Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

As Muquiranas: o bloco é dos machões, mas as fantasias são pensadas por gays; entenda

Di Paula, ícone dos anos 1980 e seu substituto Fábio Sande criaram fantasias marcantes

  • Foto do(a) author(a) Osmar Marrom Martins
  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 12:08

Muquiranas como Emília
Muquiranas como Emília Crédito: Claudionor Jr. Arquivo Correio

Pode parecer contraditório, mas na Bahia isso é mais do que normal. Você sabia que o mais famoso bloco de travestidos do Brasil, As Muquiranas, no qual só desfilam homens vestidos de mulher, e por isso é considerado um “bloco de machões”, tem suas fantasias desenhadas por estilistas gays? Entre eles, o mais famoso foi Di Paula, figurinista baiano que fez muito sucesso nos anos 1979 e 1980, quando criou figurinos de concursos de miss e fantasias de luxo para bailes de Carnaval, e festas gays, foi apresentador de televisão e colunista de jornal.

Infelizmente, Di Paula que era muito querido nos deixou no dia 11 de fevereiro de 2014, há exatamente 11 anos. Na época, a diretoria do bloco divulgou uma nota lamentando a morte do estilista que por mais de 20 anos criou as fantasias. "Durante esse período, Di Paula criou fantasias que para sempre ficarão na memória do folião e na história do grupo carnavalesco. Baiana (1991); She-Ha (2009); Gueixa (2011); Afrodite (2013) e Mosqueteiras (2014) - última criação do estilista para o bloco - foram alguns dos temas que encantaram pela beleza e graciosidade das fantasias. Hoje, é um dia de tristeza, para os familiares, amigos e admiradores do estilista, e também para a equipe As Muquiranas que perde um grande amigo e parceiro de longas datas. Mais do que criar fantasias, Di Paula sabia e sentia a essência das Muquiranas e sua trajetória para sempre ficará marcada na história do nosso bloco".

Toda essa história da relação de Di Paula com As Muquiranas está relatada no livro Carnaval de Salvador - Inclusão e Diversidade LGBTQIAPN+ na Folia em 2024 escrito por Marcelo Cerqueira, Presidente do Grupo Gay da Bahia, que será lançado neste semestre. Em conversa com o CORREIO, Marcelo externou seu ponto de vista sobre essa relação quase umbilical entre Di Paula e As Muquiranas. “Di Paula era muito amigo da família Paganeli, desde 1965 quando o bloco saiu pela primeira vez.”

Di Paula
Di Paula Crédito: Paulo Macedo - Arquivo Correio

E para colocar o bloco na rua, a iniciativa foi do também saudoso Lindolfo Araújo de Carvalho, mais conhecido como Charita, com a ajuda de sua mulher, dona Floriza Raimunda Paganneli de Carvalho, sua mãe, dona Aidê, e suas primas Lícia e Leia, para criar e costurar as fantasias, que eram medidas uma a uma, de acordo com cada folião.

Segundo Washington Paganelli, que manteve o legado do bloco junto com seus irmãos e outros integrantes da família, a boneca Emília, as Paquitas, Xuxa, Egípcias e Exaltação a Mangueira marcaram muito a era Di Paula. "Mas nada supera a Boneca Emília, personagem do Sitio do Pica Pau Amarelo do escritor Monteiro Lobato".

Com a morte de Di Paula (que também terá um livro sobre a vida dele a ser lançado pelo jornalista baiano Carlos Borges, que vive nos Estados Unidos) quem assumiu o posto foi outro estilista, Fábio Sande também muito conhecido e conceituado no universo LGB. A chegada de Sande se deu de forma exótica como revelou Marcelo Cerqueira.

“Fã de Di Paula, Fábio Sande foi ao enterro do idolo em sua homenagem: todo vestido de preto. E como ele é muito branco, foi um impacto muito grande na familia Paganneli que viu nele a continuidade do trabalho do profissional do qual eles estavam se despedindo”.

E Fábio reinou durante seis anos fazendo as seguintes fantasias: As Baianas (2015); Space Girl (2016); Gladiadores (2017); Carmem Miranda (2018); Cabaré (2019) e a última, Alice (2020). Dai veio a pandemia e Fábio não mais retornou. Quem desenha as fantasias das Muquiranas agora é a FOR, que também confecciona abadás para outros blocos.

Fábio Sande
Fábio Sande Crédito: Divulgação

Fábio Sande tem um ponto de vista bem pessoal sobre essa relação entre o universo LGBT e as Muquiranas: “Eu desenho as fantasias como se estivesse fazendo para a gente usar. É um figurino feminino exagerado que uma mulher não usaria. Mas, o gay e os homens que se vestem de mulher gostam. É uma espécie de fetiche o fato de o homem hétero se vestir de mulher. E algumas mulheres se excitam em ver homens em trajes femininos”. Em tempo: no Carnaval dos 40 anos do Axé O Bloco As Muquiranas vai desfilar com o tema As Muquiranas e Os Encantos da Bahia.