Memória e definições

A obra de arte estabelece significações e leva o espectador a um plano contemplativo ao comover-se com as transfigurações, e achar um lugar na memória para armazená-la. Nada pode ser mais discutível que a noção de arte, que ao longo dos séculos desafiam definições. E é exatamente no diálogo e nos contrastes de opiniões que ela se forma como algo mutável, mas sempre possível de defesa. Os espectadores são arrebatados por uma força que lhe é desconhecida quando do contato com a obra de arte, e ao vê-la, consumí-la emocional e racionalmente, se torna uma pessoa melhor. Na definição do maior crítico de todos os tempos, Robert Hughes: “o objetivo maior da arte é dar prazer, é feita antes de tudo para deliciar os olhos e o espírito”.

Robert Hughes faleceu aos 74 anos em 2012 e foi por 30 anos editor e crítico de arte da revista americana Time. Escreveu um livro definitivo sobre Francisco Goya (1749 – 1828), um dos melhores artistas da história da arte. O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar diz que “arte é aquilo que transforma o sofrimento em alegria, da alegria de criar a beleza que é em suma a necessidade de acrescentar ao mundo, que já tem tanta beleza, mais uma coisa bela”. Aristóteles definiu a arte “como uma imitação da realidade”. Proust disse que “a arte é a exacerbação da condição atípica inerente à realidade”.

Kant afirmou que “a arte é uma manifestação que produz uma satisfação desinteressada”. Matisse comentou certa vez: “Arte é a batalha do artista com a linguagem de suas próprias emoções”. Na visão de Todorov: “Arte é a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepções, emoções e ideias”. Fiodor Stenk definiu que “arte é o nome dado ao conjunto de ações que representam o mundo real ou imaginário, tem a visão como fator principal”.

A arte, existe, é palpável, mas não se explica ou define de forma concreta. Mundo e arte são mistérios que se mostram, mas não se revelam de forma definitiva. A quase impossibilidade de definir arte está na sua relação e dependência com a conjuntura histórica e cultural. A definição de arte varia de acordo com a época, a cultura, o sistema de pensamentos e códigos vigentes.

É obvio que arte não é só prazer, deliciar os olhos e o espírito, transformar o sofrimento em alegria, imitação da realidade, satisfação desinteressada, exacerbação da condição atípica da realidade, ordem estética, representação do mundo real ou imaginário. É tudo isso, e também o trágico, o absurdo, a fatalidade, o incomum, a dor, o incompreensível da lógica e ainda mais: o que há por acontecer.