Alta demanda por cuidadores de idosos no Carnaval faz serviço crescer até 70%

O Carnaval de Salvador não movimenta apenas o turismo e o comércio, mas também aquece o mercado de cuidadores de idosos, que vêem a demanda pelos seus serviços crescer até 70% neste período. Com famílias viajando ou aproveitando a festa, a necessidade de assistência especializada para idosos se torna ainda mais evidente, gerando oportunidades para profissionais da área, mas também desafios de oferta de mão de obra.

Segundo Angelina Oliveira, coordenadora da Ammo Enfermagem, o aumento da procura por cuidadores durante o Carnaval é alto, impulsionado principalmente pela impossibilidade de levar os idosos nas viagens e pela ausência dos cuidadores fixos, que também aproveitam o período para tirar folga.

“O principal motivo para esse crescimento na demanda é a viagem dos tutores. Muitos vão para locais de praia, onde não há condições adequadas para levar os idosos, seja pelas acomodações ou pelo estresse causado pela mudança de rotina. Dependendo da patologia, essa transição pode ser um transtorno para a família e para o idoso”, explica Angelina.

A Ammo Enfermagem possui 250 profissionais cadastrados, sendo 140 ativos, mas, segundo a coordenadora, nem sempre é possível atender a todas as solicitações. “A procura aumenta conforme a festa se aproxima, e em alguns momentos não conseguimos atender a todos. Priorizamos os clientes já cadastrados, mas a demanda acaba sendo muito maior do que a oferta de profissionais disponíveis”, ressalta.

Diferente do que se imagina, a maioria dos clientes que contratam cuidadores durante o Carnaval são famílias locais. Os turistas costumam planejar esse tipo de serviço com mais antecedência, entrando em contato até dois meses antes. Já os moradores da cidade, muitas vezes, buscam cuidadores apenas quando percebem que precisarão de assistência extra, de acordo com Angelina.

O perfil dos idosos que precisam de mais cuidados também se mantém semelhante ao do restante do ano. Idosos acamados, com dificuldades de locomoção ou que fazem uso contínuo de medicação são os que mais necessitam de acompanhamento.

Para Catiuce Alda de Jesus Silva, cuidadora de idosos há 10 anos, essa é uma das épocas do ano em que mais surgem oportunidades de trabalho. “Muitas famílias querem curtir o Carnaval ou viajar e não conseguem cuidar de seus idosos. Então, confiam no nosso trabalho para isso”, afirma.

O serviço de um cuidador vai além de simplesmente estar presente. Ele inclui banho, alimentação, medicação, troca de fraldas, acompanhamento a consultas e passeios. Durante o Carnaval, o trabalho se torna ainda mais desafiador por conta do trânsito e da dificuldade de deslocamento, principalmente em bairros próximos ao circuito da festa.

“Para evitar atrasos e dificuldades, eu saio de casa mais cedo e procuro aceitar plantões próximos à minha localização. Isso facilita a logística e me permite garantir a segurança dos idosos enquanto a família aproveita a festa sem preocupações”, explica Catiuce.

Com o aumento da demanda, a remuneração dos cuidadores também pode sofrer alterações. Segundo a Ammo Enfermagem, os valores variam de acordo com o período contratado, mas a média fica entre R$ 1.600 e R$ 2.000, por mês. Já os cuidadores autônomos podem negociar diárias mais altas, especialmente para idosos que precisam de acompanhamento 24 horas por dia.

“O valor depende do nível de assistência que o idoso precisa. Quem precisa de um cuidador 24 horas por dia acaba pagando mais, porque é um trabalho que exige maior dedicação e comprometimento”, explica Angelina.

Carol Barbosa, 42 anos, atua como cuidadora há 10 anos e percebeu que a procura aumenta nessa época. A diária da profissional, que em dias normais fica em torno de R$ 100, pode triplicar durante a folia. Carol explica que o cálculo depende das necessidades físicas do idoso e da localização da residência, já que bairros próximos ao circuito dificultam a locomoção.

“Sempre sou chamada para trabalhar, seja por um dia ou durante todo o Carnaval. Como sou autônoma, divulgo com antecedência nas redes sociais e evito marcar outros compromissos nesse período. Não tem como não aumentar o valor, até porque tudo fica mais caro na cidade. Se eu atender um idoso que mora na Graça, por exemplo, sei que terei dificuldades para chegar e sair. Tudo isso precisa ser calculado”, diz.