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Nilson Marinho
Publicado em 26 de agosto de 2024 às 05:00
Há reencontros que são mais do que momentos nostálgicos e que acontecem não por mero acaso. No caso da médica veterinária baiana Ana Gabriela Lima, rever uma amiga foi mais do que uma chance de matar a saudade, mas uma oportunidade de ser apresentada a uma ideia de negócio pioneira.
As duas se conheceram quando eram alunas de um curso técnico em química da Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBA), hoje IFBA, localizada no bairro do Barbalho, em Salvador. Durante o reencontro, a amiga de Ana Gabriela, a executiva Alaíde Barbosa, CEO da Capri Venture Builder, uma corporate venture builder, comentou sobre a possibilidade de alinhar a tecnologia à medicina veterinária para construir um possível negócio.
A ideia pareceu interessante, principalmente porque a médica veterinária já havia percebido que ela própria, assim como seus colegas de profissão, enfrentava dificuldades em atender a todas as solicitações dos tutores de seus pacientes devido à rotina intensa de consultas e cirurgias.
“A minha reclamação era o tempo que eu levava nos aplicativos de troca de mensagens. Não basta apenas atender, nós também somos muito consumidos dando atenção ao cliente”, conta Ana Gabriela.
Naquele momento em que foi apresentada à ideia, a resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que regulamenta a telemedicina na área, estava prestes a ser aprovada. Diante disso, surgiu a oportunidade de começar a formatar um novo empreendimento.
Para executar o plano, Ana Gabriela alinhou-se com a também baiana Lara Judith Martins, que tem experiência em marketing, e com a paulista Nathália Lubini, que possui grande conhecimento no mundo das startups. Juntas, fundaram a primeira startup de telemedicina para pets do Brasil, a Dr. Mep. Quando a resolução foi aprovada, em junho de 2022, o empreendimento já estava pronto para entrar em operação.
A própria Alaíde se tornou uma investidora-anjo, e a Capri Venture ajudou a Dr. Mep no planejamento estratégico, marketing, administração e na construção de uma rede de contatos.
“Para o mercado de médicos veterinários, oferecemos a solução para melhor gestão do tempo, um desafio que afeta o bem-estar e a saúde mental da categoria. A solução reflete a nossa vontade e objetivo de contribuir para o bem-estar de todo esse ecossistema”, completa a empreendedora.
Com a plataforma, o tutor não precisa gastar tempo para chegar até a clínica mais próxima. Quando seu animalzinho necessita de atendimento médico, basta acessar o Dr. Mep pelo computador ou celular, sem a necessidade de baixar aplicativo. No sistema, é possível encontrar mil veterinários de mais de 60 especialidades disponíveis para avaliar seus pacientes 24 horas por dia, sete dias por semana.
Em uma sala virtual, onde a comunicação é criptografada e armazenada na nuvem para garantir segurança e privacidade, o médico veterinário analisa e levanta o histórico do pet, enquanto o tutor pontua as preocupações que o levaram a buscar ajuda.
Caso necessário, os profissionais podem consultar outros especialistas para obter segundas opiniões sobre casos complexos, além de emitir receitas, guias de trânsito e solicitações de exames. Casos de emergência e urgência não são atendidos pela plataforma.
Enfrentar um caminho retilíneo e sem obstáculos não costuma fazer parte do enredo de um negócio pioneiro. Com a Dr. Mep, não foi diferente. Ana Gabriela diz que os desafios foram muitos, sobretudo no primeiro ano de operação.
“Apesar de o Brasil ser um mercado emergente para negócios pet, empreender é desafiador, ainda mais com mulheres à frente, como fundadoras e gestoras. Apenas 4,7% das startups brasileiras foram fundadas só por mulheres, e olha que somos a maioria populacional. Enfrentamos barreiras, mas acreditamos no negócio, na solução e nos benefícios econômicos, sociais e de saúde”, diz.
Para captar profissionais, parceiros e possíveis clientes, o trio se fez presente em eventos do mercado pet e da medicina veterinária pelo Brasil. A princípio, a resistência veio naturalmente por se tratar de uma novidade, mas a médica veterinária afirma que, aos poucos, os profissionais, sobretudo os mais jovens, foram aderindo à plataforma após conhecerem suas vantagens.
“Mesmo com os desafios, eu e minhas sócias, Nathália e Lara, criamos a Dr. Mep para ser acessível, democrática, rentável e sustentável para tutores, pets, profissionais e negócios veterinários. Com o atendimento online, queremos quebrar barreiras geográficas, reduzir custos tanto para veterinários quanto para tutores, e aproximar pais e mães de pets do cuidado preventivo da saúde de seus animais”, comenta.
Um ponto relevante na trajetória da startup foi em 2023, quando as três fundadoras participaram da 8ª temporada do reality show Shark Tank Brasil, programa onde investidores conhecem e dão apoio financeiro a grandes ideias de empreendimentos.
O trio pediu um investimento de R$ 420 mil em troca de 10% da empresa. 35% desse valor seria destinado à área de marketing, o grande gargalo à época, 25% para tecnologia, 20% para o comercial e 10% para bens de capital. A também baiana Monique Evelle, que fazia parte do corpo de investidores do reality show, fez a proposta de investir o valor em troca de 20% da empresa. O negócio foi fechado.
“Foi uma experiência muito desafiadora e positiva. Estávamos preparadas para vender nossa ideia, e o investimento casou com nossos objetivos. Com Monique, alcançamos uma visibilidade muito importante, que nos trouxe excelentes oportunidades de negócio”, completa Ana Gabriela.
Valores estratégicos como faturamento mensal não são divulgados, mas, no primeiro ano de operação, a Dr. Mep valia R$ 2 milhões, tendo em sua base 10 mil clientes. Hoje, com 100 mil usuários e oferecendo soluções de tecnologia B2C, B2B e B2G, a empresa vale R$ 10 milhões.