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Inteligência artificial a serviço da maldade

Tecnologia tem sido apropriada por criminosos em golpes que recriam imagem e voz de famosos; veja como evitar

  • Foto do(a) author(a) Flavio Oliveira
  • Flavio Oliveira

Publicado em 25 de maio de 2024 às 16:00

Scarlett Johansson, a Viúva Negra nos filmes da Marvel, acusa empresa de IA de ‘roubar’ sua voz Crédito: shutterstock

Viúva Negra nos cinemas, Scarlett Johansson bateu de frente com a cada vez mais poderosa e onipresente OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT e que está na vanguarda da tecnologia de Inteligência Artificial (IA). A organização teria recriado - sem a devida autorização - a voz da atriz como uma das opções de áudio no famoso aplicativo. Isso depois de uma tentativa de acordo comercial entre as duas partes.

Em entrevistas, Scarlett declarou que ficou chocada ao ouvir uma voz tão parecida com a sua ao ponto de que “meus amigos mais próximos e veículos de notícia não encontraram nenhuma diferença”. A empresa disse que a voz era de outra atriz. O uso de voz e imagens de famosos sem autorização é terreno minado nos Estados Unidos. Em 2023, atores e roteiristas fizeram a maior greve da história de Hollywood tendo como pauta a restrição de IAs em filmes e séries. Isso porque, como o Brasil viu em recente comercial que "ressuscitou" a cantora Elis Regina, essas ferramentas podem escrever roteiros e criar (recriar e ressuscitar) pessoas baseadas em atores reais, que ficariam desempregados.

A coisa é diferente quando famosos não são envolvidos e por trás de uma IA existe um cérebro voltado para o mal, com o objetivo de enganar pessoas e aferir lucros econômicos e políticos. O número de golpes usando IA cresce. Só no Rio de Janeiro, segundo dados publicados por O Globo na terça (21), o número de estelionatos em ambiente virtual saltou de 201 para 11.485 em 9 anos. A alta é, segundo o governo carioca, fruto da tecnologia.

Na maioria das vezes, os golpistas têm recorrido às deep fakes, que são simulações da realidade por meio de uso de vídeos e sons criados digitalmente, elevando uma fake news à enésima potência. Entre essas simulações está o uso fraudulento de imagem e voz de famosos. Até o médico Drauzio Varella já foi vítima. Em dezembro, viralizou um vídeo em que ele vende um suposto remédio.

A voz é idêntica, mas em vários momentos a boca de Drauzio não é vista. Já um indicativo que se tratava de uma montagem. Ainda assim, ele se viu obrigado a vir a público dizer que o Drauzio do vídeo não era ele. Ninguém sabe quantas pessoas perderam dinheiro no intervalo entre a viralização do vídeo e o pronunciamento. Nem quantas pessoas ainda estão sendo expostas à fraude. Deep fake como são cada vez mais comuns, inclusive tendo a tragédia do Rio Grande do Sul como pano de fundo. E estão entre as maiores preocupação da Justiça em relação às eleições de outubro.

O movimento da boca (ou falta de) é um indicativo de que um vídeo pode ser falso. Há outros. Ao se deparar com um vídeo de conteúdo duvidoso, verifique a movimentação do corpo, de olhos e sobrancelhas (além da boca); assista em diferentes velocidades para identificar falhas. Ao receber a ligação de uma central telefônica (especialmente de bancos), não atenda ou desligue antes de falar e, em seguida, entre em contato com os canais de comunicação oficiais dessas instituições (expostos no site e no verso do cartão de crédito ou débito).

Para evitar ter a voz ou imagem “roubadas”, a orientação é bloquear ou restringir acesso a dados pessoais e fotos, bloquear ligações de números desconhecidos- se atender, não falar para não gravarem sua voz - e registrar boletim de ocorrência caso descubra ter sido vítima.

Enquanto a discussão segue travada no Brasil, a União Europeia aprovou, na terça (21), um conjunto de regras para o uso da IA. Um dos focos da legislação é evitar notícias falsas e proteger direitos autorais. Há, também, obrigações de transparência e limtes ao uso da tecnologia para vigiar cidadãos. Que o resto do mundo siga o exemplo.

Mais de 12 mil meninas entre 8 e 14 anos foram mães no Brasil em 2023

Número de casos gera questionamento sobre acesso a aborto legal Crédito: shutterstock

A violência sexual contra meninas e os obstáculos ao aborto legal levaram o Brasil a ser sabatinado pelo Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW). Segundo dados do próprio governo brasileiro, Mais de 12,5 mil meninas entre 8 e 14 anos foram mães em 2023, conforme revelação do jornalista Jamil Chade do Uol. Apesar de o aborto ser permitido em casos de estupro pela lei brasileira, o acesso ao direito – gratuito pelo SUS - não tem sido garantido, afetando principalmente as mulheres com baixa renda segundo documentos de entidades da sociedade civil que fizeram a denúncia ao comitê. Os dados do governo federal revelam que houve uma queda substancial no número de crianças que se tornaram mães no Brasil na última década. Em 2014, foram 24,2 mil partos entre meninas de 8 a 14 anos de idade — número que caiu quase pela metade no ano passado. A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, explicou que o governo está "trabalhando para assegurar às mulheres o direito à saúde reprodutiva". Mas admitiu que "esse é um tema que retrocedeu nos últimos dez anos". "E eu estou falando do aborto que é previsto na lei, ainda de 1940. Temos grandes dificuldades", lamentou.

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