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Nilson Marinho
Publicado em 31 de março de 2025 às 04:59
A Baía de Todos-os-Santos, em Salvador, é a maior baía navegável do Brasil e uma das maiores do mundo. Com cerca de 1.200 km² de águas calmas e propícias à navegação, ao turismo e ao transporte marítimo, a cidade se destaca como um importante polo de desenvolvimento econômico, abrindo espaço para a geração de empregos e novas oportunidades de trabalho. >
A capital baiana também possui um mercado ativo de compra e venda de embarcações. Hugo Leonardo Assis, CEO do Barco Show Eventos, empresa organiza algumas das maiores feiras náuticas das regiões Norte e Nordeste diz que cada embarcação comercializada, não só nos eventos, mas em qualquer lugar, gera, no mínimo, três empregos diretos.>
“O profissional que limpa o barco, o que faz a manutenção e o marinheiro responsável por conduzir a embarcação. Além disso, existem os empregos indiretos, que envolvem prestadores de serviço da parte elétrica, fibra, guarda em marina, entre outros”, lista.>
Ele lembra também que, na cidade, há empresas especializadas apenas na troca de vidro ou policarbonato das embarcações, outras só em elétrica.”Ou seja, o impacto da venda de um barco pode ser até maior do que o de uma indústria, considerando o número de serviços que são ativados em cadeia”.>
Para obter a carteira de Arrais Amador, habilitação básica exigida para conduzir embarcações de pequeno porte, o custo médio é de cerca de R$ 700. Essa certificação, lembra Hugo Leonardo, permite ao condutor pilotar barcos em áreas abrigadas. Já para quem deseja operar jet skis, é necessário possuir a carteira de Motonauta.>
Com o crescimento do setor náutico, profissionais habilitados podem faturar entre R$ 2.500 e R$ 3.000 por mês, atuando de forma autônoma. Já os marinheiros contratados em regime fixo têm salários que variam entre R$ 2.000 e R$ 10.000 mensais, a depender da experiência, do tipo de embarcação e das responsabilidades a bordo, segundo cálculos do CEO do Barco Show Eventos.>
“Muitas pessoas optam por não ter marinheiro fixo e contratam o serviço de forma avulsa. A diária varia entre R$ 300 e R$ 500, dependendo do porte da embarcação e da qualificação do profissional. Se pensarmos em uma média de R$ 400 por final de semana, uma pessoa pode faturar cerca de R$ 1.600 por mês só com os sábados, e isso sem considerar os domingos ou dias de semana, que também têm procura, como segunda-feira, quando muitos comerciários costumam sair de barco”, comenta.>
“Temos, por exemplo, um caso de um marinheiro de uma lancha de 60 pés que recebe R$ 10 mil por mês. Ele tem experiência com navegação costeira e já navegou até Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro acompanhando o proprietário da embarcação”, completa Hugo Leonardo.>
Ele lembra também que há um desequilíbrio entre a demanda e a oferta de profissionais qualificados no setor náutico. Segundo o CEO, há demanda cresceu, mas o mercado não está acompanhando esse crescimento. Muitos dos profissionais que ainda estão no mercado são mais antigos e, às vezes, têm dificuldade em acompanhar as mudanças do setor. Em muitos casos, é formar os profissionais do zero.>
“Hoje existem iniciativas de capacitação gratuita, como a Fundação Aleixo Belov, que oferece o curso de Arrais Amador sem custo. As aulas acontecem no Museu do Mar. O básico é começar com a habilitação, assim como fazemos com a carteira de motorista. A pessoa se matricula numa escola náutica e depois realiza o exame na Capitania dos Portos, que é um órgão da Marinha do Brasil. A partir disso, já pode começar a navegar”.>
Ainda conforme Hugo Leonardo, o setor náutico vai muito além da compra e venda de embarcações. Ele movimenta uma ampla cadeia econômica, impactando diretamente áreas como o turismo, a gastronomia e os serviços de apoio. Em destinos como Morro de São Paulo, por exemplo, o fluxo de embarcações gera demanda por profissionais responsáveis por receber turistas, guardar barcos, abastecer embarcações e oferecer suporte logístico.>
“Esse crescimento está gerando uma demanda muito grande por prestadores de serviços, especialmente durante o verão, e criando um novo momento para o setor. Um momento que precisa ser acompanhado por políticas de incentivo à formação profissional e pelo fortalecimento dessa cadeia econômica que só tende a crescer”, conclui.>
