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Task Masking: Geração Z simula ocupação para parecer eficiente no trabalho

A nova tendência da Geração Z que preocupa líderes e revela falhas nas relações de trabalho

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 24 de março de 2025 às 05:41

Aqueles nascidos entre 1995 e 2010, os chamados Geração Z, já ocupam postos importantes no mercado de trabalho, enquanto outros começam a dar os primeiros passos no cenário laboral. Crescidos em meio à tecnologia, dominam as ferramentas digitais e são vistos pelas empresas como inovadores, empreendedores e inquietos. Mas essa turma também é conhecida por criar novas tendências no mundo corporativo — algumas delas capazes de deixar seus superiores de orelha em pé e cabeça quente.

Eles foram responsáveis, por exemplo, pela “hush-cation” ou “férias silenciosas”, que nada mais é do que viajar, na maioria das vezes para um destino turístico, durante o expediente de trabalho remoto, mas sem comunicar a empresa. Tem ainda a “microaposentadoria”, que é se permitir viver o agora, com mais equilíbrio e saúde mental, sem estar aposentado para isso.

Agora, a tendência da vez é a Task Masking, que nada mais é do que fingir estar extremamente ocupado no ambiente de trabalho, mesmo que não se tenha muito o que fazer — apenas para simular uma ilusão de produtividade para aqueles que estão ao redor. No TikTok, por exemplo, os vídeos sobre o tema acumularam mais de 1,1 milhão de visualizações nos últimos seis meses, muitos deles com usuários dando dicas de como “se mostrar ocupado”.

Ana Carolina do Carmo, doutora em psicologia clínica e especialista em comportamento no trabalho, explica que, no ambiente de trabalho moderno — especialmente com o avanço do home office e das cobranças por produtividade — a tendência tem se tornado cada vez mais comum.

“Isso acontece quando o profissional preenche o tempo com tarefas de baixa prioridade ou baixa complexidade para evitar se engajar em atividades mais importantes, estratégicas ou desafiadoras. É uma forma de distração produtiva, que dá a ilusão de rendimento, mas esconde inseguranças, medo de errar ou sobrecarga emocional. Mas não conseguimos mensurar se isso realmente está se limitando às redes sociais ou de fato tem afetado o ambiente de trabalho”, afirma a especialista.

Entre as táticas ensinadas por produtores de conteúdo adeptos da tendência para parecer ocupado, estão: digitar de forma intensa e barulhenta no teclado, soltar profundos suspiros para parecer estar preocupado ou sobrecarregado com as demandas, fazer ligações fictícias para dar a ideia de que está participando de uma reunião, andar de um lado para o outro com o notebook para não parecer ocioso, entre outras estratégias.

Segundo Marcello Amaro, diretor de Recursos Humanos da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos, o Task Masking não é apenas uma moda passageira amplificada pelas redes sociais como TikTok e LinkedIn. Trata-se de um sintoma de algo mais profundo: ambientes de trabalho que valorizam a aparência de produtividade, em vez do impacto real das entregas.

Marcello Amaro, diretor de Recursos Humanos da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos
Marcello Amaro, diretor de Recursos Humanos da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos Crédito: Divulgação

“O Task Masking surge como uma resposta direta a ambientes que priorizam a aparência de produtividade em vez de resultados reais. Quando os colaboradores sentem que precisam provar constantemente que estão ocupados para serem reconhecidos, esse comportamento se intensifica. Na P3, buscamos minimizar esse tipo de cenário por meio da transparência e da confiança. Nossos times sabem que o que importa são os resultados e o impacto do trabalho, não a quantidade de horas online ou a impressão de estar sempre ocupado”, exemplifica.

Ainda de acordo com Amaro, o task masking também pode indicar esgotamento, insegurança ou um ambiente de trabalho pouco saudável. Em contextos em que demonstrar vulnerabilidade é visto como fraqueza, os profissionais — especialmente os mais jovens ou recém-contratados — acabam criando mecanismos de defesa.

“Esse comportamento pode surgir quando ainda não há uma relação de confiança com a liderança. Incentivamos o diálogo aberto, para que todos se sintam seguros em pedir apoio ou dizer que precisam de uma pausa. Ninguém deve fingir produtividade para se sentir aceito”, completa.

Carol Ribeiro*, de 26 anos,é uma jovem analista de marketing digital, recém-contratada por uma startup. Ela diz que, já aconteceu, em dias mais tranquilos, quando as demandas são poucas, mostra-se ocupada, como, por exemplo, abrir várias abas no navegador. Tudo para garantir que ninguém questione sua dedicação.

“É uma empresa que tem uma rotatividade muito grande e que exige muita produtividade. Mesmo eu já cumprindo todas as tarefas, o medo de parecer desocupada, já me levou a isso. É um sentimento de que estou fazendo algo errado, apenas por ter um tempo livre, após executar todas as demandas do dia”, conta.

Andre Purri, CEO e co-fundador da Alymente, não coloca a responsabilidade apenas nos jovens ou só nas empresas — ele defende que ambos precisam se adaptar. Em sua opinião, a Geração Z chega com valores e comportamentos diferentes, como maior busca por propósito, autonomia e flexibilidade.

"No jogo corporativo, não dá pra olhar só de um lado do campo. A Geração Z chega com um jeito mais questionador, querendo propósito e flexibilidade, enquanto muitas empresas ainda operam com modelos mais tradicionais, baseados em hierarquia rígida e processos fechados. Então, quem precisa se adaptar? Todo mundo", comenta.

"As empresas, se quiserem reter e engajar esses talentos, precisam revisar seus métodos de gestão. Isso significa investir em cultura de aprendizado contínuo, dar mais autonomia, ter lideranças preparadas para um modelo de gestão mais horizontal e, principalmente, construir um ambiente que faça sentido para essa geração. Por outro lado, a Geração Z também precisa entender que o mercado não vai se transformar do dia pra noite. Algumas estruturas ainda estão em transição e o equilíbrio entre inovação e governança é fundamental. Adaptabilidade é uma via de mão dupla", completa Purri.