Celular nas escolas: o que se ganha e o que se perde com a proibição

Governo prepara projeto para banir uso de telas nas unidades escolares, prática mostra que será difícil essa lei ‘pegar’

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  • Flavio Oliveira

Publicado em 5 de outubro de 2024 às 16:00

Pesquisas indicam que uso do celular por crianças interfere no aprendizado Crédito: shutterstock

Nos próximos dias, o governo federal deve colocar gasolina em uma fogueira que arde forte desde a pandemia: a presença do celular nas escolas. Isso porque o Ministério da Educação (MEC) anunciou que prepara um projeto de lei para proibir o uso desse tipo de aparelhos nas unidades escolares de todos o país. Pelo cronograma anunciado pela pasta, o projeto deve ser encaminhado ao Congresso neste mês. O objetivo, ainda segundo a pasta, é dar segurança jurídica a escolas e leis estaduais que já baniram o smartphone das salas de aulas. Um exemplo é o Ceará, terra natal do ministro Camilo Santana. Assembleias legislativas de estados como São Paulo discutem projetos semelhantes.

Como o assunto é polêmico e o Brasil possui a peculiar característica de dividir as leis em duas subcategorias – as que ‘pegam’ e as que só existem no papel – é difícil antever o resultado prático da iniciativa, até porque o conteúdo do projeto ainda é desconhecido. Mas especialistas já advertem que a lei só não basta para tratar a questão.

Atualmente, a maioria de pais e educadores concorda com o banimento. Motivos não faltam. Estados americanos estão em litígio judicial com big techs, alegando que as redes sociais viciam e geram crises de ansiedade e depressão em crianças, o que tem elevado os gastos com saúde pública. A presença de celular nas escolas já foi proibida ou restringida em alguns países. Na França, o uso do aparelho nas escolas é proibido para estudantes de até 15 anos. Na Holanda, o uso depende do professor, já que só é permitido quando tiver uma relação com a aula. Na China, os alunos só podem levar o aparelho para as escolas com autorização expressa pelos pais. Já na Finlândia, muitas cidades proibiram a utilização de qualquer tipo de eletrônico nas escolas.

Pesquisas internacionais têm mostrado que, além de potencializar a possibilidade de vício nas redes sociais, o celular promove distrações, reduz a capacidade de aprendizado (qualquer resposta está sempre a um clique), aumenta a desigualdade (alguns terão sempre aparelhos mais modernos e melhor conexão), favorece comportamentos antiéticos (facilita o plágio e respostas tipo copia e cola), e impacta negativamente no desenvolvimento de habilidades interpessoais (pois inibe a interação pessoal entre os alunos).

Os defensores acreditam que o celular permite que os alunos realizem pesquisas rápidas e acessem um conteúdo complementar amplo e diverso, aumenta a eficiência do aprendizado quando engajados por aplicativos educacionais, a interatividade dos apps também permite que o estudante personalize o conteúdo e aprenda em seu próprio ritmo, e, o mais importante, leva os jovens a desenvolverem habilidades digitais cada vez mais exigidas no mercado de trabalho.

No Brasil, a proibição vem sendo aplicada em 20 estados e a experiência mostra que tem sido difícil fazer a lei “pegar”. Apenas 12% de suas escolas declararam adotar a medida de fato, de acordo com a pesquisa TIC Educação 2023 do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Ainda segundo a TIC Educação 2023, 33% das escolas municipais e 29% das privadas também baniram completamente o uso de celulares. O levantamento mostra que esse fenômeno tem começado pelas crianças menores: 42% dos colégios até o 5º ano do ensino fundamental já tomaram essa medida. Já entre aqueles que possuem até o ensino médio, esse índice cai para 7%.

Uma das poucas especialistas brasileiras na questão, a psicóloga gaúcha Sofia Sebben afirmou em entrevista ao Zero Hora: “Não temos pesquisas suficientemente conclusivas no Brasil mostrando benefícios ou riscos do uso do celular nas escolas, o que temos de estudos sobre isso é muito fraco. Não se tem pesquisas robustas para poder guiar o que vamos fazer ou deixar de fazer nesse momento. Converso com muitos professores, crianças, pais e jornalistas. O que vemos é que o uso do celular na escola está descompensado. Os professores não sabem mais o que fazer, porque as crianças estão usando muito o celular na escola, especialmente as redes sociais, que são viciantes. Mas me parece que banir só por banir não vai resolver. É tampar o sol com a peneira. Especialmente quando falamos de adolescentes, que são mais suscetíveis a um uso problemático da mídia, como chamamos. Que é quando eles usam as telas para não lidar com as emoções, para escapar de situações de estresse. Nas redes sociais eles encontram apoio social e conteúdos que os interessam. Por outro lado, eles são os que têm mais tendência a desenvolver depressão, por exemplo. Para além do debate de banir ou não banir, precisamos entender como está a saúde mental desses adolescentes. Será que a tela é a vilã da história ou estamos deixando de olhar para outros problemas que fazem os jovens recorrerem às telas? Costumo dizer que o uso de telas é a ponta do iceberg”.

