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Traições, monitoramento de adolescentes e roubo de gado: detetives ganham até R$ 160 mil

O investigador particular também é chamado para atuar em casos de traições, sequestros e golpes na internet

  • N
  • Nilson Marinho

Publicado em 26 de agosto de 2024 às 05:00

Detetive Dé. É assim que se apresenta José Pedro Pereira Nunes, de 63 anos. Quando quer solucionar algum caso, seja ele de qualquer natureza, se passa por gari, alguém em situação de rua ou com deficiência visual. “O disfarce é uma arte que pode levar ao sucesso da investigação”, diz.

Ele usa diversos aparatos tecnológicos, como binóculos, máquinas fotográficas, câmeras embutidas em relógios, óculos e canetas. Diz conseguir provar casos de adultério, além de solucionar roubos de gado, sequestros de pessoas e misteriosos desaparecimentos.

O mínimo que cobra pelo serviço é R$ 5 mil, mas já houve quem lhe pagasse R$ 160 mil para desvendar um único caso. Detetive Dé mora em Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador, mas atende clientes em todo o território nacional. É um dos mais antigos profissionais do ramo na Bahia, com mais de 40 anos de trabalho.

Detetive Dé é um dos profissionais mais experientes da Bahia Crédito: Divulgação

A profissão de detetive ou investigador particular é regulamentada pela Lei nº 13.432/2017. Embora não seja exigida uma formação específica, para tornar-se um, é aconselhável realizar um curso de formação.

O investimento no treinamento pode variar dependendo da instituição, mas, atualmente, pode chegar a uma média de R$ 2 mil. O tempo de duração também varia, mas há formações que vão de um a três meses, dependendo da carga horária ou se os encontros são online ou presenciais.

“No curso, os alunos são apresentados a técnicas de disfarce, manuseio de aparatos tecnológicos e métodos de rastreamento e localização de pessoas foragidas ou desaparecidas, especialmente em casos de desaparecimento. Também abordamos questões éticas, legislação, normas de conduta, além de análise comportamental”, explica o detetive Carlos Fonseca, que é facilitador de um curso de formação de novos detetives.

Os profissionais não podem investigar servidores públicos em razão de suas funções ou atuar em investigações criminais de competência exclusiva das autoridades policiais. Caso seja comprovada qualquer violação ou abuso durante as atividades, os investigadores podem responder civil e criminalmente pelos seus atos.

Antes de se tornar detetive, Dé era jogador do time baiano Galícia Esporte Clube, mas uma lesão no tornozelo o fez ficar afastado de campo durante um ano e meio. Neste período ocioso, resolveu fazer um curso de detetive e deixou de vez a chuteira de lado quando a nova profissão passou a dar mais dinheiro que a bola.

Hoje, ele é dono de uma empresa, o FBI - Instituto de Investigação. O empreendimento conta com 120 detetives baianos e mais de 700 outros espalhados pelo Brasil. Como a demanda é grande e os pedidos de ajuda chegam de toda a parte do país, Dé repassa os casos a esses profissionais após levar em consideração o perfil de atuação dos investigadores, além da natureza e da localização dos casos.

Ultimamente, ele diz ter atuado mais em situações em que pais pedem o monitoramento de seus filhos adolescentes. Em seguida, vêm os casos de patrões que desconfiam que seus funcionários os estão passando para trás e os clássicos episódios de adultério.

“Acompanhamento de adolescentes está em primeiro lugar. Nessa fase da vida, os pais precisam estar atentos às amizades dos filhos, e a investigação pode ajudar a evitar que os jovens entrem no mundo do crime. Em segundo lugar, vem a instalação de câmeras escondidas para monitorar funcionários. E em terceiro, os casos conjugais. Muitas vezes, achamos que vamos investigar uma traição comum, mas nos deparamos com situações completamente diferentes, que podem surpreender até o próprio detetive”, explica.

Em 2018, Silas Santana, o investigador Silas, sofria com a morte do pai. Para preencher o vazio que lhe tomava conta do peito, decidiu ocupar a mente com atividades que lhe fossem úteis. Como já era fascinado por filmes de investigação, resolveu viajar até São Paulo para fazer o curso de detetive. Seu primeiro trabalho profissional de grande relevância, diz, foi a localização de uma pessoa desaparecida.

"A família não tinha muitas informações sobre a pessoa, apenas o primeiro nome. Fui juntando peças e consegui localizar o irmão do cliente em cerca de uma semana, mesmo com as informações incompletas. Temos nossos sistemas de busca que nos ajudam a reunir informações e montar um quebra-cabeça para chegar ao resultado. Esses sistemas nos dão acesso a informações gerais de qualquer pessoa", explica.

Silas é mais procurado para descobrir traições
O investigador Silas é mais procurado para descobrir traições Crédito: Acervo pessoal

Hoje, ele é mais procurado por pessoas que querem ter a certeza de que estão sendo traídas. Os valores para casos conjugais variam. Em Salvador, por exemplo, onde está a sede da empresa dele, um pacote que inclui um relatório completo dos passos de quem está sendo investigado, incluindo fotos, vai de R$ 4 mil a R$ 6 mil.

"Se for fora da cidade, o valor aumenta, incluindo hospedagem e alimentação, e nesses casos, o valor pode chegar a R$ 11 mil, dependendo do tempo e da complexidade do caso. Fazemos acompanhamento baseado nas informações que o cliente nos passa e montamos uma estratégia. Muitas vezes, começamos na saída de casa ou do trabalho da pessoa investigada", revela Silas.

Ainda tratando de casos conjugais, 60% dos seus clientes são do sexo feminino e de distintas classes sociais, como, por exemplo, uma atriz baiana de carreira internacional. Geralmente, aqueles que buscam pelo serviço recebem a confirmação de que de fato seus companheiros ou companheiras estão os traindo.

“Já foram mais de cem casos, com várias traições confirmadas. Recentemente, fiz uma investigação de seis dias e, no último dia, descobrimos a traição. Às vezes, é preciso mais tempo para reunir todas as provas”, explica.

O investigador afirma que a profissão requer bastante dedicação, estudo e, sobretudo, paciência. Um dia qualquer de trabalho é como se fosse o primeiro, diz Silas. “É uma sensação constante de ansiedade, mas é o que nos mantém dedicados a prestar um bom serviço ao cliente”, completa.