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Por que a morte de Pedro Henrique, 14, não deve ser esquecida

Jovem era vítima de bullying e seu caso mostra que as escolas não acolhem a diversidade e reproduzem desigualdades

  • Foto do(a) author(a) Flavio Oliveira
  • Flavio Oliveira

Publicado em 31 de agosto de 2024 às 16:00

Colegas bolsistas do jovem realizaram protesto para pedir maior suporte psicológico Crédito: Reprodução

A morte de Pedro Henrique Oliveira dos Santos, de 14 anos, não deve ser esquecida. O suicídio do jovem se impõe aos brasileiros como um novo enigma da Esfinge que há muito tempo vem devorando o que nos resta de humanidade. E o papel da escola é fundamental para esse debate.

Pedro tirou a própria vida no último dia 13, mas o episódio só ganhou os holofotes nessa semana, quando a revisa Piauí revelou que, ao contrário de muitas vítimas de bullying, ele não sofreu calado, reportando as humilhações que sofria ao colégio e à instituição que bancava sua bolsa de estudos.

O estudante tinha três características que o definia, mas também o marginalizava, expondo-o a chacotas dos colegas. Era negro, pobre e gay assumido. Ainda assim, nunca se colocou como vítima. Forte e resiliente, passou por uma rigorosa seleção em seis etapas para ganhar uma das bolsas do Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart). O instituto foi fundado em 1999 por Marcel Telles, um dos homens mais ricos do Brasil, sócio da 3G Capital, controladora de empresas como a Ambev. Um de seus programas concede bolsas para alunos pobres estudarem em colégios particulares nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Aprovado, Pedro foi matriculado no Colégio Bandeirantes, que tem mensalidade de R$ 4,6 mil. A parceria com essa escola é a mais antiga do Ismart. Pedro Henrique teve dificuldade de se relacionar com os novos colegas, e andava apenas com outros bolsistas, especialmente meninas. Aos mais próximos, se queixava de bullying por ser gay. Segundo seu irmão – ex-bolsista –, a família comunicou o problema para as direções do Bandeirantes e do instituto. O colégio teria punido um aluno e o Ismart oferecido consultas com psicólogos. Mas o cotidiano de perseguições continuou. Dias antes de morrer, ele relatou à mãe que foi humilhado perante toda a turma, e que se trancou no banheiro e chorou por 50 minutos.

No dia seguinte ao suicídio, os bolsistas do Bandeirantes fizeram um protesto para exigir um posicionamento da escola e maior suporte psicológico. A resposta do colégio se deu de duas formas. Afirmou que a escola estava consternada e dava apoio à família de Pedro Henrique. A família rebateu, dizendo que a única coisa que recebeu do Bandeirantes foi uma coroa de flores no dia do sepultamento.

A segunda foi anunciar que o colégio vai rever sua política de bolsas. Um de seus quadros, Mauro Salles Aguiar, ex-diretor da escola e assessor do núcleo de estratégia, criticou a “agressividade” dos bolsistas durante o protesto, “em um nível espantoso”, disse que escola não é consultório de psicologia e ligou a reação dos alunos a "essa sociedade de direitos"

Ainda segundo informações da revista, em 2015, o Bandeirantes enfrentou problemas com o vazamento de documentos com observações grosseiras de alguns professores sobre seus alunos. “Tem olheiras, boca de ódio, tem cara de criança de filme de suspense”, e “aluna perdeu a mãe em junho de 2007. É filha adotiva, mas acho que não sabe disso” estavam entre elas. Em 2018, dois alunos do ensino médio cometeram suicídio em um intervalo de dez dias. Eles não eram bolsistas nem se conheciam. Em resposta a esses acontecimentos, o colégio puniu o aluno que vazou os documentos e criou uma disciplina chamada Convivência Positiva.

Não faltam teorias para tentar explicar por que estamos cada vez mais violentos. Perdoem-me se pareço presunçoso, mas também tenho a minha. Pioramos muito desde que a elite e a classe média desistiram da escola pública. Não era perfeita, mas a escola pública brasileira já foi um local de encontro de pessoas diferentes, por sua origem, religião, raça e posses, o que fortalecia o tecido social que nos envolve. Ao perdermos esse espaço, perdemos também laços que nos uniam, e, isolados, passamos a enxergar no outro apenas o que nos diferencia, vendo nessas diferenças ameaças a nossas vidas e patrimônio. E a tendência é piorar, com a troca do espaço público por shoppings, clubes, condomínios e bolhas nas redes sociais.

A escola é um lugar fantástico se instiga curiosidades e forma questionadores. São as perguntas que movem o mundo. A escola deve se questionar – e à sociedade -, o que e como fazer para voltar a ser um ponto de encontro, de ser espaço para reconhecimento e aceitação de diferenças, e de promoção da diversidade e igualdade. Aí é questão de tempo para vermos no diferente um igual, tão merecedor de respeito, dignidade e direito quanto nós mesmos.

Antes de terminar: se estiver passando por dificuldades que parecem não ter solução, procure ajuda. Organizações como o Centro de Valorização à Vida (CVV, tel 188) podem ser o suporte que precisa.

EUA sinalizam corte de juro; movimento favorece o Brasil

Setembro começa com uma certeza que não existia em agosto. Embora isso não seja capaz de diminuir expectativas dos mercados financeiros globais. A certeza (praticamente uma certeza), é que o Fed (Federal Reserve, o equivalente ao Banco Central brasileiro) vai iniciar o corte de juros dos Estados Unidos. A expectativa se dá em relação ao tamanho do corte. Até o discurso de Jeromy Powell, presidente do Fed, feito no dia 23 a dúvida era se quando o corte começaria, na sua fala, Powell deu todos os sinais, de que o alívio monetário começa mesmo neste mês.

“Chegou a hora de ajustar a política. A direção a seguir é clara, e o momento e o ritmo dos cortes de juros dependerão dos dados que estão por vir, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos”, afirmou.

Esse movimento pode favorecer o Brasil. Por aqui, o Ministério da Fazenda acredita que a redução das taxas americanas vai atrair mais recursos estrangeiros ao país, ajudando a valorizar o real frente ao dólar e, assim, impedir uma alta inflacionária.

Nos últimos dias, a bolsa brasileira tem apresentado resultados positivos e recordes sucessivos de valorização de papéis. Ainda assim, para o investidor estrangeiro, as ações negociadas na B3 ainda estão baratas. E é uma máxima nessa atividade, a ideia de comprar na baixa e vender na alta.

O comportamento da bolsa, segundo analistas, se deve, justamente, ao dinheiro que vem além da fronteira. Com a taxa Selic (nossos juros) a 10,25%, os investidores brasileiros têm preferido alocar seus recursos na renda fixa. É mais seguro e a rentabilidade está alta. Segundo analistas, o cenário de juros interno altos deve perdurar até o início de 2025. Alguns bancos já projetam um cenário de aumento da Selic até dezembro.

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