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Será que os 'desertos de notícias' impactam a política na Bahia?

Pesquisa Quaest mostra que 40% dos entrevistados disseram não ter acesso a informações sobre o governo Jerônimo

  • Foto do(a) author(a) Rodrigo Daniel Silva
  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 1 de março de 2025 às 05:00

Pesquisa Quaest mostra que 40% dos entrevistados disseram não ter acesso a informações sobre o governo Jerônimo
Pesquisa Quaest mostra que 40% dos entrevistados disseram não ter acesso a informações sobre o governo Jerônimo Crédito: Shutterstock

Amigos, a pesquisa divulgada nesta semana pelo instituto Quaest, a qual apontou que a popularidade de Lula desabou na Bahia, causou um verdadeiro alvoroço no cenário político baiano. Afinal, quem poderia imaginar que o presidente da República, que conquistou mais de 70% dos votos válidos no estado em 2022, veria sua avaliação positiva despencar quase 20 pontos em apenas dois meses? Nem o mais fervoroso antilulista esperaria uma queda tão brusca. Outro dado surpreendente do levantamento foi o fato de a aprovação do governador Jerônimo Rodrigues superar a de Lula.

Mas o que mais me chamou atenção nessa pesquisa da Quaest - hoje um dos institutos de maior credibilidade do país - foi o número de eleitores baianos que afirmaram não ter visto notícias sobre o governo Jerônimo Rodrigues. Segundo o levantamento, 40% dos entrevistados disseram não ter acesso a informações, sejam elas positivas ou negativas. Meu Deus, o que essas pessoas estão consumindo jornalisticamente? Será que nós, jornalistas, não estamos conseguindo informar os eleitores sobre as ações do governo petista, sejam elas boas ou ruins? Ou será que parte da população está simplesmente alheia ao noticiário?

Em outubro do ano passado, a repórter do CORREIO, Fernanda Santana, relatou as dificuldades que os moradores de Caculé, no sudoeste da Bahia, enfrentam para obter informações locais de qualidade. Uma pesquisa do Atlas da Notícia, citada na reportagem, revelou que 175 municípios baianos são considerados “desertos de notícias” — regiões onde o jornalismo local praticamente inexiste, e a informação chega apenas por meio de canais de televisão de grandes centros urbanos ou emissoras de rádio distantes. Hoje, a Bahia é o segundo maior “deserto noticioso” do Brasil, que soma impressionantes 2.706 municípios nessa condição.

“A falta de veículos locais vai ter um impacto direto na vida política e nas escolhas eleitorais. A falta de embasamento sobre o noticiário local diminui a capacidade de fiscalizar o poder público e, assim, cobrar”, alertou o historiador Marcos Batista.

Um estudo de 2020, conduzido pelo cientista político Lucas Gelape, apontou que nos municípios onde há “desertos de notícia”, a taxa de reeleição de vereadores é significativamente maior. Isso ocorre porque, com menos informações disponíveis sobre seus mandatos, os políticos ficam menos expostos à avaliação pública, aumentando suas chances de permanecer no cargo. “A ausência de veículos locais pode diminuir o engajamento dos cidadãos com a política, bem como afetar o exercício do controle social pelos eleitores”, observou Gelape

Outra pesquisa, realizada nos Estados Unidos por três estudiosos, entre eles Jonas Heese, da Harvard Business School, trouxe conclusões igualmente preocupantes. O estudo revelou que, em regiões onde jornais locais foram fechados, houve um aumento na violação de leis por parte das empresas. “Estes resultados fornecem provas de que os jornais locais são um importante monitor da má conduta das empresas”, escreveram os autores da análise.

Além do problema dos “desertos de notícias”, me pergunto até que ponto nós, jornalistas, temos contribuído para que o cidadão avalie melhor seus líderes políticos. Na “Era do caça clique” e do domínio do Google, que decide o que será amplamente acessado ou não, as informações de interesse do público têm se sobreposto às de interesse público. E isso me assusta. Receio pelo dia em que o jornalismo seja substituído por influenciadores sem qualquer compromisso com uma visão crítica política, social e ética.

Se queremos uma democracia robusta, como deseja a maioria dos brasileiros, é fundamental que os cidadãos tenham acesso a informações de qualidade sobre o que realmente impactam suas vidas. Esse é o grande desafio do jornalismo na atualidade: oferecer conteúdo relevante e confiável em meio às mudanças da sociedade digital. Caso contrário, corremos o risco de ver nossa profissão definhar - e, com ela, o próprio regime democrático.