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Nilson Marinho
Publicado em 19 de agosto de 2024 às 05:00
Estar presente nos primeiros dias de vida do filho é fundamental para estreitar laços familiares. A presença do pai também deixa o período pós-parto da mãe mais tranquilo, já que as responsabilidades podem ser compartilhadas entre ambos. Mas se fazer presente nesse processo por mais de cinco dias, atual período da licença-paternidade previstos na Constituição, não é concedido por todas as empresas.
Uma pesquisa revela que se depender deles a intenção é conseguir uma licença-estendida. Conforme a Radar da Parentalidade, realizada pela consultoria Filhos no Currículo e pelo Talenses Group, em parceria com o Movimento Mulher 360, 82% dos pais desejam estar presentes em casa por um período superior a cinco dias. Apenas 11% dos homens entrevistados disseram que concordam com a licença de menos de uma semana.
“O envolvimento do pai nos primeiros meses e, sobretudo, nos primeiros dias de vida de uma criança, é fundamental para desenvolver os aspectos social e emocional do recém-nascido. O envolvimento paterno no período pós-parto contribui para um vínculo afetivo duradouro. Também traz segurança para a mãe, que, nesse momento, precisa de um suporte emocional”, diz a médica pediatra especialista em primeira infância Antônia Vaz.
Ainda conforme a Radar Parentalidade, 41% das mães afirmam que licenças igualitárias são o benefício ideal que deveria ser concedido pelas empresas. A ideia é aprovada por 26% dos pais. Apenas 1% das mulheres ouvidas disseram concordar com os cinco dias. Atualmente, a licença maternidade é de, no mínimo, 120 dias, podendo ser estendida em alguns casos específicos. Durante esse período, o salário é garantido, assim como férias e décimo terceiro salário.
“Sabemos o quanto as mulheres ficam fragilizadas fisicamente e emocionalmente no pós-parto, muitas delas inclusive passam a apresentar quadros depressivos ou outras complicações. As responsabilidades são muitas e o período atual da licença paterna prevista pela Constituição não se faz necessário”, completa a médica pediatra.
Phabio Arruda é pai de um garoto de 4 anos e 11 meses, o Henrique, e do Felipe, um recém-nascido de pouco mais de um mês de vida. Quando foi pai pela primeira vez, apenas pôde estar presente cinco dias com a família. Desta última vez, a atual empresa em que trabalha, a Solar Bahia, concedeu 20 dias de licença.
“Na primeira vez, os cinco dias não foram suficientes, até porque o hospital no qual estive não tirava a certidão de nascimento, então, além de eu estar acompanhando a mãe nesse primeiro momento, quando retornamos para casa, dois dias depois do parto, tive que correr para retirar o documento e providenciar algumas pequenas coisas. Com isso, os cinco dias venceram e eu precisei voltar ao trabalho”, relata Phabio.
Ainda de acordo com ele, os cinco dias foram insuficientes para ter uma conexão mais próxima com o primogênito e também com a esposa que, naquele momento, precisava de uma atenção maior. Com o caçula foi diferente, os 20 dias que esteve com a família foram importantes sobretudo porque a família estava recém-chegada a Salvador. Antes, eles moravam na cidade de Barreiras, no Oeste baiano.
“Há três meses morávamos em outra cidade e eu fui transferido para Salvador. Como não temos rede de apoio, familiares, os 20 dias concedidos de forma remunerada foram de grande importância para ter mais contato direto com o meu filho nesses primeiros dias de vida. Também pude dar apoio a minha esposa nos cuidados com o bebê, com ela e com a casa”, completa o pai.
Neste ano, assim como Phabio, outros 179 funcionários da empresa aderiram ao benefício. De acordo com Luciana Amâncio, gerente regional de Recursos Humanos da Solar Bahia, quase 100% dos pais que ganham a licença paternidade também solicitam a extensão de dias. A companhia concede até 20 dias remunerados, o que vale também para os pais adotivos.
“Com a licença de paternidade estendida, avançamos um passo para incluir os homens nos cuidados rotineiros com crianças desde o seu nascimento, o que é uma maneira eficaz de dividir a carga mental envolvida na educação dos filhos, que fica quase sempre com as mulheres, contribuindo para aumentar ainda mais a desigualdade de gênero”, diz Luciana.
“Com certeza contribui para a retenção e satisfação do nosso time. O colaborador retorna ao trabalho com um maior sentimento de pertencimento a companhia, contribuindo com autoestima desta pessoa tanto como pai, quanto como profissional”, completa a gerente regional de Recursos Humanos.
Ainda conforme a pesquisa, 69% dos homens entendem que a licença-paternidade estendida seria um fator relevante na decisão de um futuro pai na hora de escolher permanecer ou trocar de emprego. Para 91% deles acredita que o benefício estendido ajuda o pai a assumir um papel mais protagonista na criação dos filhos. O levantamento foi feito em julho deste ano com 803 trabalhadores que são pais ou que estavam à espera de filhos.