Parceria entre Bahia e governo federal: realidade ou ilusão?

Para que essa colaboração seja realmente útil, é necessário transcender as barreiras partidárias e focar no interesse público

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Publicado em 14 de junho de 2024 às 05:00

A relação entre os governos estadual e federal tem sido, ao longo dos últimos anos, um tema de bastante discussão. Na Bahia, desde pelo menos a década de 1960, os candidatos a governador têm sido eleitos pregando o discurso do alinhamento entre os níveis de gestão. Em teoria, as parcerias visam beneficiar diretamente a população, com a potencialização de recursos e a otimização de políticas públicas, mas na prática este vínculo entre as administrações federal e estadual tem sido benéfico para o nosso estado?

Na Bahia, há cinco eleições, o Partido dos Trabalhadores tem conquistado o Palácio de Ondina com a defesa do alinhamento, mas obras relevantes que poderiam ser concretizadas com a parceria permanecem no papel. A ponte Salvador-Itaparica é um dos exemplos. Anunciada em 2009 pelo então governador Jaques Wagner, a construção da estrutura é uma promessa que já dura 15 anos. Sendo que neste intervalo de tempo, durante nove anos, o PT comandou tanto os governos estadual quanto federal.

A situação da BR-101 é mais um exemplo para questionarmos se tem valido a pena para a Bahia a relação entre os níveis de gestões. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo de 2021 mostrou que foram os governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, ambos então adversários políticos do governador petista Rui Costa, que mais investiram recursos para melhorar a rodovia no estado. Enquanto a ex-presidente Dilma Rousseff, do PT, destinou R$ 9,5 milhões para a obra na rodovia, Temer e Bolsonaro enviaram R$ 248 milhões e R$ 112 milhões, respectivamente. Importante lembrar que, durante governos federais do Partido dos Trabalhadores, a BR-101 foi duplicada em outros estados, como no Espírito Santo, mas a Bahia foi esquecida.

Mesmo com os apelos de parlamentares da base petista, que pedem intervenção federal, o estado crítico que está a BR-324 na Bahia permanece sendo ignorado pelo governo de Lula. A pergunta que fica é: o estado que deu na eleição de 2022 mais de 70% dos votos válidos ao atual presidente não merecia mais apreço? A Bahia é um estado com desafios históricos em áreas como saúde, educação, segurança pública e infraestrutura, e não há dúvida de que ações coordenadas e eficazes entre governos poderiam promover o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida da sua população.

Outrora as parcerias entre as gestões federal e estadual trouxeram grandes ganhos para a Bahia, a exemplo do Polo Industrial de Camaçari e a Ford. No caso deste último, cabe salientar que a montadora só se instalou em terras baianas após o governo estadual encarar o federal em favor dos interesses do nosso estado. E, neste sentido, surge mais uma questão: será que o governador petista Jerônimo Rodrigues estaria disposto a desafiar o Palácio do Planalto para defender a Bahia? Salvador é uma prova de que o alinhamento não é imperioso para haver avanços. Desde 2013 não há relação partidária entre a prefeitura e a administração do estado, mas as gestões soteropolitanas têm sido bem sucedidas e aprovadas pelos cidadãos da capital.

Diante desses pontos, é evidente que a parceria entre o governo estadual da Bahia e o governo federal precisa ser repensada. Para que essa colaboração seja realmente útil, é necessário transcender as barreiras partidárias e focar no interesse público.

Políticas públicas devem ser planejadas e executadas com base em dados concretos e em um diálogo aberto e contínuo entre todas as partes envolvidas.