uma doença incurável passa por grande sofrimento.
A Suíça, por exemplo, só permite a morte assistida para seus cidadãos. A ideia é evitar uma espécie de turismo da morte provocado por aqueles que procurariam o país para passar pela eutanásia. Suíço de nascimento, o cineasta Jean-Luc Godard tinha 91 anos quando se submeteu ao procedimento em setembro de 2022. "Ele não estava doente, apenas esgotado", disse a família ao jornal Libération. O relatório médico do suicídio assistido comprovava que o diretor tinha múltiplas patologias incapacitantes. Fiel ao seu gênio e gosto pela polêmica, Godard não deixou carta ou algo parecido, só um vídeo com menos de um minuto no qual olha para a câmera enquanto fuma um charuto.
Outro gigante do cinema, o galã Alain Delon, francês que se naturalizou suíço, já declarou que também vai passar por uma eutanásia. "Tomei minha decisão faz tempo, acredito que minha vida foi bela, mas também difícil", escreveu ele em uma rede social. Delon, 89 anos, foi vítima de um AVC duplo em 2019 e enfrenta uma recuperação lenta. Um dos rostos masculinos mais belos das telas, Delon anda de muletas e mesmo antes do derrame tinha dito que envelhecer “é uma merda”.
No Brasil, Caetano Veloso, 81, não tem medo da velhice e cantou que com fé em Deus não vai morrer tão cedo. O país envelhece rapidamente, e, ao contrário do artista que neste verão se permitiu tirar férias radicais, a grande maioria não se prepara para enfrentar os desafios do envelhecimento. E vive longos anos se submetendo ao sedentarismo, alimentação inadequada, diferentes tipos de exploração e de trabalhos extenuantes.
A proporção de idosos com 65 anos ou mais atingiu o recorde de 10,9%, enquanto a de crianças e jovens até 14 anos caiu para 19,8%. Os números são do Censo 2022. Uma população mais idosa exige dos governos mais investimentos em saúde e políticas que garantam longevidade produtiva e de qualidade de vida aos viventes. E é preciso admitir que há pessoas que, ao contrário do baiano, não encontram razões para prolongar a vida, por melhor que sejam suas condições econômicas e intelectuais.
A questão da eutanásia é política, moral e psicologicamente controversa. Mas não pode ser mais um tabu. Não mais. Quem sabe, discutindo o direito de morrer, o Brasil lance um olhar renovado que valorize a vida e reconheça o direito de viver, combatendo, enfim, mazelas como violência, fome e respeito às diferenças.
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