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Cesar Romero
Publicado em 14 de abril de 2025 às 05:00
O artista é um trabalhador como outro qualquer. Apenas lida com um produto peculiar que se realiza no plano sensível. Em meio ao campo do trabalho, o que lhe dá relevo é o produto final e seu poder inventivo no campo da renovação da linguagem artística. >
O tempo e o aprendizado levam à criação de um idioleto, código específico caracterizando o trabalho de um dado artista. Todo artista é autor e ator do seu fazer, ao registrar marcas próprias que envolvem o pensamento na plasticidade da obra trazida ao mundo. Nesse elo entre o pensar e o materializar, o artista transmuta o mundo sob os ângulos visuais. Em sua labuta, transfigurar o mundo empírico e converter a transformação em arte ganham uma fala pessoal ancorada numa iconografia. >
Há um longo processo de descobertas, de experimentação, de ensaio e erro, que requerem perseverança e obstinação da parte do artista. Tudo é trabalho, coerência, lucidez, paciência e alguns interlocutores podem ajudar a abrir caminhos. O que é expresso foi impresso anteriormente em nossa estrutura psíquica. >
O artista é um operário, articulando forma, linha e cor, buscando resolver equações visuais. O estoque das ideações resulta num produto final, que não mais pertence ao obreiro e sim ao público, por mais restrito que seja. A obra, elo de ligação entre o artista e o outro, faz uma aliança de símbolos e de novos significados e articula possibilidades do sentir e do pensar, a partir da mundivisão que o artista imprime ao seu produto finalizado. Picasso é um exemplo.>
Nesse trabalho árduo, ao artista cabe a esperança abarcando a coerência estilística, a atualização, o trabalho continuado, o cuidado com os materiais, cuidado esse que é tão banalizado hoje em nome da “contemporaneidade” e das invencionices, que nem o próprio autor sabe definir. >
A liberdade de criação é irretocável, não se concebe um artista aprisionado às técnicas, escolas ou formas pré-estabelecidas. Tudo deve ser justificável do ponto de vista criativo e sempre deve haver coerência na proposição. Nada acontece por acaso. O inconsciente é soberano. Tudo está imerso em nossas vivências.>
O artista também tem a função de educador, não é só um produtor da arte. E é um engano, ou falta de informação, achar que desenho e pintura não são necessários para os artistas que se intitulam contemporâneos. O mundo é feito de pontos, linhas e cores: uma paisagem, um jardim, um bolo de confeitaria, uma garrafa de cidra, um viaduto, os carros, avenidas, pranchas, instalações etc., formam-se a partir de pontos, linhas e cores. >
E, assim sendo, tudo aquilo que se posiciona no universo real pode ser levado ao plano artístico.>