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Editorial
Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 05:00
Poucos órgãos no Brasil gozam de tanto respeito quanto o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com quase um século de existência, essa entidade tem sido fundamental no mapeamento econômico e social do país. Na semana passada, o instituto enfatizou um aspecto crítico: a contínua presença da pobreza na Bahia ao longo dos últimos anos.
Os números são preocupantes e revelam uma situação alarmante. De acordo com os dados do IBGE, mais de 1,8 milhão de habitantes da Bahia viviam na extrema pobreza com uma renda mensal inferior a R$ 200 em 2022, enquanto aproximadamente 7,5 milhões estavam abaixo da linha da pobreza – rendimento domiciliar per capita mensal de R$ 637. É inadmissível que a população continue a enfrentar a fome e a miséria, ao passo que os governantes negligenciam suas responsabilidades. Essa realidade contradiz frontalmente o discurso dos líderes petistas, que se apresentam como defensores dos mais necessitados. Apesar de afirmarem que “cuidam de gente”, eles têm falhado absurdamente ao deixar de investir em medidas cruciais que poderiam reduzir drasticamente a desigualdade no estado.
Desde 2019, os governos petistas na Bahia, liderados por Rui Costa e posteriormente por Jerônimo Rodrigues, têm fracassado em investir recursos destinados ao combate à miséria no estado. Rui deixou de aportar quase R$ 490 milhões entre 2019 e 2022, enquanto Jerônimo, eleito governador em 2022 com a promessa de enfrentar a fome com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deixou de injetar R$ 270 milhões no ano passado, conforme dados disponibilizados pelo próprio governo estadual.
Estes recursos estavam disponíveis no Fundo de Combate à Pobreza (Funcep), uma reserva destinada especificamente para iniciativas que visam reduzir as desigualdades sociais. No entanto, apesar da existência dessa verba, os investimentos necessários para mitigar a fome e suas consequências sociais foram postergados ou não realizados. Essa ausência de investimento levanta questionamentos relevantes sobre as prioridades do governo estadual. Em uma região onde a pobreza e a fome ainda são realidades persistentes para muitas pessoas, a falta de alocação de recursos representa um erro gravíssimo da gestão pública. Cabe reforçar, além disso, que fica evidente a contradição entre o discurso político dos governos do PT e a prática administrativa.
Quando confrontado pela imprensa sobre a razão pela qual deixou de aplicar estes valores, Jerônimo Rodrigues evitou dar explicações concretas. Em vez disso, só citou, novamente, ser um parceiro do presidente Lula. A ‘lulodependência’ do governador para explicar seus erros é notável, mas os baianos o elegeram para gerir o estado e agora esperam respostas para os equívocos administrativos. Ainda mais grave do que não aplicar as verbas é a falta de esclarecimentos à população sobre os motivos pelos quais não foram utilizadas.
A sociedade baiana tem o direito de cobrar transparência e prestação de contas por parte de seus representantes eleitos. É fundamental que os recursos disponíveis sejam empregados de maneira eficiente e estratégica para enfrentar os desafios sociais que afetam milhões de pessoas no estado. Afinal, se o dinheiro estava disponível, é preciso entender por que não foi investido de forma apropriada para melhorar as condições de vida da população mais vulnerável.