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Publicado em 9 de outubro de 2023 às 00:02
Para não pensarem que tudo não passa de ressentimento, recalque de uma gente que não consegue se impor na sociedade e que por isso ocupa o lugar menor, desempenhando o papel pior. Para não pensarem que “engolimos “ a história que nos foi contada no colégio. Que nem cogitem que acreditamos na abolição da escravatura. Para não haver mal-entendido, que fique bem claro: isto é um manifesto!
Um manifesto de repúdio a um processo de desumanização de um povo que sucumbiu ao expansionismo, europeísmo, capitalismo e tantos outros maléficos “ismos”
Um repúdio à atiude de quem transformou homens livres em escravos, uma condição tão desgraçada quanto irreparável.
Repudiada seja a ação de quem ousou desestruturar um povo, traficando-os aos milhares, como se fora gado. Vida de gado foi a destes, que vieram erguer esta nação brasileira e que, como galardão, receberam o racismo, a falta de oportunidade, a desvalorização.
Quantos trezes de maio teremos que ter para que sejamos libertos de tamanha prisão? Foram-se as senzalas, vieram as celas. É lá que estão as “provas” da antropologia de Lombroso, das teorias de Nina Rodrigues. Ninguém lhes disse que os negros, na África, antes da intervenção do homem branco, tinham um bom conhecimento das ciências e das artes e que utilizaram muito do que conheciam aqui
Repudiada seja essa liberdade desprovida de direitos: homens livres sem casa, trabalho, comida, educação, dignidade; pergunta-se: submetido a tais condições, que povo, raça ou etnia emergiria desse mar de lama no qual os africanos e afro-brasileiros foram submersos?
Não. A escravidão não acabou. Sim, ela persiste. Uma nova roupa a cada cena. Mas, ainda são os mesmos atores, que como os seus antepassados, amargam a realidade da opressão.
Quão grande é o repúdio a quem não agiu com os negros do mesmo modo que agiu com os imigrantes. Teria sido tudo diferente... e mais repudiada seja a atitude do Estado, que decretou leis que boicotavam o acesso dos negros e negras à educação e a sua consequente inserção na sociedade.
Não poderia escapar ao nosso repúdio a atitude de quem deturpou a história desse povo que veio de várias regiões da África e que participou ativamente na construção desse país, mas que é retratado nos livros como mero figurante. Quantos jejes, iorubas, malês e tantos outros povos bantos e sudaneses deram seu suor e seu sangue por essa terra tão fértil e tão hostil para com eles?
Permita-nos, ó grande Fernando Pessoa, dizer que muito deste mar salgado foram lágrimas da África, de uma gente que, como diria o igualmente grande Castro Alves, “ a tíbios passos” caminha em busca da liberdade, de outros trezes de maio.
Adeus, senhores de engenho, feitores, capitães do mato; com novas vestes, em outros capítulos, os grandes burgueses, os capitalistas, as forças repressoras lhes podem substituir.
135 anos se passaram e não seria pessimismo dizer que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Não nas senzalas, mas nas celas, nas favelas.
Quem negaria semelhanças entre o trabalho pago com o salário mínimo e o trabalho escravo? Ora, o mínimo, no máximo, contempla uma alimentação pífia, negligenciando as demais necessidades do ser humano.
E como não poderia faltar em um manifesto, expresso aqui o mais genuíno desejo da minha alma: Abaixo a exclusão! Sem essa de me colocar em situação degradante ou me retratar de forma caricata! Sem essa de lembrar da gente e do meu povo apenas em datas comemorativas!
Repúdio à sexualização de homens e mulheres pretos! No país das mulatas e do Carnaval sempre teve pretos com conhecimento e sabedoria e que muito contribuiu intelectualmente para o desenvolvimento deste país, malgrado ter sido impedido de acessar os mecanismos de educação disponíveis aos euroamericanos!
Repúdio ao Dia do Folclore, onde os pretos aparecem como figuras fantásticas, lendárias. Contudo, não precisa exagerar. Sem essa de piedade! Não somos coitadinhos. Estamos articulados e protegidos por leis. Trazê-las ao plano da eficácia é a solução!
E de lambuja, mostrem a realidade sem fixarem-na em aspectos negativos, acaso não desejem reforçar o racismo. E nesta senda, vale conclamar a todos a se despedirem da antropologia criminal irrefutavelmente racista do Dr. Lombroso, que de forma assombrosa descreveu os criminosos com os traços pertencentes ao nosso povo preto!
Para que o pre-conceito seja cada vez menor! Para que Monteiros Lobatos, Nelsons Rodrigues e outros autores de obras com forte carga racista sejam cada vez menos incidentes. Para que tenhamos cidadãos conscientes da sua história e de seu papel na sociedade e não à margem dela. Para que eles se engajem em um grande projeto, que é o de reverter este tão pernicioso status quo.
Que se multipliquem ações afirmativas, a fim de que sejam diminuídas as estatísticas negativas e multiplicadas ações positivas, para, como resultados, termos o povo preto e seus descendentes, sem medo, sem cotas, oCupando o seu lugar nas diversas áreas do conhecimento.
Neste dia, veremos o sol da liberdade brilhando ainda mais intensamente, resplandecendo sobre novos Castros Alves, Aleijadinhos, Chiquinhas Gonzagas, Abdias do Nascimento, Miltons Santos, Miltons Nascimentos. E, por fim, que o penhor desta tão falada igualdade seja obtido com paz, através de ideais de justiça e isonomia.
REPARAÇÃO JÁ!