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Elas conseguiram vencer a luta por justiça no Brasil

As histórias da advogada que inocentou a mãe, da mulher que localizou o assassino da filha, e da policial que prendeu o homem que matou seu pai

  • Foto do(a) author(a) Flavio Oliveira
  • Flavio Oliveira

Publicado em 12 de outubro de 2024 às 16:00

No Instagram, Camila disse que cumpriu a missão de inocentar a mãe Crédito: Reprodução / Instagram

A dor irreparável da perda de um pai, de uma filha e de testemunhar a mãe ser vítima de uma grande arbitrariedade se transformou em combustível de vida para três mulheres. Elas foram capazes de transformaram a luta por justiça em razão para existir. Duas dessas histórias dignas de filmes, aconteceram na Bahia. A terceira, em Roraima.

A primeira começa em 2021, em Valença, a no sul baiano, quando Rosália Pita foi acusada de ter assassinado seu namorado. Ela sempre negou o crime. Não chegou a ser presa, mas viveu encarcerada pela depressão.

Tudo isso muda a partir de agora. O Tribunal do Júri se debruçou sobre o caso e decretou que Rosália é inocente. Entre os advogados da banca de defesa estava Camila Pita, sua filha. “O processo demorou tempo suficiente para eu sair da escola, entrar na faculdade e me formar. Foi o meu oitavo júri”, disse a advogada ao jornal O Globo na reportagem publicada no último dia 5.

Camila tinha 14 anos quando o namorado de Rosália morreu. Ela contou que resolveu estudar Direito ao ver a mãe envolvida em um processo criminal, e os efeitos que isso trouxe para a vida da família. A acusação do Ministério Público dizia que o suposto assassinato teria sido cometido porque Rosália não aceitava o fim do relacionamento.

A defesa levou para os jurados que não havia condições de Rosália efetuar o tiro de cima para baixo na cabeça da vítima – conforme relatado no exame de balística - em razão da diferença de altura entre os dois (ela era bem mais baixa do que ele). Outro ponto que fortaleceu a tese da defesa foi a evidência de que não havia pólvora nas mãos da acusada, um indicativo que a ré não efetuou qualquer disparo de arma de fogo. A tese da defesa é que o homem cometeu suicídio.

Após o resultado, Camila Pita publicou no Instagram em uma foto em que aparece abraçada à mãe: "Nesse abraço moram tantas emoções, tantas pessoas, tanta dedicação, tanto amor (...) Para uma grande injustiça, uma grande defesa. Minha principal missão foi cumprida. Que venham as outras".

Gislayne observa assassino do pai na delegacia Crédito: Reprodução

Gislayne Silva de Deus, 36, esperou 25 anos para ter a satisfação de ver o assassino do pai, Givaldo José Vicente de Deus, finalmente ser preso. Inclusive, foi ela quem deu a voz de prisão a Raimundo Alves Gomes, hoje com 60 anos. “Lavei a alma”, falou ela após a prisão.

O crime aconteceu dentro de um bar de Boa Vista (RR) em fevereiro de 1999. Após uma discussão, Raimundo saiu do recinto dizendo que iria voltar e matar Givaldo, de quem cobrava uma dívida de R$ 150.

Givaldo morreu com 36 anos, a idade atual de Gislayne. Na época, ela tinha apenas 9. Tempos depois, ela passou no concurso para a polícia e, ao final do curso de formação, pediu para ser lotada na Delegacia de Homicídios, onde atua como escrivã. Seu objeto sempre foi o de ajudar na localização de Raimundo.

O homicida tinha paradeiro desconhecido desde a data do crime. Mesmo estando foragido, foi condenado, em 2013, a 12 anos de reclusão em regime inicial fechado. Em 2014, a defesa de Raimundo entrou com recurso contra a condenação, alegando que o disparo foi acidental. O pedido foi negado.

Apesar do crime ter ocorrido em 1999, e da condenação em 2013, o primeiro mandado de prisão contra Raimundo saiu apenas em 2016. Um segundo mandado de prisão foi assinado em 2019. Em 2022, o assassino foi localizado por um tio de Gislayne em Boa Vista. Ela ainda não era policial e ele fugiu de novo.

Novas investigações levaram a polícia ao encontro do criminoso, preso em 25 de setembro. "A prisão dele representa não apenas a reparação de uma injustiça, mas também o poder da perseverança em nome da justiça", declarou Gislayne.

Lucinha Mota fez uma investigação paralela sobre morte da filha Crédito: Acervo pessoal

A trajetória de Gislayne guarda alguma similaridade com a de Lucinha Mota, moradora de Juazeiro, no norte da Bahia. Ela - mãe da menina Beatriz Angélica Mota Ferreira da Silva, assassinada aos 7 anos durante uma festa no interior de uma escola em Petrolina (PE) - fez curso online para detetive particular para ajudar a elucidar o crime ocorrido em dezembro de 2015.

No caminho, enfrentou depressão, descrédito e uma investigação oficial montada, acusa, para preservar a imagem do colégio onde o crime foi praticado.

“Abandonei minha vida, abandonei meu trabalho: me dediquei 100% ao inquérito durante sete anos”, escreveu ao portal UOL, em um texto em que conta a sua história. “Em uma das idas ao hospital, percebi que só tinha duas alternativas: ou eu tirava a minha vida de uma vez por todas e acabava com aquela dor que estava me dilacerando ou lutaria para dar justiça a Beatriz. Naquele momento, entendi que precisava viver para isso”, continuou.

No seu caminho, Lucinha conheceu Freddy Ponce, que é investigador de homicídios em Miami, nos Estados Unidos e lhe prometeu transformá-la em uma investigadora criminal. O americano traçou um perfil que indicava que o assassino era um criminoso sexual que tinha como vítimas crianças e não seria, portanto, um assassino eventual.

Em seu inquérito paralelo, a mãe de Beatriz descobriu que que o chefe do departamento da Polícia Científica de Pernambuco trabalhava para o colégio. A tese apresentada pela delegacia logo após o crime defendia que o assassinato ocorreu fora da escola.

Depois de muita pressão, Lucinha conseguiu que o governo de Pernambuco finalmente colocasse o DNA do assassino (recolhido da arma do crime) no Banco Nacional de Perfis Genéticos. E foi assim que o verdadeiro assassino de sua filha foi identificado. Ele, que chegou a confessar o crime antes de dizer que foi pressionado para tal, já cumpre pena por estupro contra uma criança, uma menina de oito anos, que aconteceu um ano depois da morte da Beatriz.

“Conseguimos finalizar uma etapa, que é o inquérito. Em relação a isso, consegui justiça. A gente chegou à autoria, chegou à motivação. Mas isso só terá fim no dia em que o assassino for julgado e condenado, no dia em que eu sair do júri com a sentença dele. Só assim a Beatriz vai ter a justiça que ela tanto merece", anotou.

Com agências

Meme da semana

null Crédito: Reprodução / internet

Imagine como seria o movimento de mensagens no grupo de zap dos gênios da humanidade tentando decifrar este momento tão propício ao sucesso de picaretas. Será que as vítimas ficaram mais burras para cair em qualquer lábia, ou foram os falsários que aperfeiçoaram sua linguagem?

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