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Editorial
Publicado em 14 de março de 2025 às 05:00
No que poderia ter sido o momento de um afago à classe média, com o lançamento do novo crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu ofender mulheres e nordestinos – dois grupos de eleitores essenciais para ele. Além de se referir ao ministro da Fazenda Fernando Haddad, um dos seus mais fiéis escudeiros, como alguém com pouca habilidade para falar. >
Em menos de 20 minutos de discurso, o presidente atribuiu à beleza de Gleisi Hoffmann sua indicação para ocupar o cargo de ministra das Relações Institucionais, pasta responsável pelo diálogo entre os poderes Executivo e Legislativo; chamou o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), de “cabeçudão do Ceará”; e, por fim elogia “o companheiro Haddad”, apesar de ressaltar que ele “nem sempre é o mais feliz quando pega o microfone” e de ponderar que falta charme ao ministro. >
Ao dar a entender que Gleisi – até então presidente nacional do PT e deputada federal, ex-senadora e ex-ministra-chefe da Casa Civil – está ali por seus atributos físicos, Lula desmerece a história da companheira de partido e coloca em segundo plano ações do próprio governo petista em relação às mulheres. Dois dias antes da gafe, ele indicou, por influência de Gleisi, a segunda mulher para ser ministra do Superior Tribunal Militar, sendo que a primeira também chegou ao cargo em seu primeiro mandato. A ministra contemporizou as declarações do chefe, mas ficou o estrago entre o eleitorado feminino. >
Em outra gafe do dia, o semblante sério de José Guimarães indicava o quanto o político nordestino apreciou ser chamado em público de “cabeçudão do Ceará”. Talvez, a intenção fosse de se referir a ele como alguém muito inteligente, porém a associação com a ideia de que as pessoas que nascem no estado nordestino tenham cabeças grandes também é possível. >
Todos estes ruídos no discurso do presidente surgiram do seu recorrente uso das falas improvisadas. Há menos de um ano, ele comentou uma pesquisa que associava o aumento nos casos de violência doméstica a resultados negativos no futebol, mas ponderou, se o torcedor fosse corinthiano, “tudo bem”. No último mês de janeiro, disse ser amante da Democracia e frisou: “os homens são mais apaixonados por suas amantes que por suas esposas”. >
Por mais atrativo que o improviso possa parecer, ao passar a ideia de proximidade e domínio da situação, ler um discurso pode ser o melhor para o país, principalmente quando uma fala fora de contexto pode causar tantos ruídos. Imediatamente ao lado de Lula no palanque estão Gleisi e o baiano Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que chegou ao governo com a missão de melhorar a imagem do presidente. Para o trabalho funcionar, o ministro precisa ser ouvido.>