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Quando o rigor abre portas

Adaptar-se exige mais do que ferramentas e políticas. É um convite para que o agronegócio brasileiro reescreva sua narrativa, abandonando estigmas

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 02:00

O Brasil é um gigante do agronegócio. Líder global na produção e exportação de itens como café, soja, cana-de-açúcar e carne, o setor responde por até 25% do PIB nacional, 40% das exportações totais e emprega um terço da força de trabalho do país. Essa pujança, no entanto, vem sendo desafiada por uma crescente demanda internacional por práticas de rastreabilidade sobre a origem dos produtos.

O recém-anunciado Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) exige que produtos agrícolas e/ou seus derivados importados não estejam associados ao desmatamento. A implementação da norma foi adiada para 2025 (no caso de grandes empresas) e 2026 (pequenas e médias), mas o impacto no agronegócio brasileiro pode ser significativo. Apesar de preocupações sobre custos adicionais e perda de competitividade, essa legislação também pode representar uma oportunidade de projeção do setor.

Adequações às exigências de rastreabilidade podem reforçar a posição do Brasil como um dos líderes na produção mundial de alimentos concomitante ao compromisso de mitigar mudanças climáticas. Nesse sentido, começamos a observar movimentos de algumas cadeias produtivas, a exemplo do cacau. Ferramentas como o Sistema Brasileiro de Rastreabilidade do Cacau (SBRC), que está em desenvolvimento pelo Centro de Inovação do Cacau (CIC) em parceria com a TraceTech, já demonstra caminhos do potencial de adaptação do país. Este sistema, alinhado aos critérios do EUDR, permitirá identificar áreas cultivadas sem desmatamento, promovendo a rastreabilidade de forma precisa, confiável e inédita para o segmento cacaueiro.

Além disso, políticas públicas como o Plano Inova Cacau 2030 e o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas reforçam essa transição. O primeiro busca aumentar a produção sustentável do cacau, reduzindo a necessidade de importação e fortalecendo o país como referência global. O segundo propõe converter até 40 milhões de hectares de pastagens degradadas em áreas produtivas, ampliando a sustentabilidade no setor agropecuário.

Esses esforços são exemplos de como a conformidade com o EUDR pode trazer inovação tecnológica, ampliar mercados e fortalecer a reputação do Brasil no cenário internacional. Mais do que um desafio, a lei é uma oportunidade de reafirmar o agronegócio brasileiro como protagonista em sustentabilidade, garantindo acesso a mercados e contribuindo para a conservação global.

Adaptar-se, porém, exige mais do que ferramentas e políticas. É um convite para que o agronegócio brasileiro reescreva sua narrativa, abandonando estigmas históricos e mostrando que é possível aliar produtividade, inovação e responsabilidade ambiental. Se o rigor do EUDR parece, à primeira vista, um obstáculo, ele também abre portas para um futuro onde o Brasil não seja apenas o celeiro do mundo, mas um exemplo global de como alimentar o planeta sem esgotá-lo.

Ricardo Gomes é gerente de desenvolvimento territorial do Instituto Arapyaú e mestre em Desenvolvimento Regional