O destino do Centro de Convenções da Bahia

Com o fim da penhora que pesava sobre o imóvel, o que o governo fará para devolver à sociedade baiana o uso de uma área tão nobre e estratégica para Salvador?

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Publicado em 27 de setembro de 2024 às 05:00

Oito anos. Esse é o tempo que o governo do estado da Bahia levou para resolver o imbróglio judicial em torno do antigo Centro de Convenções da Bahia (CCB), no bairro do Stiep.

Durante quase uma década, a estrutura, que já foi um dos principais polos de eventos da capital baiana, ficou paralisada, em ruínas, enquanto a disputa jurídica entre o governo e os ex-funcionários da extinta Bahiatursa (atual Sufotur) travava qualquer solução. Agora, com o fim da penhora que pesava sobre o imóvel, o que o governo fará para devolver à sociedade baiana o uso de uma área tão nobre e estratégica para Salvador?

O processo judicial, encerrado em junho deste ano, retirou o último obstáculo legal para que o estado pudesse vender ou destinar o Centro de Convenções para outro uso. Não é possível, contudo, ignorar o fato de que essa resolução chegou com um atraso que teve impactos profundos. Desde o desabamento parcial em 2016, causado por negligência com a manutenção da estrutura, o Centro de Convenções transformou-se em um símbolo de abandono, deterioração e falta de visão administrativa.

A localização privilegiada, no encontro entre os bairros do Stiep, Costa Azul e Armação, transformou a área em alvo de investimentos privados significativos. Hotéis, restaurantes e empreendimentos comerciais dependiam, em parte, da vitalidade do antigo centro de eventos, que movimentava o turismo de negócios e a economia local.

O colapso do CCB e a demora de oito anos para resolver o litígio judicial criaram um vácuo econômico e social, o que prejudica moradores e empresários que esperam, até hoje, uma solução definitiva do governo estadual.

A questão que se impõe agora é: o que será feito dessa área? A resposta das autoridades até o momento é vaga e decepcionante. A Superintendência de Patrimônio do Estado (Supat) limitou-se a dizer que o equipamento está em “tramitação para regularização junto ao Cartório de Registro de Imóveis”, sem oferecer qualquer plano concreto para o futuro. Essa falta de transparência alimenta a desconfiança de que o governo, mesmo com a questão judicial resolvida, continuará empurrando o problema com a barriga.

O abandono do CCB não é apenas uma questão de degradação física, mas de negligência governamental. O equipamento, que já sediou eventos de relevância nacional e internacional, como o Congresso da ONU em 2010, foi negligenciado apesar de avisos sobre sua deterioração antes mesmo do desabamento.

O governo da Bahia sabia dos problemas estruturais, mas optou por soluções superficiais. Nos últimos anos, o local tornou-se alvo de furtos e abriga criminosos, o que provoca insegurança aos moradores da região, que denunciam trocas de tiros e o uso do espaço como rota de fuga para ladrões.

O antigo Centro de Convenções da Bahia simboliza a falta de planejamento e compromisso das gestões estaduais recentes com o desenvolvimento de Salvador. A cidade, que tem um imenso potencial turístico e econômico, não pode ficar refém de disputas burocráticas e falta de ação governamental.

A população, os empresários e a economia local esperam – e merecem – uma solução rápida e eficiente para um problema que já se arrasta por tempo demais. Agora que a Justiça fez sua parte, é hora de o governo assumir sua responsabilidade e dar um destino digno para o CCB.