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Editorial
Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 05:00
O desabamento do forro da Igreja e Convento de São Francisco, no Pelourinho, que resultou na morte da turista Giulia Panchoni Righetto e deixou cinco feridos, não foi apenas um acidente inevitável. Foi uma tragédia anunciada, consequência direta do descaso com o patrimônio histórico brasileiro. O que caiu naquele templo não foi somente uma estrutura barroca de valor inestimável, mas também a ilusão de que há um compromisso com a preservação da nossa história. >
Desde 2016, o Ministério Público Federal já cobrava reformas estruturais no local, e uma perícia de 2018 apontou riscos à segurança. O projeto de restauração só saiu do papel no ano passado, e, mesmo assim, o colapso veio antes das obras necessárias. Apenas dois dias antes do desastre, o frei Pedro Júnior Freitas da Silva também alertou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, sobre uma dilatação preocupante no teto da igreja. O aviso veio tarde, mas poderia ter evitado a tragédia. Não foi por falta de conhecimento que essa joia do século 18 ruiu – foi por falta de ação. >
A tragédia não atinge apenas os visitantes e religiosos que frequentam a igreja, mas toda a sociedade. A Igreja de São Francisco é uma das maiores expressões do barroco no Brasil e carrega séculos de arte, cultura e fé. Seu forro desmoronado abrigava pinturas únicas de Frei Jerônimo da Graça, uma preciosidade agora comprometida. Assim como ocorreu no incêndio do Museu Nacional em 2018, perdemos não apenas uma estrutura física, mas parte da nossa memória coletiva.>
A reação imediata das autoridades veio, como sempre, carregada de pesar e promessas de reconstrução. Mas quantos outros alertas precisarão ser ignorados até que de fato se leve a sério a preservação do patrimônio histórico? O Brasil tem o triste histórico de reagir apenas depois que a destruição acontece. Enquanto a negligência continuar a ser a regra, novas tragédias seguirão acontecendo – e não haverá ouro barroco que resista à omissão. Que a queda do forro da Igreja de São Francisco sirva, ao menos, como uma advertência definitiva. Que a morte de Giulia e a dor dos feridos não sejam em vão.>