Acordo secreto entre Google e Meta aumenta riscos para adolescentes

Big techs passam por cima das próprias regras para fazer publicidade para jovens de 13 a 18 anos

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  • Flavio Oliveira

Publicado em 17 de agosto de 2024 às 16:00

Autoridades apontam que uso das redes sociais está associado a problemas de saúde mental de crianças e jovens

Cada novo estudo feito por imprensa, médicos, psicólogos ou pesquisadores de diversas áreas sobre bastidores e efeitos das redes sociais deixa mais evidente que a autorregulação dessa atividade econômica é uma farsa com o objetivo de preservar os lucros dessas companhias, não importando o mal que elas eventualmente possam causar (e causam!) à saúde, à economia e ao ambiente político de usuários, comunidades, países.

Reportagem do jornal inglês Financial Times do dia 9 jogou luz a um acordo secreto entre a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) e o Google para impulsionar anúncios do Instagram para jovens e adolescentes no YouTube, contrariando as próprias regras das plataformas que proíbem o direcionamento de propaganda para adolescentes de 13 a 8 anos.

Segundo o jornal, o Google usou uma brecha nas suas próprias políticas de conformidade para esconder a ação de marketing dirigida aos jovens. Como não é permitido segmentar propagandas para menores de idade, os anúncios foram configurados para atingirem um grupo de usuários classificados como “desconhecidos”, mas que a plataforma sabia abranger grande quantidade de menores de 18 anos. E para garantir ainda mais assertividade, os outros grupos etários foram desativados nestas mesmas campanhas.

É possível para algoritmos de inteligência artificial usados pelas big techs inferir a faixa etária de um usuário sem usar a informação da idade, mas a partir dos dados do seu comportamento e preferências. O que deixa o usuário mais vulnerável à publicidade, além de ser uma ameaça à sua privacidade.

Para a Meta, interessava atingir um público que tem abandonado o Instagram pelo TikTok. Já o Google rentabilizava ainda mais sua rede de vídeos. Os ganhos das gigantes tecnológicas derivou de uma manipulação. Inicialmente, a campanha foi feita nos Estados Unidos, mas o Financial Times afirma que havia planos para levá-la para outras partes do mundo.

No Brasil, após a reportagem do Financial Times, o Instituto Alana, que atua na defesa de crianças e adolescentes, pediu à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) que investigue práticas de direcionamento de publicidade para menores brasileiros realizadas por Google e Meta. O instituto argumenta que as brechas nas políticas da plataforma que permitiram as violações descritas nos EUA também estão presentes nos termos de uso aplicados no Brasil, o que compromete a proteção dos jovens brasileiros contra a exploração comercial.

Tudo isso acontece meses depois do presidente da Meta, Mark Zuckerberg, numa audiência no Congresso americano, pedir desculpas às famílias de crianças vítimas de violência nas redes sociais e afirmar que sua empresa estava comprometida em transformar as suas plataformas em um ambiente seguro para os jovens.

Na oportunidade, os congressistas estadunidenses discutiam possíveis efeitos nocivos das redes sociais e formas de evitá-los. Naquele momento, alguns estados do país abriam processos judiciais contra as empresas de tecnologia, acusando-as de gerar uma crise de saúde mental juvenil ao expor crianças e adolescentes a uma corrente ininterrupta de conteúdo prejudicial.

Em um desses processos, o Estado de Nova Iork alega que essas companhias projetaram intencionalmente suas plataformas para manipular e viciar crianças e adolescentes, impondo uma grande carga de trabalho e dispêndio de recursos extras aos distritos escolares e sistemas públicos de hospitais, que fornecem serviços de saúde mental aos jovens. O estado novaiorquino afirma, ainda, que embora se apresentem como “sociais”, plataformas como TikTok, Instagram, Facebook, YouTube e outras, de diversas maneiras, promovem desconexão, desassociação e uma série de danos mentais e físicos.

Entre o pedido de desculpas de Zuckerberg e as revelações do jornal inglês, a maior autoridade da saúde pública do governo americano, o cirurgião geral dos EUA Vivek Murthy, fez um paralelo entre as redes sociais e o tabagismo e propôs que, assim como os maços de cigarros, as plataformas exibam uma advertência de que seu consumo faz mal à saúde.

Murthy garante que já é possível avaliar os impactos negativos dessa tecnologia e que mais 3 horas por dia nas redes sociais dobram o risco de ter depressão. Para ele, a responsabilidade sobre a saúde mental dos jovens é coletiva e não pode recair apenas sobre os pais.

Embora a ideia do rótulo tenha sido a que mais mobilizou os debates, sua proposta para defender os jovens não se resume a isso. Ele defende que as escolas sejam um ambiente livre de celulares; que as próprias redes sociais imponham limites para cada idade para notificações push, reprodução automática e rolagem infinita da timeline, três recursos usados para manter os usuários dentro das plataformas.

Apesar das críticas e alertas, o cirurgião geral reconhece que as redes sociais podem trazer benefícios para alguns jovens ao proporcionar a sensação de participar de uma comunidade e fornecer acesso a informações importantes e criar um espaço para a expressão individual.

O cirurgião geral não entra no debate sobre as responsabilidades das redes sociais para crises políticas, detendo-se apenas na questão da saúde mental de crianças e adolescentes. Até porque não precisa. A tentativa de invasão do Capitólio nos EUA, o ataque às sedes dos três poderes no Brasil, além dos estragos causados pelas fake news falam por si.

Judiciário dá mais um passo para o presente no combate à violência contra a mulher

O Poder Judiciário do Brasil termina a semana dando mais um passo em direção o mundo atual. Na terça (13), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou uma sentença da Justiça do Distrito Federal que inocentava um homem de Brasília acusado de estuprar 12 mulheres. No caso de uma das vítimas, a corte do DF considerou que não houve estupro porque a mulher não se “opôs ou reagiu, de forma séria, efetiva, a fim de demonstrar ao réu a sua inequívoca objeção (ao ato sexual)”.

A lei brasileira não traz uma definição de consentimento para o ato sexual. E diz que para existir crime de estupro, é preciso que haja “violência” ou “grave ameaça”. Há diversos parâmetros para enquadrar o que é “violência” ou “grave ameaça”, conforme lembra a jornalista Cristina Fibre no UOL.

O presidente da 6ª Turma do STJ, Sebastião Reis Jr. afirmou que a sentença anterior “transmite um viés desatualizado e machista”. E seguiu: “A concordância e o desejo inicial da vítima têm que perdurar durante toda a atividade sexual, pois a liberdade sexual pressupõe a possibilidade de interrupção do ato”. O “não” da vítima, disse Reis Jr., “caracteriza reação e oposição efetiva e expressa”. Ou seja, finalmente a Justiça parece entender e respeitar que o ‘não é não’.

Um avanço e reconhecimento à luta das mulheres. E se alguém acha pouco, vale a pena pesquisar quantos feminicidas foram absolvidos ao invocarem em suas defesas a tese da legítima defesa da honra, que só foi invalidada pelo STF há um ano.

Meme da semana

null Crédito: reprodução

As Olimpíadas de Paris ainda ecoam nos ambientes digitais, inspirando diversos internautas que fazem da zoação seu esporte favorito. Atletas de sofá juntaram a nerdologia com a ginástica artística e imaginaram uma competidora capaz de fazer acrobacias enquanto baixa e lê um PDF.

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