Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Flavio Oliveira
Publicado em 10 de agosto de 2024 às 16:00
As duas maiores facções criminosas do país estão nas cordas e é questão de tempo para que alguns de seus maiores segredos sejam revelados às autoridades brasileiras. Pelo menos, essa é a perspectiva desenhada desde a prisão do italiano Vincenzo Pasquino em João Pessoa (PB) em maio de 2021 e que está cada vez mais próxima de se concretizar. Nos próximos dias, um grupo criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) vai viajar para a Itália e colher documentos relacionados à confissão do italiano. >
Este novo round do combate ao PCC e ao CV tem tanto pontos a serem comemorados, quanto de preocupação, pois o desenrolar da história tem o poder de aumentar a violência da sangrenta disputa entre os dois grupos criminosos pela criação e controle de novas rotas de escoamento de drogas. A viagem foi confirmada pelo secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo em entrevista à TV Globo na segunda (5). >
Extraditado para seu país de origem no último mês de fevereiro, Pasquino virou um “pentito”, jargão jurídico italiano que, mais que arrependido, indica que o mafioso decidiu romper a lei do silêncio e colaborar com a Justiça, indicando nomes, golpes, rotas e crimes do grupo ao qual pertencia. Segundo a promotoria italiana, Pasquino era o maior intermediador das cargas de cocaína que saíam da América do Sul para a Europa e trabalhou em conjunto tanto com o PCC quanto com o Comando Vermelho. >
Parte do conteúdo de sua delação premiada já foi encaminhada para o Ministério da Justiça. Junto com as primeiras revelações, as autoridades do país europeu convidaram procuradores brasileiros para participarem das investigações sobre as rotas internacionais de tráficos das facções brasileiras. >
Verdadeiro arquivo vivo, Pasquino tem informações que podem levar a polícia brasileira a desferir um golpe certeiro na cúpula das duas facções. Ele pertencia a ‘Ndrangheta, a máfia que domina o mercado mundial de drogas por meio de associação com outras organizações criminosas. Segundo o ofício encaminhado pelos procuradores italianos, a cocaína saía do Brasil em grande quantidade pelo mar para famílias de mafiosos na Itália. >
O arrependido deu codinomes de criminosos brasileiros com quem trabalhou, mas eles foram omitidos no documento para não atrapalhar as investigações. E contou, entre outros casos, que um carregamento do PCC, de cem quilos, foi recusado pelos calabreses do grupo de Plati, que alegaram que a cocaína não era de boa qualidade. O caso levou a um racha com a facção brasileira, que passou a trabalhar com a Máfia dos Bálcãs e seus grupos de albaneses, montenegrinos e sérvios. A estimativa é que a aliança entre a ‘Ndrangheta e o PCC resultaria em um lucro de R$ 1 bilhão só para o grupo brasileiro. >
Ainda segundo documento italiano, Pasquino falou sobre o funcionamento do tráfico nos portos brasileiros de Santos (SP), Paranaguá (PR) e João Pessoa. E que o mafioso promete entregar o mapa das principais rotas internacionais da droga e seus contatos com turcos e chineses ligados à lavagem de dinheiro, além de novos detalhes sobre as operações do PCC e o Comando Vermelho. >
De posse dessas informações, as autoridades brasileiras podem, enfim, interromper o fluxo de drogas nessas rotas e prender importantes líderes das facções e suas ligações para além do submundo do crime, que podem incluir políticos e empresários. >
Mesmo se a operação tiver sucesso, as polícias brasileiras não devem baixar a guarda. Tudo isso acontece após PCC e CV romperem uma duradoura trégua que impedia o confronto direto entre as duas organizações criminosas. Enquanto o CV parece se fortalecer, expandindo, a custa de muitas mortes, o controle territorial em cidades em todo o Brasil, o PCC resiste, mesmo enfrentando a maior crise de sua história com uma guerra aberta por antigas lideranças. >
Na história das quadrilhas, quando um líder se vai, subordinados passam a se digladiar para assumir o controle. Esse conflito tende a ser violento. Outro ponto a se destacar é que a interdição de uma rota não é capaz de por si só fazer cessar o tráfico de drogas. A atividade movimenta muitos recursos e por isso os criminosos buscam caminhos alternativos. A Bahia, com o maior litoral do Brasil pode abrigar novas vias para logística do tráfico internacional.>
Fake news motivam atos racistas >
A série de violentos protestos racistas que tomaram conta do Reino Unido nessa semana mostra como grupos radicais conseguem manipular emoções das pessoas para desestabilizar governos e instituições, demonstrar força e impor sua agenda. E também a urgência de uma regulação que responsabilize as redes sociais pela disseminação de conteúdo de ódio. >
Tudo começa com um crime chocante: o ataque a uma escola na cidade de Southport que deixou três crianças mortas e cinco gravemente feridas. Na Inglaterra, imprensa e autoridades não revelam a identidade de criminosos até que eles sejam condenados judicialmente, o que deu margens a diversas especulações que logo se transformaram numa campanha de desinformação e manipulação em massa. As mensagens utilizavam uma mentira, propagando que o episódio era fruto de um ataque terrorista cometido por um muçulmano. >
No Reino Unido – como em toda a Europa – a imigração é um tema sensível. Conservadores radicais associam ataques terroristas à migração (legal e ilegal). Esses grupos ainda defendem que os imigrantes e seus dependentes nunca vão assimilar valores cristãos e colocam a “cultura ocidental” em “risco de extinção”. >
Após a disseminação das fake news, lideranças da extrema direita passaram a convocar os protestos. Com gritos racistas e xenofóbicos, os manifestantes se concentravam nas proximidades de delegacias, órgãos ligados à política migratória do Reino Unido (já uma das mais restritivas da Europa) e de bairros de imigrantes, que eram ameaçados. Muitos desses atos desbancaram para a violência em cidades como Londres e Manchester. >
O governo trabalhista recém-eleito teve de intervir. A identidade do autor do ataque foi revelada: Axel Rudakubana, de 17 anos. Ao contrário do propagado pela extrema direita, ele não é um refugiado que chegou em barco em 2023. Ao contrário, ele nasceu no Reino Unido. Preso à disposição da Justiça, ele é acusado de três homicídios, 10 tentativas de homicídio e de posse de arma branca. Os motivos do ataque ainda não foram divulgados, mas a polícia descarta a hipótese de terrorismo. Segundo a imprensa, vizinhos da família do jovem descreveram a família Rudakubana como muito envolvida com a igreja local. Axel tem um diagnóstico de transtorno do espectro autista.>
Meme da semana>
Ana Sátila não ganhou medalhas, mas ficou com o troféu bom humor. Inscrita em diversas provas da canoagem, ela monopolizou horas de transmissão. Quando sua maratona particular finalmente encerrou, ela foi confrontada com os memes. E riu de todos eles. >
MAIS LIDAS DO SITE DE 2 A 8 DE AGOSTO>
1ª) Baiana completa 100 anos, ganha missa e revela segredo da longevidade: ‘Evitar aborrecimentos’. bit.ly/4fDQpd8>
2ª) Caminhão que carregava bananas é detido na BR-101. bit.ly/46WWu0F>
3ª) Salvador ganha novas linhas de ônibus no horário de pico; confira lista. bit.ly/3WWOVU7>
4ª) Denúncia de Tamires Assis tem prints de WhatsApp e foto de Davi Brito com arma. bit.ly/3SK2Bzc>