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Publicado em 5 de novembro de 2024 às 06:00
A malha ferroviária da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) é uma infraestrutura essencial para o desenvolvimento da Bahia. No entanto, anos de falta de investimentos e negligência levaram essa rede a um estado de quase abandono, comprometendo a sua capacidade de impulsionar a economia baiana.
O potencial econômico da ferrovia é inquestionável. A Bahia, com sua vasta extensão territorial e produção diversificada — que inclui commodities minerais, agrícolas e industriais — depende de uma infraestrutura de transporte eficiente para manter sua competitividade. A ferrovia, com sua capacidade de transportar grandes volumes de carga a longas distâncias de forma mais econômica e sustentável que o transporte rodoviário, deveria ser o modal preferido para o escoamento dessas riquezas. No entanto, o sucateamento da FCA resultou em um círculo vicioso: a falta de investimentos afugentou as cargas e a redução de volumes transportados desincentivou ainda mais novos aportes.
Para evitar que esse erro se repita, é fundamental que o novo contrato estabeleça indicadores e metas regionais/locais, com compromissos estabelecidos de investimentos na malha baiana, eliminando gargalos logísticos e modernizando os trechos mais críticos, como a variante de Cachoeira e São Félix e a variante de Camaçari com acesso ao Porto de Aratu e possivelmente aos outros terminais portuários da Baía de Todos os Santos.
O fato é que a renovação da FCA pode se traduzir em enorme prejuízo à logística ou numa oportunidade de alavancar o desenvolvimento da Bahia. Entendemos que o sucesso do processo depende dos investimentos públicos, seja através de uma PPP, seja por meio de aportes diretos.
O governo federal, em especial, tem a responsabilidade de fomentar o modal ferroviário, destacando-se que a malha baiana da FCA promove a conexão entre as regiões Nordeste e Sudeste, com a possibilidade de conexão com a FIOL, na região de Brumado, e até com a ferrovia Transnordestina, na altura de Juazeiro – Petrolina, ou seja, uma ampla integração ferroviária nacional.
O governo estadual, por sua vez, tem legitimidade para participar ativamente desse processo. A liderança do estado, em colaboração com o setor privado, pode pressionar pela inclusão de obras prioritárias da FCA e influenciar o governo federal a alocar os recursos para a necessária modernização da malha ferroviária estadual, tornando-a atrativa para operadores e usuários.
Em conclusão, a malha ferroviária da FCA tem um potencial gigantesco, mas ele só será plenamente explorado se houver uma combinação de esforços entre a iniciativa privada e os governos federal e estadual. O compromisso com investimentos robustos, com participação de recursos públicos, é a única maneira de garantir que a ferrovia volte a ser um pilar de desenvolvimento econômico e social para a Bahia.
Ricardo Kawabe – Gerente do Observatório da Indústria da FIEB