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Violência política de gênero: uma chaga para a democracia

A misoginia e o machismo são ataques que precisam ser combatidos com veemência

Publicado em 24 de outubro de 2024 às 05:00

A violência política de gênero é uma chaga que continua corroendo o processo democrático no Brasil. Nas eleições deste ano, os casos de violência física e verbal contra mulheres que disputaram cargos eletivos tornaram-se cada vez mais evidentes, revelando uma realidade alarmante: a participação feminina na política continua sendo alvo de ataques brutais, movidos por machismo, misoginia e uma resistência à presença de mulheres nos espaços de poder.

Infelizmente, eu mesma fui vítima desse tipo de violência nas eleições em Morro do Chapéu. Durante o processo eleitoral, tive minha honra atacada, sofri importunação sexual, fui xingada e alvo de ofensas que não eram direcionadas ao meu trabalho, mas sim à minha condição de mulher ocupando uma posição de liderança. A Justiça Eleitoral reconheceu essa violência de gênero que sofri e que, como em tantos outros casos, foi motivada pelo incômodo que minha presença política causa em adversários que não aceitam ver uma mulher em posição de destaque.

Essa violência é uma afronta direta à democracia. Ela tem o objetivo claro de desestimular e desencorajar a participação feminina, criando um ambiente hostil e inóspito para que as mulheres ocupem os espaços de decisão. E, mais grave, contribui para a perpetuação da já alarmante falta de representatividade feminina na política. No Brasil, as mulheres representam mais de 51% do eleitorado, mas ocupam apenas 15% dos cargos eletivos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essa disparidade é reflexo não apenas das barreiras institucionais, mas também da violência estrutural que enfrentamos.

A misoginia e o machismo que impulsionam esses ataques precisam ser combatidos com veemência, não apenas por nós, mulheres que estamos na política, mas por toda a sociedade. É fundamental que a Justiça, o Legislativo e os órgãos de fiscalização deem mais atenção a esses casos. Não podemos aceitar que esse tipo de prática se normalize ou seja tratado como algo menor. Medidas mais duras precisam ser adotadas.

A violência política de gênero não é um ataque isolado à pessoa que a sofre. É um ataque a todas as mulheres, é um ataque à democracia e ao nosso direito de ocupar espaços de poder e decisão. Se não houver uma reação firme e eficaz do sistema de Justiça e das instituições, as mulheres se sentirão cada vez mais desestimuladas a participar da política, e corremos o risco de ver a representatividade feminina, que já é baixa, reduzir ainda mais. A luta contra a violência de gênero na política é de todos aqueles que acreditam em uma sociedade mais justa, igualitária e representativa.

A presença das mulheres na política não pode ser uma exceção, nem algo que incomode ou cause reações violentas. Nossa presença é essencial para construir um país mais democrático, plural e representativo. Vamos continuar lutando para que essa realidade mude e para que as mulheres, em todos os cantos do Brasil, possam exercer seu direito de participar da política sem medo, sem violência e sem serem desrespeitadas.

Juliana Araújo, prefeita reeleita de Morro do Chapéu pelo PDT