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Dois de Julho: em 1997, cortejo homenageou Castro Alves, neto do major Periquitão

Naquele ano, completavam 150 anos do nascimento do poeta, e trechos do poema Ode ao Dois de Julho foram espalhados pela cidade

Publicado em 4 de julho de 2021 às 07:00

 - Atualizado há 2 anos

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Em 1997, cortejo do Dois de Julho homenageou o poeta Castro Alves, neto do comandante do Batalhão dos Periquitos (Foto: Sora Maia/Arquivo CORREIO) Numa época em que uniformes militares eram, geralmente, vermelhos ou azuis, os baianos ousaram: adotaram uma farda com gola e pinhos verde “periquito” e lá foram lutar – e ganhar – a guerra que culminou na expulsão das tropas portuguesas daqui e deu, finalmente, a Independência ao Brasil na Bahia em 2 de julho de 1823. Os portugueses, imbuídos de um “espírito de quinta série”, apelidaram a tropa rival de Batalhão dos Periquitos e ainda tiveram a audácia de chamar o comandante dos soldados – ali incluída Maria Quitéria de Jesus – de Periquitão.

O apelido pejorativo pegou, mas essa história de ser chamado de Periquitão em nada atrapalhou o espírito combativo e de liderança do major Silva Castro, cujo sobrenome lança logo uma pista. Sim, o Periquitão, um dos heróis do Dois de Julho, era o avô de outro herói baiano, este do campo das letras: o poeta Castro Alves que, aliás, também escreveu sobre a Independência. Em julho de 1997, versos da Ode ao Dois de Julho foram impressos e espalhados pelo trajeto do cortejo como parte da decoração da festa.

Naquele ano, o neto do Periquitão foi o grande homenageado do desfile da Independência, já que se completavam 150 anos de seu nascimento: “Por causa disso, a prefeitura decorou as ruas da cidade com panos com trechos do poema ‘Ode ao Dois de Julho’”, dizia um trecho da reportagem do CORREIO publicada em 4 de julho de 1997.“Um dos pontos altos da festa, à tarde, foi justamente na praça do poeta, onde a presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Consuelo Pondé, depositou flores no monumento de Castro Alves”, continuava o texto.O desfile de 1997 foi o de número 174 na história das comemorações pela Independência do Brasil na Bahia. Segundo informações da Polícia Militar, cerca de 5 mil pessoas participaram do ato, que partiu do Largo da Lapinha pela manhã e só se encerrou com a chegada dos caboclos e do cortejo no Campo Grande, à tarde.

Como de costume, os participantes do desfile foram saudados dos casarões antigos da Rua da Soledade, passando pelos Perdões, Boqueirão e Rua Direta do Carmo. Numa das casas, até Castro Alves ‘apareceu’ para acenar ao cortejo: na janela, foi colocada uma estátua do poeta em tamanho real, com o braço entendido em direção à rua.

A casa que levou um convidado especial para a festa ficava no Santo Antônio Além do Carmo e logo se mostrou uma forte concorrente ao concurso de decoração de fachadas. “Mas, os moradores juram que não fizeram nada visando ao prêmio”, dizia um trecho da matéria publicada na época pelo CORREIO.“Todo ano damos um jeito de comprar material para decorar as fachadas. É a tradição e vamos sempre mantê-la no Dois de Julho”, disse, naquele dia, a comerciante e moradora Eliana Vasquez.CORREIO EXIBIU PROGRAMA ESPECIAL SOBRE DOIS DE JULHO; ASSISTAO texto continua após o vídeo

Mas o que é o Dois de Julho? Ali, onde os moradores estão acostumados a decorar as casas de forma a representar a vitória na Guerra de Independência do Brasil na Bahia, de 1823, parece não haver espaço para uma pergunta que, no entanto, segue sendo feita até hoje: mas o que é o Dois de Julho? Ninguém sabia detalhar as batalhas ocorridas na Bahia até 1823, quando finalmente os portugueses foram expulsos e o Brasil se tornou independente - quase um ano após o famoso grito do Ipiranga de 7 de setembro de 1822.

No dia 7 de julho de 1997, vereadores de Salvador votariam um projeto de lei que obrigava o ensino sobre o Dois de Julho na cidade, in loco, aproveitando os monumentos e locais importantes de batalhas. Na edição de 4 de julho daquele ano, o CORREIO mostrou que uma enquete feita entre pessoas que frequentavam o cortejo apontava que a maioria das pessoas só sabia que o Dois de Julho comemorava a Independência da Bahia. Nada mais do que isso.“As pessoas, embora com bandeirinhas do Brasil e fitas verde-e-amarelas, numa demonstração visual de patriotismo, não conhece absolutamente nada sobre o processo de independência, muito menos a respeito dos personagens ligados a ele. Para alguns, inclusive, Joana Angélica é apenas ‘aquela avenida que vai dar na Praça da Piedade’ e Maria Quitéria só existe enquanto nome”, dizia uma das matérias publicadas pelo jornal.Ainda hoje, há muito desconhecimento sobre o que foi a guerra e quem são os personagens marcantes dela. Desde 2018, o ilustrador soteropolitano Daniel Soto resolveu dar sua parcela de contribuição para preencher essa lacuna. Frequentador do Dois de Julho, Daniel conta que uma de suas lutas é tentar expandir a visibilidade do Dois de Julho através das artes visuais. Por isso, fique atento se você passar por algum ponto de Salvador e encontrar ilustrações de Maria Felipa, Maria Quitéria, Bartolomeu Jacaré, Joana Angélica ou do Tambor Soledade. Tambor Soledade é um dos personagens homenageados nos Cartazes Julhienses este ano, de Daniel Soto (Foto: Divulgação) “Eu comecei a reparar que havia poucas representações visuais dos heróis do Dois de Julho circulando pela cidade e isso e chamou a atenção. Eu achava que essa lacuna precisava ser preenchida. Então, por iniciativa própria, eu comecei a fazer e a colar cartazes de heróis da Independência para estar registrando esses personagens nas ruas da cidade para que as pessoas pudessem reconhecer ali personagens da nossa história, do nosso legado”, diz Daniel.Esse ano, Daniel colou 14 lambes do projeto chamado Cartazes Julhienses em diversos pontos da cidade, principalmente ao longo do percurso do cortejo, por meio de uma campanha de financiamento coletivo. Conheça o projeto.