Objeto de arte

O Livro de Artista existe no Brasil em grande quantidade, mas estes não circulam. É enorme a variedade de enfoques e concepções

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  • Cesar Romero

Publicado em 22 de julho de 2024 às 05:00

A caixa de Marcel Duchamp (1887–1968) é considerada a primeira produção deste tipo, datada de 1914.
A caixa de Marcel Duchamp (1887–1968) é considerada a primeira produção deste tipo, datada de 1914. Crédito: divulgação

Os Livros de Artista são produzidos por criadores, na sua maioria, para manuseio direto, assim possibilitando uma aproximação física, tátil e visual com a produção artística. Esta linguagem surgiu no Brasil na década de 1960, porém, nos últimos tempos tem ganhado espaço entre artistas visuais que elegem os mais variados temas para nortear seu trabalho plástico com propostas dinâmicas e descontraídas.

Os Livros de Artista são sempre edições especiais, são espaços de criação, onde se exploram vários tipos de narrativas, para experiências plásticas e outros afins. É de extrema importância o desenho das palavras, as palavras como imagens, as imagens como palavras, com igual relevância poética.

O Livro de Artista pode ser o registro de um processo criativo ou o próprio objeto artístico. A caixa de Marcel Duchamp (1887–1968) é considerada a primeira produção deste tipo, datada de 1914.

O ideal é que possa ser manuseado, ficando marcas do processo de interação. O livro é entendido nele mesmo como uma obra de arte; não são livros com reproduções de obras de artistas. A cada tempo uma nova investigação, que foge aos padrões e técnicas tradicionais. O Livro de Artista é pouco familiar ao grande público e pouco se vê fora do atelier ou em coleções particulares. É uma área fechada nas artes plásticas e são quase inacessíveis.

O Livro de Artista existe no Brasil em grande quantidade, mas não circulam. É enorme a variedade de enfoques e concepções.

Esse processo é muito intimista, pois apresenta não só imagens, riscaduras, mas frases que funcionam como catarses, desabafos, memórias, recuperações.

Muitas vezes, o intimismo é tão profundo que o artista inibe-se em torná-lo público. Revelar-se é tornar-se próximo de si mesmo, com erros e acertos, transgressões ou não. Estes livros não se prendem a padrões de forma ou funcionalidade, são veículos de percepções. Vão de encontro às técnicas de reprodução de massa.

No Brasil, a experiência de Livros de Artista nasce do encontro entre poetas e artistas visuais nos períodos Concreto e Neoconcreto, no final dos anos 50 e início dos 60. Em 30 de setembro de 1947 foi publicado pelas Edições Verve de Paris o livro Jazz de Matisse, uma obra prima que revolucionou o conceito de livro.

Durante a década de 70, tivemos uma explosão de livros-objeto. Diversos artistas brasileiros produziram livros-objeto, como Arthur Barrio, Lygia Clark, Antonio Dias, Waltércio Caldas, Mira Schendel, Delson Uchoa, Augusto de Campos, Julio Plaza, Liuba, Renina Katz e Lygia Pape. Ainda é uma experiência pioneira, por sua raridade e funcionalidade.