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Guerreira! Como Salvador enfrentou e superou outras epidemias em 471 anos

No dia do aniversário da capital dos baianos, lembramos como já vencemos outras crises a partir da nossa vocação de cidade-fortaleza

  • D
  • Da Redação

Publicado em 29 de março de 2020 às 06:03

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Havia um antigo ditado na Bahia que dizia: “quem vai para o isolamento, morre”.  A construção da frase, em um sentido bem diferente do proclamado hoje, pulsa na memória de uma cidade marcada por epidemias, miasmas e tantos outros contágios bacterianos, virais e virulentos.

A cena era absolutamente mórbida. Assim que o diagnóstico era dado, um cocheiro pago pelo presidente da província ia até a casa do enfermo buscá-lo. O destino, muitas vezes só de ida, era o Hospital de isolamento da Misericórdia, no bairro de Mont-Serrat, na Cidade Baixa.

Em 26 de novembro de 1908, o estudante de medicina maranhense Arthur Osório Aguiar Pinto foi diagnosticado com peste bubônica. Ele morava na Rua do Fogo, próximo ao Forte São Pedro. Assim escreveu em seu diário, quando foi recolhido:“Ao penetrar no calabouço ambulante, carro destinado à remoção de pestosos, senti logo um mal estar geral, devido às suas péssimas acomodações. Quando os animais magricelos se puseram em marcha, fustigados pelo chicote, (...) comecei então a experimentar a exacerbação de todos os sintomas”.O relato consta na dissertação “A Morte Vigiada” do professor doutor em história Jorge Almeida Uzêda, em mestrado defendido na Universidade Federal da Bahia, em 1992. Aguiar Pinto passou 66 dias internado, mas sobreviveu. A peste bubônica começou no Brasil em Santos, no litoral paulista. Os primeiros registros em Salvador são em 1904, quando, em um só ano, a doença matou 141 pessoas das 207 diagnosticadas. Salvador na era das grandes epidemias, com as casas geminadas e sem tratamento de esgoto (Foto: Reprodução) Aquela, no entanto, era apenas uma das moléstias que competiam para diminuir a expectativa de vida do soteropolitano. A partir de 1850, Salvador viveu a era das grandes epidemias letais. A febre amarela, por exemplo, chegou ao Brasil primeiro na Bahia. E veio pelo mar.

No porto de Salvador atracou o brigue negreiro, vindo de Nova Orleans, nos Estados Unidos, com o curioso nome de “Brazil”. Os tripulantes estavam infectados e os mosquitos locais completaram a corrente de transmissão do ciclo. A doença rapidamente se alastrou pela cidade, deixando um total de 1.410 mortos. Os sinos das igrejas badalavam anunciando cada enterro. Daqui, iniciou-se um surto pelos estados do nordeste, até se espalhar pelo resto do país.

Quando os corpos começaram a se empilhar em quantidades industriais, o presidente da província, o pernambucano Álvaro Tibério de Moncorvo e Lima, ordenou a construção do hospital de isolamento em Mont-Serrat. Este hospital seria o embrião do Instituto Couto Maia – transferido em 2018 para o bairro de Cajazeiras e, hoje, adaptado para receber pacientes com a covid-19.  

Outra doença que dizimou parte da população da cidade foi o cólera. Assim como o coronavírus atualmente, houve uma pandemia (quando a doença está espalhada no mundo todo), com três grandes surtos de infecção.  A terceira delas, iniciada na Índia, chegou em Salvador em 1855. A versão mais difundida é que teria vindo por um navio saído de Belém, capital do Pará.

Na cidade da Bahia, a bactéria encontrou um ambiente perfeito para se proliferar e vitimar milhares – em sua completa maioria, escravizados africanos. Boa parte das casas não tinha esgotamento sanitário e nem água encanada. As fontes de água não tinham proteção e ainda havia os hábitos condenáveis que favoreciam a pestilência.

Um deles, narra Jorge Uzêda, eram os chamados “pombinhos sem asa”. Na falta de uma rede de esgoto eficiente, populares enrolavam as fezes em papéis e atiravam da janela de casa diretos às ruas. As autoridades médicas contestavam tais práticas. O médico Otávio Torres Silva escreveu um relato indignado à época.

“Quantos não são presenteados com os célebres pombinhos sem asas, cuja confecção é assaz conhecida e bastante usual nesta cidade? Quem não vê diariamente o esvaziamento de urinas (...) no meio das ruas e mesmo pelas janelas?”

As primeiras mortes pelo cólera, de acordo com o historiador Onildo Reis David, começaram em 21 de julho de 1855, acometendo dois pescadores de baleia no bairro do Rio Vermelho. Rapidamente o surto saltou da casa das dezenas paras centenas e, tão logo, milhares de defuntos amontoados. Na dissertação “O inimigo invisível”, defendida em 1993, David descreve como, nas cidades do Recôncavo, principalmente Santo Amaro, Cachoeira e Nazaré, a doença se propagou com facilidade.

O historiador Luís Henrique Tavares estima as mortes pelo cólera na Bahia em mais de 25 mil pessoas.  David conta que os corpos eram abandonados nas portas das igrejas, dos cemitérios ou mesmo na rua. Havia o medo do contato com os cadáveres para evitar a transmissão.

Na roleta russa do contágio, neste mesmo período, ainda houve surtos de varíola e febre tifoide. Sem contar a tuberculose, chamada de “o mal do século”, que vitimou pacientes em grandes proporções – entre eles, o grande artista brasileiro da época: Castro Alves, em 1871, aos 24 anos.

Mudança A partir deste combo de enfermidades, já na República, Salvador vai passar por um longo processo de urbanização orientado pela ciência médica.

A medicina urbana trouxe conceitos como isolamento dos enfermos para impedir o contágio, a orientação para que os cemitérios fossem instalados em locais distantes da cidade (impedindo que os familiares enterrassem seus mortos nos quintais); além de deslocar os cuidados não apenas para os indivíduos, mas também para elementos que favorecessem o contágio, como a água, o solo e a água. Além de estimular a prática da higiene. Salvador foi planejada em Portugal para ser uma cidade-fortaleza (Foto: Reprodução) A cidade vai ser reorganizada a partir destes conceitos – muito embora, ainda hoje, falte água em muitos locais periféricos e a rede de esgoto, em pleno século XXI, ainda não seja uma realidade de todos.

Exatamente hoje Salvador completa 471 anos de fundação. São quatro séculos de história de quem enfrenta crises epidemiológicas desde o princípio. Milhares de nativos morreram com a chegada dos portugueses, pois não tinham a proteção de anticorpos suficientes para sobreviver ao contato. Uma cidade se levantou a partir da mortandade colonizadora, se reinventou para criar um povo de alma pujante e, acima de tudo, forte.

Quando Thomé de Souza por aqui chegou, em 1549, Salvador já tinha sido planejada desde Portugal para ser uma cidade-fortaleza. Tal vocação passou para os filhos desta terra.

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O Salvador Unida é uma iniciativa do Jornal CORREIO em parceria com o Sebrae, apoio institucional da Prefeitura de Salvador e apoio do Fecomércio, Sotero Ambiental, Acomac, Salvador Bahia Airport, Fieb, Hapvida, Ademi, Viltalmed, Intermarítima, Claro, Hapvida e Hospital da Bahia.