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Flavio Oliveira
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 13:00
Desde Bonnie e Clyde que os americanos não torcem tanto por um assassino quanto agora. Candidato a ídolo pop e futuro personagens de filmes e séries, Luigi Mangione, 26 anos, era um completo desconhecido até a morte de Brian Thompson, CEO da United Healthcare, maior plano de saúde dos Estados Unidos, com pelo menos três tiros na porta do hotel Hilton em Manhattan, Nova Iorque, no último dia 4. A vítima ganhava US$ 5 milhões por mês e participaria de uma reunião com dirigentes de outras empresas de saúde que operam nos EUA. O homicida, que usava um capote cobrindo a face, fugiu de bicicleta em direção ao Central Park e de lá desapareceu.
Não sem antes deixar uma mensagem, algo como um manifesto. Ele escreveu nas cápsulas de bala utilizadas no crime as palavras denay (negar), defend (defender) e depose (destruir). Acredita-se que as inscrições fazem referência a um livro do jurista especializado em seguros e riscos, Jay M. Feinman. O título da publicação é Delay (atrase) Deny (negue) Defend (defender), o subtítulo traduzido diz: "Por que as companhias de seguros não estão pagando sinistros e o que pode ser feito a respeito". Feinman afirma que as empresas do setor adotam uma política deliberada de, primeiramente, atrasar a avaliação dos pedidos dos segurados para depois negá-los e, então, se defender nos tribunais de eventuais processos abertos por eles.
Foi a investigação policial que deu fama a Mangione. A polícia tem indícios de que ele é o autor dos disparos que matou o CEO e espalhou seu retrato por várias localidades do país, oferecendo uma recompensa de US$ 10 mil por informações que levassem ao suspeito. Paralelamente, milhares de americanos e americanas, contando seus problemas em conseguir acesso a tratamentos, passaram a se posicionar favoravelmente a Mangione, até mesmo declarando que CEOs e acionistas dos planos mereciam todos o mesmo fim que Thompson. O capote usado pelo assassino esgotou das lojas e há uma fila de espera pelo produto.
Mangione foi preso na segunda (9), enquanto lanchava na McDonald's da Pensilvânia. Um funcionário local alertou às autoridades de sua presença. Em meio à comoção, o chefe da polícia disse que o herói da história não era o suspeito, e sim o funcionário da lanchonete. Os admiradores do acusado realizam campanhas online para custear a defesa do suspeito. Segundo a BBC, a arrecadação já supera os milhares de dólares.
Um dos motivos para o apoio popular a Mangione é a raiva que muitos americanos sentem das seguradoras. Os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, onde existe o SUS, não possuem um sistema universal, público e gratuito de saúde. Salvo alguns programas governamentais que apoiam populações específicas, todo sistema é privado. E muito caro. A percepção é que as empresas se interessam apenas em maximizar os lucros. O assassinato do CEO canalizou esses sentimentos, transformado o assassino em um herói vingador.
Mangione vem de família abastada, que, segundo a Reuters, é apelidada como a “realeza de Baltimore”. A fortuna da família foi construída principalmente no mercado imobiliário. Os Mangione também ficaram conhecidos por realizarem doações milionárias para instituições de caridade, algumas delas atuam com serviços de saúde, inclusive. Se for condenado, Luigi pode perder o direito a parte da herança deixada por sua avó, calculada em R$ 178 milhões.
Luigi estudou computação – é PhD. na área – e exibia a seus colegas, e também nas redes sociais, o raio-x de sua coluna. A imagem mostra alguns pinos perto do pescoço, fruto de uma cirurgia feita em 2023. Conforme reportagem de O Globo, ele teria sido diagnosticado com espondilolistese, doença conhecida como escorregamento vertebral, que ocorre quando uma das vértebras desliza sobre a outra e tem como possibilidade de tratamento uma cirurgia para realinhar a coluna.
Em entrevista ao The New York Times citada pelo jornal carioca, um colega de quarto dos tempos de universidade afirmou que Mangione que se referia às dores nas costas, atribuindo à condição sua dificuldade tanto em realizar tarefas cotidianas quanto de se relacionar com outras pessoas. A conexão entre o problema na coluna e o assassinato está sendo investigada.
A mesma queixa era feita nos seus perfis. Nas redes, passou a escrever críticas não só às seguradoras, mas também ao sistema capitalista. Quando foi localizado, policiais encontraram com ele um texto escrito à mão em que criticava as empresas de saúde por priorizarem os lucros em detrimento do cuidado. Em seu poder também estava uma arma semelhante à usada pelo assassino do CEO da United Healthcare. Trata-se de uma pistola feita em uma impressora 3D. Armas desse tipo, que não têm registro, são chamadas de armas fantasmas. Até o fechamento desta edição, Luigi Mangione não havia confessado o crime ou qualquer tipo de participação na morte de Thompson.
É compreensível que a crise da saúde provoque críticas, queixas, raiva e indignação. O problema surge quando políticos, apresentadores e influencers canalizam esses sentimentos para obter cliques, dinheiro e poder. É meio óbvio, mas às vezes é preciso desenhar: a situação – nos EUA, no Brasil ou qualquer outro país – não será resolvida com balas. A solução é política, exige inversões de prioridades para colocar o interesse público e o direito à vida plena em primeiro lugar (na verdade, em todos os lugares). No caso americano, com a criação de um sistema público universal. No brasileiro, fortalecendo nosso SUS, enfrentando suas carências, principalmente a de financiamento; entendendo que por trás de muitos dos ataques à credibilidade e eficiência do sistema existem interesses outros. Fazer o Brasil ser igual aos EUA é um deles. Há quem ganhe com isso, e não é a população.
Saúde mental: efeitos da pandemia permanecem e jovens falam em ‘apodrecimento cerebral’
Ansiedade foi a palavra escolhida pela maioria dos brasileiros para representar 2024. Foi eleita por 22% dos cidadãos que participaram de pesquisa promovida pelo Instituto de Pesquisa Ideia com a empresa de marketing Cause e o aplicativo PiniOn. O resultado, alvo de reportagem da Folha de S. Paulo, inclui ainda resiliência (21%), inteligência artificial (20%), incerteza (20%) e extremismo (4%).
Na semana anterior, o dicionário Oxford (um dos mais prestigiados da língua inglesa) escolheu ‘brain rot’ como a expressão do ano. Ela pode ser traduzida como ‘cérebro podre’ ou ‘apodrecimento cerebral’. E foi difundida por jovens usuários/viciados em redes sociais. No contexto usado por eles, o ‘apodrecimento cerebral’ é consequência do consumo excessivo de conteúdos superficiais, de baixa qualidade e pouco desafiadores, como os que fazem sucesso nas redes.
As duas escolhas mostram que se a pandemia de covid-19 passou, seus efeitos ainda estão presentes e afetando a saúde mental das pessoas, cada vez mais ansiosas e mentalmente preguiçosas, o que explica tanto a sedutora fuga da realidade oferecida pelas redes sociais com seus conteúdos de fofoca, futilidade e humor duvidoso, quanto a facilidade de profusão de fake news que circulam nesses espaços.
com agências
Meme da semana
Médicos muitas vezes parecem falar uma língua própria, o que pode prejudicar o tratamento das enfermidades poque nem sempre conseguimos traduzir o que dizem ou, principalmente, escrevem. A regra para os pacientes é não se intimidar e perguntar, perguntar e perguntar.
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