Solidão e sobrecarga: estudo revela os desafios dos pequenos e médios empresários no Brasil

A pesquisa "Cabeça de Dono" foi feito pelo Instituto Locomotiva em parceria com o Itaú Empresas

  • N
  • Nilson Marinho

Publicado em 14 de outubro de 2024 às 05:00

Trabalho insalubre
A pesquisa foi feita com mais de mil pessoas em todas as regiões do Brasil Crédito: pexels

Carla Almeida, 32 anos, está à frente de uma franquia de doces de chocolate na cidade de Itaberaba, no Centro-Norte do estado. O negócio abriu as portas há três anos, e, nos primeiros dois, ela precisou assumir praticamente todas as funções.

Quando não operava o caixa, estava na frente da loja ou cuidando das estratégias de marketing. Quase enlouqueceu, nas palavras dela. O alívio só veio com a chegada da irmã, que estava no exterior e resolveu investir na ampliação do empreendimento, tornando-se também sócia.

“Sei que os primeiros anos de qualquer empreendimento são sempre muito difíceis, e não foram poucos os dias em que pensei em desistir. Acho que todo empreendedor passa por isso, porque o negócio está começando e nem sempre você pode contar com a ajuda de terceiros”, comenta a empresária.

O Instituto Locomotiva, em parceria com o Itaú Empresas, realizou uma pesquisa denominada “Cabeça de Dono” entre julho e agosto, período em que ouviu 1.001 homens e mulheres líderes de pequenas e médias empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 50 milhões, nas cinco regiões do Brasil.

A ideia era, segundo o próprio Instituto, trazer à luz um segmento considerado importante para a economia do país, já que as PMEs são responsáveis por 30% do PIB, gerando 50% dos empregos ativos.

Um dos resultados revelou que 98% dos empreendedores são responsáveis pelas decisões estratégicas em pelo menos uma área de sua empresa, enquanto 96% chegam a realizar tarefas operacionais em ao menos uma área, como era o caso de Carla.

A média de áreas em que eles estão envolvidos, no entanto, é quatro, o que pode causar sobrecarga e solidão no dia a dia. E se há mais funções para dar conta, falta tempo para outras áreas da vida. Por exemplo, 62% dos empreendedores almejam ter mais tempo com a família.

De acordo com Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, “A percepção de solidão, falta de apoio ou de reconhecimento, sobrecarga e implicações na vida pessoal dos pequenos e médios empresários brasileiros é comprovada em todo o estudo".

“O gestor que volta sua energia para dentro da empresa, focando no operacional, acaba não conseguindo se dedicar ao crescimento e à evolução da sua empresa. A falta de conhecimento em determinadas áreas o faz perder tempo precioso que, se fosse dedicado de maneira eficiente, poderia alavancar oportunidades no negócio e na vida pessoal – gerando mais tempo para a família ou para cuidar da saúde”, comenta.

Quando perguntados sobre o que mais lhes tira o sono, 41% dos empreendedores citaram crises econômicas, flutuações de mercado e a concorrência. Já 20% mencionaram fatores relacionados a crescimento e inovação, enquanto 18% destacaram a gestão financeira como o tema mais preocupante.

A pesquisa também revelou que 57% dos empreendedores gostariam de dialogar mais com outros empresários e gestores. As principais intenções seriam compartilhar experiências, dificuldades e soluções.

“É muito importante que os empreendedores, sobretudo aqueles que estão começando agora, possam trocar experiências com outros que já estão no mercado há mais tempo. Eles podem ter passado pelas mesmas dificuldades e podem oferecer pontos de vista valiosos para quem está dando os primeiros passos”, avalia Ailton Guerra, consultor estratégico de PMEs.

O estudo também avaliou como os pequenos e médios empresários se sentem em relação à rotina de trabalho e como isso afeta suas vidas. O resultado mostrou que 6 em cada 10 entrevistados convivem com pelo menos um tipo de desconforto nesse sentido.

O cansaço foi citado por 50% deles. Em seguida, veio a sensação de sobrecarga, presente em 46% dos entrevistados – entre o público com 45 anos ou mais, a porcentagem sobe para 49%. Já o estresse afeta 44% dos entrevistados; nesse ponto, os líderes do Nordeste são os que relatam ser mais impactados (58%).

“Tivemos um caso de um gestor que nos procurou com dificuldades na empresa, que passaram a afetar diretamente a qualidade de vida da sua família, provocando uma sensação de angústia. Conseguimos desenvolver um plano de reestruturação para ajudá-lo a se reerguer e a reduzir esse peso, gerando inclusive mais tempo – para focar no que realmente era importante”, relata Cadu Peyser, diretor de estratégias e produtos para PMEs do Itaú Unibanco.

“Os desafios são muitos, mas o tempo permeia todos eles – seja para gerir, pensar no futuro, cuidar da saúde ou para a família. O tempo é finito, e ter um apoio que otimize a gestão muda o panorama da vida profissional e pessoal dos empreendedores”, completa.