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Nilson Marinho
Publicado em 24 de novembro de 2024 às 22:53
A presença feminina no setor de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil é baixa. De acordo com o relatório “Panorama de Talentos em Tecnologia”, realizado pelo Google for Startups em parceria com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups) e a Ravelo, apenas 12% das mulheres trabalham atualmente na área de TI no país. Esse dado revela um grande desequilíbrio de gênero em um setor fundamental para o desenvolvimento econômico e tecnológico.
Embora o mercado de TI tenha crescido de forma acelerada nas últimas décadas, ela continua sendo predominantemente masculino. Fatores como a falta de incentivo a meninas em idade escolar para se aprofundarem em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) e a escassez de políticas públicas voltadas para a igualdade de gênero nas empresas tecnológicas são algumas das causas desse quadro, como analisa Carol Fraga, consultora especializada em diversidade e inclusão no mercado de trabalho.
"Além disso, o ambiente de trabalho nas empresas de TI frequentemente se torna um obstáculo à inclusão das mulheres, devido à escassez de representatividade feminina em posições de liderança e à cultura organizacional, que em alguns casos, não favorece o avanço delas na carreira. Essa realidade reflete uma falta de políticas de igualdade de gênero eficazes e a presença de estereótipos que dificultam o crescimento profissional das mulheres no setor", pontua.
Organizações e empresas, no entanto, têm promovido iniciativas que buscam aumentar a participação de mulheres no setor, oferecendo programas de mentoria e capacitação. A CCR Metrô Bahia, que administra o Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas, por exemplo, quer diversificar seu quadro operacional com mais mulheres, embora essa realidade seja desafiadora.
Por lá, foram criadas vagas exclusivas para mulheres, mas essas oportunidades foram estendidas para os homens, pois não foi possível preencher o quadro com as profissionais que a empresa buscava.
“Um dos maiores desafios é desconstruir a percepção de que o setor tecnológico é um ambiente predominantemente masculino. Essa visão limita a procura por vagas na área, mesmo quando são oferecidas oportunidades exclusivas para mulheres, como já aconteceu na CCR Metrô Bahia”, diz Elisângela Eugênio, responsável por toda a área de tecnologia do Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas.
Ainda de acordo com ela, a cultura carrega a ideia de que a tecnologia é um território masculino, o que desencoraja a presença feminina desde a juventude, especialmente em cursos técnicos e formações na área. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre 2012 e 2022, as mulheres representaram apenas 20% dos formados nesses campos profissionais, enquanto, em outros setores de graduação, elas são maioria, com seis mulheres para cada dez formandos.
"Além disso, muitas mulheres relatam enfrentar preconceitos e dificuldades para se sentirem incluídas no setor. Para transformar essa realidade, é fundamental investir em iniciativas que estimulem o interesse de meninas pela tecnologia desde cedo, como os programas Meninas Digitais e Elas nas Exatas. Destacar exemplos de mulheres em posições de liderança e promover ambientes acolhedores e inclusivos são decisões importantes para romper essas barreiras", pontua.
Elisângela diz também que quando começou na área de tecnologia, há mais de 30 anos, a presença feminina era ainda mais reduzida. Ela lembra que as mulheres eram vistas como exceções, o que muitas vezes exigia um esforço extra para provar a sua capacidade.
“Hoje, embora os desafios permaneçam, vejo avanços importantes acontecendo na área: as mulheres estão conquistando espaço em posições técnicas e de liderança, e programas de inclusão têm contribuído para abrir portas. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas a mudança já está em curso, e é muito gratificante ser parte dessa transformação”, finaliza.
Fabiana Costa começou sua trajetória profissional ainda muito jovem. Aos 12 anos, saía da escola, ajudava a mãe em um mercado de bairro e trabalhava até às 21h. Depois, decidiu cursar Pedagogia e, com o tempo, conquistou uma vaga no setor financeiro de um hospital. Naquela época, a área de Tecnologia da Informação (TI) parecia um universo distante, reservado apenas para "gente muito inteligente".
Foi só mais tarde, ao trabalhar em uma empresa de automação industrial, que essa perspectiva começou a mudar. Lá, ela foi parte fundamental na criação do setor de TI da companhia. Com o tempo, Fabiana passou a se especializar, hoje atuando como Gerente de Produtos de FinOps.
“Eu trabalhava numa empresa de cento e poucos funcionários, que estava sendo estruturada ainda, e precisavam de alguém para a área de tecnologia, porque lá não tinha uma liderança. Então, aos poucos eu fui assumindo responsabilidades, cuidando e conhecendo o sistema. Nessa empresa eu fiz uma carreira de 10 anos: entrei como auxiliar de recursos humanos e saí como coordenadora de sistemas. Tive uma trajetória de muito conhecimento, porque participei de feiras, eventos… E eu gerenciava, fazia reuniões de apresentação para a diretoria. Tive uma trajetória bem gostosa e me apaixonei muito pela carreira”, conta.
Em 2018, o marido dela tinha o sonho de montar um comércio, mas não poderia tocar o negócio sozinho. Fabiana abraçou essa ambição junto com ele e pediu demissão para tocar o projeto com meu marido. Os desafios, no entanto, foram muitos e ela se distanciou do que mais gostava que era trabalhar com tecnologia. "Então, comecei uma faculdade em Gestão de TI, mas não consegui terminar por conta de alguns problemas familiares”, comenta.
Fabiana conheceu, por indicação do irmão, a Escola da Nuvem, uma organização social sem fins lucrativos que prepara pessoas em situação de vulnerabilidade social para carreiras em computação em nuvem ao oferecer gratuitamente certificação e encaminhamento ao emprego.
“Quando fiz o curso, meu professor deixou bem claro que lá era o início, um start para depois se aprofundar. E eu fui correr atrás disso, procurando amigos que já estavam atuando na área. Eu tenho um grupo de colegas que fiz na Escola da Nuvem, que me incentivou muito, durante o período de certificação, a estudar. Às vezes, eu chegava do trabalho e ainda ficava com eles estudando em chamada para me desenvolver. Como voluntária, para mim, foi um momento de autoconhecimento, de entender um pouquinho das histórias dos alunos e da trajetória de cada um. Essa troca é algo que me motiva muito e me dá energia para continuar”, lembra ela.
CAPACITAÇÃO GRATUITA PARA MULHERES