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Editorial
Publicado em 22 de novembro de 2024 às 05:44
A iminente posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, marcada para 20 de janeiro de 2025, coloca o Brasil diante de um desafio diplomático que exige cautela e pragmatismo. Em um cenário global já conturbado, qualquer esgarçamento nas relações bilaterais entre Brasil e EUA pode trazer consequências severas para a economia e para a política externa brasileira.
No ano passado, a corrente de comércio - isto é, o total das importações e exportações - entre os dois países ultrapassou US$ 74,8 bilhões. Os EUA foram o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. Além disso, em 2023, 9,5 mil empresas brasileiras exportaram para os Estados Unidos, e o país norte-americano foi o principal destino das manufaturas da nossa nação, conforme um estudo da Amcham. Os números não deixam dúvidas sobre a relevância dos americanos como parceiro estratégico. E, neste sentido, os sinais recentes vindos de Brasília preocupam.
Durante a campanha presidencial estadunidense, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez declarações contundentes contra Trump, ao associá-lo a movimentos extremistas, enquanto manifestou apoio aberto à vice-presidente Kamala Harris. Mais recentemente, as falas polêmicas da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, direcionadas a Elon Musk – que assumirá um papel importante no governo Trump - agravaram o clima tenso.
A condução de Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República, também suscita dúvidas sobre a capacidade do governo de separar ideologia de interesses nacionais. A postura brasileira em relação ao conflito entre Israel e o Hamas, com a suspensão de vendas bilionárias de maquinário para o país israelense, traz um alerta. O próprio ministro da Defesa, José Múcio, admitiu que decisões pautadas por ideologia do governo Lula geram "embaraços diplomáticos" que podem comprometer não apenas setores específicos, mas a credibilidade do Brasil como parceiro confiável.
Evitar atritos desnecessários com os Estados Unidos é essencial não apenas para proteger nossas relações comerciais, mas também para garantir que o Brasil continue atraindo investimentos e expandindo sua presença nos mercados globais. A diplomacia brasileira precisa demonstrar que é capaz de se desvencilhar de discursos inflamados e focar na construção de pontes, mesmo diante de diferenças políticas ou ideológicas. Em momentos como este, o pragmatismo deve ser o guia, e o Brasil não pode arriscar sua posição no jogo global por desavenças evitáveis.