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Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 05:00
Praticamente tudo em economia é regido pelo dilema oportunidades versus ameaças. Uma vez superada a ameaça, surgem oportunidades em uma atividade renovada e mais apta para a concorrência. Esse é o caso da atividade portuária da Bahia, notadamente do Porto de Salvador. Salvador é uma cidade que teve origem em um porto, nasceu da atracação de Thomé de Sousa, em 29 de março de 1549, no Porto da Barra, com três naus, duas caravelas e um bergantim, embarcações que trouxeram mais de mil pessoas. Em 1808, Dom João VI decretou a abertura dos Portos às Nações Amigas quando estava em Salvador.
Logicamente, passado tanto tempo, muita coisa mudou no setor portuário. A principal delas foi a revolução causada pelo contêiner, iniciada na década de 1960 e ainda em curso. Com os contêineres, a relação do porto com a cidade mudou radicalmente para melhor. Hoje, até cidades turísticas, como Barcelona, convivem harmonicamente com o porto. O caso de Hamburgo na Alemanha é sui generis: a cidade celebra o aniversário do porto, o Hafengeburtstag. Na Bahia, o terminal de contêineres no Porto de Salvador foi revitalizado e ampliado, com cais de 800 m, acesso diferenciado pela Via Expressa e índices de produtividade muito acima da média brasileira.
No entanto, ventos fortes ameaçadores estão sempre rondando o mundo portuário e eles estão soprando por aqui também. Essa ameaça vem da restrição do canal de acesso ao Porto de Salvador para grandes navios. Desde o final da década de 2000, começaram a operar nas rotas internacionais navios de 366 m, com capacidade de 15.000 Teus e calado de 16 m. Esses navios devem chegar à costa brasileira em breve, por conta da movimentação do Porto de Santos, que se prepara para recebê-los a partir de 2026. No momento, a profundidade do canal de acesso não permite a entrada dessa classe de navios ao Porto de Salvador, e será necessário aprofundá-lo por meio de dragagem.
O Porto de Salvador tem importância estratégica para o Brasil. Sua influência alcança estados do Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, por onde são escoadas diversas mercadorias, como frutas, plásticos, pneus, produtos químicos, equipamentos fotovoltaicos, etc. É a principal ligação do Nordeste com mercados internacionais (especialmente EUA e Europa) e é o maior porto da região em navegação de longo curso. Caso as obras de dragagem não sejam realizadas a tempo, parte das cargas que hoje é movimentada no Porto de Salvador deverá sair por outros portos, colocando em risco a competitividade das indústrias e do agronegócio da região, além de ser um fator inibidor para atração de novos investimentos. Por outro lado, superada essa ameaça, Salvador reúne todas as condições para cumprir o imperativo: ser um hub port.
Carlos Danilo Peres Almeida é economista da Fieb – Federação das Indústrias do Estado da Bahia.