Essa afirmação já indica caminhos que devem ser seguidos com a possível lei, independentemente de seu teor. As famílias precisam estar mais próximas de suas crianças e jovens, promovendo um maior diálogo com eles. Além, é claro, e exercer o óbvio papel de mediação entre os estudantes e as telas. Os estudantes, a princípio, formam o público mais afetado positiva ou negativamente pelo uso do celular nas salas de aula. E são os que menos têm sido ouvidos.

Ao mesmo tempo, governos, escolas e universidades devem estar a postos para preparar os professores a lidarem com a tecnologia, para usá-la, de fato, como uma eficiente ferramenta pedagógica, sem prejuízo para as demais. Não é porque o aluno deve aprender a digitar que não vai aprender a escrever à mão. As duas formas de escrita são complementares e cada uma delas traz um tipo de benefício. Sem o devido preparo, os professores serão incapazes de fazer a mediação pedagógica entre os jovens e o celular, e os estudantes vão continuar no fundo da sala, com o aparelho nas mãos, podendo acessar redes sociais, bets e pornografia.

Trabalhador brasileiro está triste, estressado, desengajado e com raiva

Infelicidade reduz produtividade dos trabalhadores Crédito: shutterstock

A felicidade corporativa (ser feliz e realizado no trabalho) é cada vez mais premente nas organizações. Por um motivo muito simples: trabalhador feliz produz mais e melhor. No mínimo, gasta menos tempo reclamando.

E haja reclamação.

Dois estudos publicados recentemente mostram que o grau de felicidade do trabalhador brasileiro não é grande coisa.

O estudo realizado pela Pluxee, em parceria com o The Happiness Index e tema de reportagem da Você S/A, na terça (1°), indica que o brasileiro é 9% menos feliz no trabalho do que a média mundial. No recorte por gênero, os homens se mostraram mais satisfeitos com o trabalho que as mulheres, que enfrentam mais dificuldades nas corporações e enfrentam um caminho mais tortuoso em direção a postos de liderança. Também há diferenças entre as regiões do país. Embora o Sudeste historicamente ofereça mais e melhores oportunidades, lá, o índice de felicidade é 7, contra 7,9 nos estados da região Norte.

O diagnóstico apontado pela pesquisa é que as empresas nacionais têm dificuldade de engajar seus trabalhadores (62% disseram não estar engajados com suas funções) . Lembrando que o engajamento é um dos pilares analisados pela metodologia. Quando os profissionais estão engajados com a cultura da empresa e com suas atividades diárias, eles se tornam mais motivados, criativos e inovadores. Foram realizadas 23 mil entrevistas com trabalhadores em todo o Brasil

A segunda pesquisa foi tema de reportagem publicada no site de O Globo nessa sexta (4). De acordo com o levantamento, o Brasil ocupa o quarto lugar entre os países com mais profissionais tristes ou com raiva na América Latina. Ainda: 25% dos trabalhadores brasileiros relataram sentir tristeza diária, colocando o país atrás apenas de Bolívia (32%), El Salvador (26%) e Jamaica (26%). Além disso, 18% dos profissionais brasileiros sentem raiva diariamente. O Brasil também é o sétimo país mais estressado da região, e 46% dos trabalhadores relatam lidar com estresse diariamente.

O estudo foi conduzido pela consultoria Gallup e ouviu 128 mil pessoas em mais de 160 países. Segundo a empresa, esses problemas são agravados por erros dos gestores. A consultoria lembra que problemas como tristeza, raiva e estresse não afetam apenas os trabalhadores, pois resultam em uma perda global de US$ 8,9 trilhões por ano, número equivalente a 9% do PIB mundial. Por outro lado, uma pesquisa anterior, realizada pela Universidade de Oxford, mostra que funcionários felizes são 13% mais produtivos. 

Meme da semana

null Crédito: Reprodução

Escalada da guerra, eleição, defeito no Aerolula....Nada disso é páreo para o caso do rapper americano Diddy. O enredo envolve famosos da música e do cinema, surubas, crimes e festas secretas. Movimentou as redes sociais e ofuscou outros assuntos. Só não vai cair na prova.

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