Rainha do churrasco: chefe encontra seu nicho de mercado trabalhando com carnes

Mais de 3 mil pessoas em todo o Brasil que recorreram à chef para aprender técnicas

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  • Nilson Marinho

Publicado em 16 de setembro de 2024 às 05:00

Ao se aprofundar na cozinha francesa contemporânea, a chef Emanuele Nascimento aprendeu a usar ingredientes de qualidade, manter a simplicidade e o minimalismo no prato, e alinhar as técnicas clássicas da culinária daquele país com os métodos mais modernos da gastronomia.

Anos depois, ela se destacaria não pelo refinamento e criatividade das tradições culinárias da França, mas por levar à mesa das famílias soteropolitanas uma carne que não é considerada nobre, se comparada ao desejado filé mignon, por exemplo, mas que é bastante valorizada por sua maciez: o cupim.

Durante sua vida profissional, todas as oportunidades a levaram para atuar na manipulação das carnes, o que foi determinante para que ela passasse a ensinar milhares de alunos os segredos do melhor churrasco e também se tornasse uma referência nesse aprendizado.

São mais de 3 mil pessoas em todo o Brasil que recorreram à chef para aprender técnicas de açougue básico, temperos e marinadas, além de métodos de manipulação de equipamentos, carvão e lenha. Para um público que vê o churrasco como um estilo de vida, apenas salgar e virar os cortes acima da brasa não é o suficiente; é necessário aprender a proporcionar experiências gastronômicas ao redor da churrasqueira. Além disso, há também aqueles profissionais que buscam capacitação.

Foi cozinhando para amigos que a psicóloga Emanuele passou a atuar como personal chef
Foi cozinhando para amigos que a psicóloga Emanuele passou a atuar como personal chef Crédito: Acervo pessoal

História

Foi cozinhando para amigos que a psicóloga Emanuele passou a atuar como personal chef, deixando que a gastronomia falasse mais alto do que sua formação inicial. “Na realidade, comecei a trabalhar de maneira informal, porque amigos me pediam para fazer jantares. Então, comecei como personal chef, mas não foi algo estruturado. Simplesmente aconteceu”, lembra.

Logo vieram o primeiro buffet, cursos e consultorias. A prática do ensino culinário a levou ao cargo de coordenadora de gastronomia em uma faculdade privada da capital baiana. A ideia de um emprego com salário fixo, sem muitas variações, como pode acontecer com aqueles que são donos do próprio negócio, lhe pareceu excelente, afinal, ela acabara de ser mãe.

“Dentro da faculdade, como coordenadora, surgiram muitas oportunidades para trabalhar com carne, então pensei: ou eu mergulho nisso, ou talvez eu não tenha outros caminhos interessantes como esses que estão surgindo”, conta Emanuele.

A chef decidiu que queria aprender mais sobre açougue e pediu para passar um tempo ao lado de açougueiros no empreendimento de um amigo. “Eu queria entender de carne, entender a fibra, por que uma carne é dura e outra não, por que eu preciso grelhar um corte em uma determinada temperatura; enfim, queria entender”, lista.

Aqui e ali, Emanuele foi absorvendo conhecimentos de pessoas que entendiam de carne e construindo seu próprio repertório até que teve a ideia de se matricular no curso de Medicina Veterinária. A intenção era apenas ter acesso à grade curricular que lhe desse conhecimento sobre anatomia e fisiologia dos animais que vão à brasa, o que fez durante um ano.

Em 2014, a chef deixou a coordenação do curso e, no ano seguinte, abriu a The Butcher SteakHouse, dedicada ao estilo de churrasco American BBQ, àquela época ainda pouco difundido na cidade. Emanuele decidiu lançar cursos sobre essa variação de churrasco desenvolvida no sul dos Estados Unidos também como uma forma de conquistar e fidelizar seu público consumidor.

O curso deu a visibilidade necessária para que a chef passasse a ser convidada para participar de feiras por todo o Brasil. Em 2020, ela estava com a agenda dos sonhos, até que a pandemia de covid chegou e seus compromissos profissionais foram cancelados.

Durante sua vida profissional, todas as oportunidades a levaram para atuar na manipulação das carnes
Durante sua vida profissional, todas as oportunidades a levaram para atuar na manipulação das carnes Crédito: Acervo pessoal

"Com 40 anos, dois filhos e sem renda, entrei em depressão. Nesse processo, comecei a interagir mais no Instagram, e os seguidores pediram para eu fazer algo relacionado a churrasco. Foi assim que surgiu a ideia de vender cupim defumado por delivery.”

Emanuele tinha um estoque composto por seis cupins e, em uma sexta-feira à noite, anunciou as vendas, sem muitas pretensões. Em uma hora e meia, não havia sobrado nada. O sucesso de vendas continuou nos dias seguintes. Nasceu então a marca Rainha do Cupim, por sugestão de seus amigos, em referência à habilidade que ela tinha em deixar o corte irresistível. O negócio foi do digital para a loja física.

Com a morte de sua avó, uma das pessoas mais importantes de sua vida, o Rainha do Cupim passou a se chamar Benedita Restaurante. Lembrando da avó como sua principal referência, Emanuele continua a tocar o negócio e a oferecer cursos de churrasco e açougue, este último voltado para quem deseja entender mais sobre carne de forma técnica.

“Cozinho desde os 12 anos e a minha avó foi a melhor cozinheira que conheci. A cozinha dela, no bairro do Rio Vermelho, era meu parque de diversões. Isso me levou a cozinhar”, recorda.