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Editorial
Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 02:00
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu nesta semana o segundo ano dos eventos em memória dos ataques de 8 de janeiro, um episódio que marcou a democracia brasileira com a invasão e depredação de prédios públicos. Apesar de sua relevância histórica e simbólica, a cerimônia foi esvaziada.
Nem o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, nem os comandantes do Legislativo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, estiveram presentes no ato. No entanto, o que mais chama a atenção não é apenas a ausência de lideranças institucionais, mas a incapacidade do governo em transformar essa data em um marco de união nacional.
Composto majoritariamente por parlamentares alinhados à esquerda, o ato teve mais cara de um evento de governo do que de uma celebração da defesa da democracia brasileira. Entre os presentes estavam nomes como Zeca Dirceu (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ), enquanto figuras de outras correntes políticas não foram vistas ou sequer convidadas a integrar o espaço. Esse cenário não reflete a pluralidade que a democracia exige, mas sim um ambiente de politização e partidarização.
A contradição é evidente. A diversidade, que é tão defendida pelo governo Lula, não pode ser tão-somente de gênero, raça ou classe social. Ela precisa incluir a diversidade de pensamento, de ideias e de perspectivas. Ao limitar a cerimônia a um círculo de aliados, o governo envia uma mensagem de exclusão justamente em um momento em que deveria buscar a ampliação do diálogo com todos os setores da sociedade.
A ausência de chefes de poderes e de lideranças da oposição no evento expõe uma falha deste governo: sua dificuldade em promover a pacificação e o entendimento em uma sociedade ainda profundamente polarizada. Enquanto o presidente Lula promete ser intransigente na defesa da democracia e na punição dos responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro, o ato em si contradiz os princípios democráticos ao não abrir espaço para vozes divergentes.
O simbolismo do 8 de janeiro deveria ser resgatado como um marco de união, e lembrar que a democracia é feita de pluralismo, tolerância e dissenso. A politização do evento esvazia seu potencial de se tornar um ponto de inflexão para a reconciliação nacional. Um governo que se diz defensor da democracia deve fazer mais do que discursos: precisa construir pontes com aqueles que pensam diferente.