Rodrigo Vaca construiu sua carreira como corretor de automóveis, mas a paixão pelo mar surgiu muito antes disso. Ainda na infância, era incentivado pelo avô, que o colocava para comandar a canoa da família. Mais tarde, com a compra de um barco de madeira equipado com motor de popa, Rodrigo assumiu, aos 16 anos, o papel de marinheiro da casa.>
Mesmo trabalhando no setor automotivo, encontrou uma oportunidade de se aproximar ainda mais do universo náutico ao adquirir seu primeiro jet ski. Embora tenha enfrentado muitos problemas com manutenção, a experiência o ajudou a desenvolver habilidades em navegação. Passou a explorar com frequência a Baía de Todos-os-Santos, conhecendo ilhas, vilarejos, fazendo travessias, conhecendo pessoas e enfrentando os desafios do mar. Ao longo dos anos, teve cinco jets, e cada um contribuiu para aprofundar ainda mais sua relação com a vida náutica.>
“Num desses passeios, conversando com um amigo sobre negócios, comentei que o mercado de veículos estava parado. Ele me perguntou se meu jet só servia para lazer. Eu disse: ‘Sim’. Foi aí que ele contou que tinha uma lancha de 24 pés, para até oito pessoas, e que, além do lazer, ainda ganhava dinheiro alugando. Na hora, aquilo acendeu uma ideia. Vendi o jet, comprei uma lancha usada, pequena, e comecei a fazer passeios mais acessíveis, já que eu mesmo seria o marinheiro, o que me permitia cobrar menos”, recorda Rodrigo.>
Com a chegada da pandemia, Rodrigo precisou vender a lancha que tantas alegrias lhe trouxe. Ainda assim, permaneceu no setor náutico, firmando parcerias com amigos e clientes, e passou a atuar como marinheiro em embarcações de diferentes portes. Hoje, com uma década de experiência no mar, ele se consolida como um marinheiro profissional, especializado em condução de lanchas de passeio. Hoje, ele pilota embarcações de até 42 pés, lanchas com suítes, sala de estar e banheiro.>
O piloto diz que a remuneração dos marinheiros costuma seguir dois modelos principais: por diária ou por contrato fixo. No primeiro caso, os valores variam de acordo com o porte da lancha e a época do ano. Durante a alta temporada, uma diária pode custar entre R$ 300 e R$ 500. Já os marinheiros contratados em regime fixo recebem com base no tamanho da embarcação, calculado em pés, com uma média que vai de R$ 130 a R$ 200 por pé. Isso significa que cuidar, por exemplo, de uma lancha de 38 pés pode render um salário mensal em torno de R$ 4.940. Naturalmente, os valores finais variam conforme o modelo da lancha, as responsabilidades atribuídas e o acordo firmado com o proprietário.>
“Depende do acordo com o proprietário. Na baixa temporada, muitos profissionais procuram uma renda extra, pois o movimento cai bastante. Já na alta, às vezes é difícil encontrar marinheiro disponível se não houver agendamento com antecedência. Sobre o que é necessário para ser um bom marinheiro, eu digo que ninguém nasce sabendo e ninguém começa com experiência. Um bom marinheiro é aquele que já enfrentou situações difíceis: chuva forte, vento e mar agitado. Por isso, a gente fala muito em ‘horas de navegação’”, lista.>
O setor náutico tem apresentado um crescimento expressivo nos últimos anos, impulsionado, entre outros fatores, pela popularização do modelo de compra compartilhada de embarcações, também conhecido como “compra inteligente”, como avalia Hugo Rodrigo Santos, responsável pela Botilux Contas Náuticas, empresa com atuação em Salvador e Aracaju, que foi uma das pioneiras no sistema de cotas náuticas no Brasil.>
“Antes, era um mercado exclusivo, restrito. Hoje, conseguimos trazer mais acessibilidade. Com isso, aumentou bastante a demanda por embarcações e, consequentemente, cresceu também a necessidade de profissionais: marinheiros, mecânicos, pessoal de limpeza, manutenção, eletricistas… Todo esse ecossistema se movimenta junto”, pontua.>
A Botilux, por exemplo, mantém uma média de um barco novo por mês, o que demanda a constante contratação de prestadores de serviço, uma tarefa que nem sempre é fácil, diante da carência de mão de obra qualificada, diz Santos. Para quem deseja ingressar na área, ele recomenda começar pelo essencial: tirar a habilitação de amador, exigida para pilotar embarcações.>
“Meu conselho pra quem quer começar é: vá pelo básico. Tire sua habilitação, é como tirar carteira de motorista. Você vai até uma escola, se matricula, depois passa pela Capitania dos Portos (que faz parte da Marinha do Brasil) e, com a habilitação em mãos, pode começar a navegar”, orienta.>