A postura hostil do governador

Jerônimo Rodrigues precisa analisar sua postura e entender que os ocupantes de cargos públicos devem aceitar e respeitar o papel da imprensa

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Publicado em 28 de junho de 2024 às 05:00

A postura do governador Jerônimo Rodrigues de atacar a imprensa não é adequada para um ocupante de cargo público. O destempero demonstrado em diversos momentos revela uma dificuldade de lidar com adversidades, algo fundamental para exercer um posto de tamanha relevância. Não há dúvida de que o controle emocional é uma qualidade essencial para liderar.

Em dezembro do ano passado, o governador se incomodou com uma pergunta da jornalista Cíntia Kelly e respondeu de forma descortês.

A função do jornalista é justamente fazer indagações aos nossos representantes, por mais incômodos que sejam. E cabe a eles responder ou não, mas jamais hostilizar o profissional que está apenas cumprindo o seu dever.

A hostilidade demonstrada pelo petista naquela ocasião foi um sinal claro de falta de preparo para enfrentar os questionamentos.

Outro episódio ocorreu em agosto do mesmo ano, quando o governador atacou o programa Profissão Repórter, da TV Globo. A reportagem mostrou que a polícia baiana é a mais violenta do Brasil, e matou quase 1,5 mil pessoas em operações em 2022. 

Em vez de abordar o problema com seriedade, o governador da Bahia preferiu acusar a reportagem de ser “encomendada” para atacar a Polícia Militar, com a alegação de que a intenção era “manchar” a imagem da corporação. Essas acusações infundadas mostram uma falta de compreensão sobre o papel da imprensa em apontar erros nas administrações e promover transparência.

Já em maio do ano passado, Jerônimo Rodrigues se irritou com colunistas do portal UOL. Naquela ocasião, ele citou o modelo chinês de regulação das redes sociais como exemplo ao falar sobre projeto das fake news que tramita no Congresso Nacional. Após os jornalistas discordarem da exemplificação, o petista baiano ficou impaciente e subiu o tom contra os profissionais.

O ataque mais recente aconteceu contra o CORREIO após o jornal noticiar que o governador foi vaiado durante um show de São João na cidade de Amargosa, no Recôncavo baiano. O petista tentou descredibilizar a informação, que foi publicada após confirmação por fontes e comprovada com um vídeo divulgado pela própria emissora do governo, a TVE.

Importante frisar que o princípio básico do jornalismo de ouvir os dois lados da história foi cumprido quando este veículo de comunicação entrou em contato para buscar um posicionamento da Secretaria de Comunicação da gestão estadual, que não respondeu. A investida de Jerônimo Rodrigues só reforça ainda mais sua intolerância às críticas. O CORREIO, entretanto, manterá o compromisso com seus leitores e a sociedade baiana de levar a informação com qualidade e precisão.

Ainda durante sua campanha, o então pré-candidato a governador já demonstrava sinais de destempero. Em março de 2022, ele respondeu rispidamente a uma jornalista durante entrevista à rádio Sociedade ao ser questionado sobre o desempenho da Bahia nos indicadores da educação. Esse comportamento recorrente, cabe frisar, é incompatível com a postura esperada de um homem público.

A imprensa desempenha um papel fundamental para o estado, o país e para a democracia. É através da liberdade de expressão e do trabalho jornalístico que se mantém a transparência e se promove o debate público. O governador Jerônimo Rodrigues precisa analisar sua postura e entender que os ocupantes de cargos públicos devem aceitar e respeitar o papel da imprensa, por mais desconfortáveis que as perguntas possam ser. É necessário demonstrar maturidade e controle emocional para responder de forma adequada às adversidades em vez de atacá-las.